Durmo pesado, corpo inteiro cansado de feira e supermercado. A casa respira em silêncio, cada quarto uma marola. No meu, o ventilador gira como um relógio preguiçoso, a cortina dança só quando o vento lembra dela. Eu sonho com prateleira cheia, pacotes alinhados, rótulos fazendo fileira como gente em procissão. No meio do sonho, o celular vibra. Primeiro uma, depois outra. A terceira é toque curto, insistente, que entra na carne. Abro os olhos do jeito que quem dorme abre: sem entender. O quarto é escuro. Tateio a mesa, derrubo um grampo, acho o telefone. Atendo sem ver a tela. — Alô...? — minha voz sai de dentro do travesseiro. — Te acordei. — a voz dele chega rouca, baixa, arranhada na borda — Foi m*l. Sento. O coração demora pra acordar, mas acorda. Eu não vejo, mas reconheço: essa

