A areia ainda tá grudada nos nossos pés quando saímos da praia. A cidade começa a mudar de tom com o fim da tarde, aquele dourado queimando os prédios, os carros passando mais devagar, o som do mar ainda ecoando nos ouvidos. Flávio segura minha mão com mais força agora. Não é só carinho. É necessidade.
Ele anda em silêncio por alguns minutos, os olhos mais sérios, mirando a frente como se estivesse preso nos próprios pensamentos. Eu deixo ele quieto. Já aprendi a reconhecer quando ele tá lutando por dentro, entre o homem que tenta ser comigo e o que o mundo obriga ele a ser.
Passamos por uma banca de revista, por um boteco de esquina com samba tocando baixo no rádio, por uma mulher vendendo brigadeiro em pote. Tudo parece comum, cotidiano. Mas eu sinto no ar que algo mudou nele.
— Tá tu
