Mavi
Caverna: amor, tô indo pra boca, mais tarde eu venho pra gente almoçar junto.
Mavi: Vê se não se atrasa, porque você sempre diz que vem almoçar e chega aqui às 15 horas da tarde com a cara mais lavada do mundo.
Caverna: E você nem me liga para me avisar que o almoço está pronto. Olha como as coisas são, Maria Vitória.
Mavi: Não é possível que você não sinta fome, Carlos Eduardo.
Caverna: Te amo, sabia?
Mavi: Eu também te amo.
Caverna: Eu vou chegar na hora e mais tarde eu vou te levar pra dar um rolê daqueles bacana. Pode ter certeza que você vai amar.
Mavi: Prefiro um x-montanha ali da praça mesmo.
Caverna: Então eu te levo na praça para comer e depois te faço de sobremesa - ele falou, me beijando, e saiu com um sorriso largo no rosto. Eu fiquei em casa porque hoje não era dia de plantão, então eu ia aproveitar até a hora do almoço para dormir. Pelo menos foi isso que eu pensei, até os fogos começarem.
Peguei a minha Glock na mão e chamei meu marido no rádio, mas ele não respondeu. Chamei de novo e nada. Achei estranho, então subi, coloquei a minha Glock na cintura e peguei um fuzil. Quando os cu azul sobe, tem que ser assim, armada até os dentes, atividade a mil, senão o caldo engrossa.
Rádio:
Mavi: Alguém sabe por onde o Caverna tá, c@r@lh0?
- Os cu azul cercaram ele lá na rua debaixo, patroa. Tá geral indo pra lá.
Mavi: É nós.
Rádio off.
Fui correndo para a rua debaixo e, quando cheguei lá, quase caí para trás. Meu marido está agonizando no chão e a bala comendo. Fui correndo na direção dele, mas quando me aproximei, um cu azul colocou a arma na minha cabeça e disse:
Siqueira: Se tocar nele, eu te mando para o inferno junto.
Mavi: Ele ainda tá vivo, porr@. Leva ele preso, mas me deixa levá-lo para o hospital, pelo amor de Deus.
Siqueira: É perder a oportunidade de ver esse filho da put@ se engasgar com o próprio sangue até a morte, nunca.
Mirei meu fuzil na cabeça dele, mandando-o sair da frente. Me aproximei do meu marido, ajudando-o a se levantar com muita dificuldade. Comecei a andar com ele em direção ao postinho, quando o desgraçado atirou nas costas dele.
- Eu comecei a gritar muito, mas ninguém conseguia me aproximar para me ajudar. Comecei a atirar na direção do desgraçado, mas ele mandou os policiais recuarem e foi embora junto.
Mavi: Aguenta, por favor. Os vapores estão vindo. Aguenta, por favor. Carlos, não me deixe aqui sozinha. Por favor, não me deixe. Não faz isso comigo, não faz.
Caverna: E... e... e... eu te amo - foi a última coisa que ele falou antes de morrer.
Não, por favor, você prometeu. Prometeu que ia me levar naquela maldita praça. Prometeu que ia voltar para o almoço. Prometeu que ia me fazer feliz. Você não pode me abandonar aqui. Não pode. Acorda, por favor - eu gritei deitada em cima do corpo dele.
Fiquei ali durante horas em cima do corpo do meu marido, chorando, mas ele voltou para mim. Os vapores me levantaram e levaram o corpo dele para o postinho, e o Sub dele foi agitar as coisas para o enterro. Eu estava sem som e sem imagem, sem conseguir acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Tudo, absolutamente tudo, que eu construí com o Carlos acabou em minutos diante dos meus olhos, e eu não consegui fazer nada além de gritar e chorar.
Os vapores me trouxeram para casa e eu m*l conseguia respirar. Era como se uma parte do meu peito tivesse sido arrancada, era como se um corte profundo tivesse sido aberto no meu peito, corte esse que nunca mais se fecharia. Subi as escadas com dificuldade, entrei no nosso quarto e desabei novamente. Ele estava dormindo comigo algumas horas atrás e agora está morto. Por que fizeram isso com ele? Meu marido era um homem bom, era um líder justo para a comunidade e mesmo assim teve esse fim absurdo.
Entrei no banheiro, abri o chuveiro e me sentei no chão chorando. Não sei quanto tempo fiquei ali, naquela mesma posição, até ter forças para sair.
Vaca: E aí, Mavi? - ele falou, me dando um susto.
Mavi: O que você está fazendo no meu quarto? Tá maluco, p***a! Quem te deu permissão para entrar na minha casa?
Ele olhou para o meu rosto e riu durante alguns minutos. Depois, me encarou com ódio e falou:
Vaca: Você tem uma hora para matar o pé do morro. Depois disso, vai pra vala igual o Caverna.
Mavi: Como assim, car@lho?
Vaca: É isso mesmo, pô. Eu vendi o morro pro Terceiro Comando e eles pagaram os cu azul para virem aqui pegar. Eles chegam em uma hora, então se adianta.
Mavi: Então foi você que armou para o Carlos?
Vaca: Fui mesmo, e agora eu sou dono dessa p***a.
Quando ele falou isso, eu surtei, fui com tudo pra cima dele, que me empurrou, me fazendo cair no chão. Eu corri até o meu armário para pegar uma das armas, mas ele destravou o fuzil na hora e disse:
Vaca: Se tu meter a mão em alguma arma, tu morre, entendeu, Mavi?
As lágrimas começaram a rolar dos meus olhos, eu não acredito que o cara que chamava o meu marido de irmão teve coragem de armar para ele.
Mavi: Tu vai me pagar por isso.
Vaca: Eu sinto muito, mas teu marido estava no meu caminho há anos e eu cansei de ser a segunda opção, quando eu posso ser a primeira. Você tem 40 minutos para meter o pé, depois disso eu vou te matar - ele falou saindo da minha casa.
Eu comecei a pegar todo o dinheiro que tinha no cofre e algumas roupas minhas. Eu não confiava naquele p@u no cu, então saí pela mata. Quando cheguei na estrada, chorei durante alguns minutos, porque nem enterrar o meu marido eu consegui.
Eu estava com muita dor e completamente desorientada. Eu não sabia para onde ir nem o que fazer. Foi aí que resolvi acionar a facção.
Rádio
Falcão: Fala, Caverna.
Mavi: Aqui não é o Caverna, é a mulher dele. Os cu azuis invadiram nosso morro e o TCP tomou. Eu estou na estrada sem saber o que fazer. O corpo do meu marido ficou lá dentro. Eles provavelmente vão tacar fogo. Por favor, me ajudem a recuperar o corpo do meu marido. Eu preciso dessa despedida - eu falei chorando.
Falcão: Eu tô mandando a tropa para o seu morro. Me manda a sua localização. Eu vou mandar alguém te tirar daí antes do tiroteio começar.
Mavi: Não, eu quero ficar. Eu vou subir o morro junto com eles e vou matar aquele rato ganancioso que armou pro meu marido.
Rádio off
Eu não esperei a resposta dele. Eu vou subir lá sim, é só vou sair lá de dentro com a cabeça do Vaca nas minhas mãos.