O despertador nem chega a tocar. Acordo antes, como sempre, no automático. O corpo já acostumado a viver em alerta, mesmo quando a cama é quente e a mulher ao meu lado parece um anjo deitada. Daniela dorme encolhida, com o rosto meio escondido no travesseiro e o cabelo bagunçado caindo no rosto. Tem uma paz nela que me desmonta mais do que qualquer arma apontada pra minha cara já desmontou. Fico ali alguns segundos, só olhando. O peito dela subindo e descendo devagar, a boca entreaberta, os dedos agarrados no lençol como se tivessem medo de largar. Eu queria poder ficar, enrolar nesse abraço, esquecer do mundo. Mas o mundo não esquece de mim. A tornozeleira no meu pé me lembra a cada passo que eu ainda tô marcado, vigiado, e que a qualquer deslize posso perder tudo. Levanto devagar, tent

