Acordo antes da tranca cantar. Hoje não é dia comum. O teto tem as mesmas três rachaduras, mas eu conto devagar, como quem confere munição. Quarenta anos. Seis e três fechado. A água da pia cai fria, corta o rosto e a preguiça do olho. Passo a lâmina sem pressa, barba baixa, cabelo aparado ontem mesmo pelo parceiro que tem a mão firme com a gilete escondida. — FL, bora. — o plantão aparece no corredor, voz seca de manhã — Videoconferência no primeiro horário. A sala do vídeo é um aquário de concreto. Mesa, duas cadeiras, uma câmera cansada num tripé de metal, microfone que sempre chia. Cheiro de álcool e poeira. A funcionária testa o áudio: "Alô, alô", como se fosse festa de escola. Eu sento e fico quieto, mão espalmada no joelho, pulso solto. Quando a tela acende, primeiro vem o logot

