O policial

1367 Words
Perto de escurecer as ruas totalmente pela noite, chego em casa do hospital. Jasper estava na calçada, de moletom e calça jeans ambos na cor preta. Eu amava quando ele estava de uniforme, mas vê-lo despojado com um moletom não tinha preço. Tinha a sensação que tinha ele só pra mim.  Ele estava de braços cruzados. Chequei o relógio de pulso para me certificar que eu não estava tão atrasada. 10 minutos do tempo marcado haviam se passado. Cruzei os dedos pra que ele não estivesse irritado comigo, eu não queria discutir. Não hoje. Finalmente eu paro o carro, ao invés de sair, apenas desço o vidro. Ele veio até mim, colocou seu rosto na janela e sorriu. Eu sabia que tudo ficaria bem naquele momento. — Onde estava? — Indagou.  — No hospital. — Respondi, honestamente.  Ele franziu a testa, provavelmente não entendeu o que eu quis dizer, então passou rapidamente seus olhos no meu corpo inteiro, pensei que havia sido para certificar que eu estava bem. Mas diferente do que previ, ele não quis saber o que eu estava fazendo lá. Respirei aliviada. Ele não entenderia minha obsessão, bom, não que ele não entenderia, mas ele acharia maluquice. E tudo bem, é um pouco doido mesmo, mas eu gosto de seguir meus sentimentos, minha intuição, por mais que na maioria das vezes ela me leve a um lugar não muito bom. Ele deu a volta no carro e entrou, sentando-se no banco do carona, logo em seguida colocou o cinto.  Eu ergui a sobrancelha.  — Vamos comer no carro? — Vamos sair. — Ele afirmou. — Eu dirijo? — Perguntei, achando a situação divertida.  Ele fez que sim e devagarzinho depositou um beijo na minha cabeça. Eu me sentia uma criança ao seu lado, ao mesmo tempo que ele reforçava o tempo inteiro o quanto eu era incrível e me fazia lembrar que eu era capaz de qualquer coisa.  Dou partida no carro e ele me dava as coordenadas. Por fim, chegamos em algum tipo de pousada rústica que eu nunca conheci antes, ela estava coberta de luzes e era um pouco afastada da cidade.  — Como encontrou esse lugar?  Ele pigarreou. — Tenho meus contatos.  Bati meus ombros nos dele para colher mais informações. Eu sabia que alguém importante o havia recomendado.  — Foi o delegado do Departamento. — Admitiu. Eu abri um sorriso. — Quer dizer que vocês estão amigos? — Questionei, empolgada.  — Estragou a minha novidade! Agora não tenho mais nada para contar — brincou.  Jasper é o tipo de pessoa que se sente bem ao agradar todo mundo. Sente prazer em se sentir amado por todas as pessoas, e quando alguém não vai com a sua cara, ou simplesmente não gosta dele, isso o incomoda muito. Foi o que aconteceu entre ele e o delegado do Departamento em que ele trabalha há alguns dias. Ele é recém transferido e decidiu que não iria com a cara do Jasper, então ele passou os dias que se sucederam, na tentativa de reverter a situação, parece que deu certo.  Ele desceu do carro, deu meia volta e abriu a porta para mim. Era engraçado o tanto que ele era romântico. Eu nunca gostei de cafonice,  mas sempre amei as dele.  — Vamos? — Perguntou, ao estender a mão. Eu retribui o gesto e entramos no chalé.  Ao entrarmos, distribuíram chocolate quente na porta para nós dois. Eu percebi o Jasper segurar o riso quando nossos olhares se encontraram. Andamos mais a frente até que uma mulher, aparentemente com seus 50 anos, se aproximou.  — Posso ajudá-los? — Perguntou, gentilmente.  — Hum, claro. Sou o oficial Jasper. Fiz uma reserva por telefone mais cedo.  E de repente parece que a mente da mulher se acendeu. — Oh, claro! — Afirmou, fazendo sinal para uma moça mais nova recolher nossos casacos. — O Delegado Matthews disse que viriam. — Disse? — Jasper indagou surpreso e muito feliz. Ela se virou em busca de algo, então eu me pus de ponta de pé e beijei a bochecha dele.  — Estou muito orgulhosa de você. — Sussurrei no canto do seu ouvido.  Ele sorriu de lado.  A mulher voltou até nós e pediu que a gente a acompanhasse. Quando chegamos no quarto, um rapaz entrou primeiro que nós com um carrinho com vinho e outras comidas. Jasper ficou confuso e ela notou.  — Não se preocupe, o delegado fez questão. — Falou ela. — Qualquer coisa, estamos a disposição.  Eu fiquei de boca aberta, mas não estava surpresa pelo fato de ser ele. Jasper é a pessoa mais amável que eu conheço.  — Como consegue ser tão maravilhoso? — Indaguei. — Sabe a sorte que eu tenho em ter você? Ele me colocou no braço e sorriu. — Sou assim por causa de você.  Naquele instante, eu fiz uma careta. Era óbvio que nada daquilo era verdade. Isso era tudo ele. Eu que me tornei alguém melhor por causa dele e não o contrário.  — O que foi? — Ele indagou, quando notou minha careta.  — Isso não é verdade. — Afirmei.  — É, sim. Depois que eu conheci você muitas coisas voltaram a fazer sentido.  Eu sorri. Não queria discutir depois de ouvir isso sair da sua boca, sabia que tinha muita verdade no que ele disse, pelo menos pra ele, então bastava.  Ele me pôs no chão, me serviu vinho e fez o mesmo consigo. Comemos e bebemos até que cansamos e fomos nos deitar.  — O que fez de bom hoje? — Ele perguntou.  — Consegui alguém para me auxiliar com as coisas da faculdade. Vou ter que pagar, mas mesmo assim, me alivia os ombros saber que tenho menos problemas com que me preocupar.  — Ah, que ótimo! Sabia que você daria um jeito, amor. — Respondeu.  — E você? — Nada, não. Tivemos algumas ocorrências, mas depois disso, não fiz nada. Aproveitei para dormir um pouco e aproveitei para visitar a Margareth. — Como ela está? — Bem, graças a Deus. Ela mandou um beijo para você, perguntou quando vamos visita-la.  — Diga a ela que em breve. Assim que eu ficar um pouco folgada na faculdade, eu prometo. — Disse.  Margareth foi a senhora que cuidou do Jasper na época em que morou no orfanato, uma das poucas pessoas que o tratava bem lá. Ela há 190km da cidade em que vivíamos. Não era tão longe, mas sempre que vamos ela gosta de nos fazer ficar por pelo menos o fim de semana inteiro, o que eu amo, mas não posso me dar esse luxo enquanto tenho tantos trabalhos e responsabilidades.  Ele viu meu ombro contrair, eu estava tensa pensando na minha mãe. Me senti injusta de estar curtindo enquanto ela está sofrendo. Eu queria ligar para ele, entender o que está acontecendo, mas preferi não me meter.  — O que está acontecendo? — Jasper perguntou, colocando a mão nos meus ombros.  — Nada. — Menti.  — Se você não quer falar, eu entendo. Mas não precisa mentir que está bem.  — Minha mãe desconfia que meu pai a esteja traindo. — Admiti e ele arregalou os olhos. — É, eu sei. — Disse, num suspiro.  — E o que você acha? — Eu acho que não é verdade. Confio muito no papai, mas tenho medo de ser decepcionada. Não sei quais foram os motivos que a levaram a pensar isso.  — Posso te dar um conselho? — Claro — Respondi. Jasper é muito sábio, sempre soube lidar bem com as situações.  — Não sofra por antecipação. Esteja lá pela sua mãe, garantindo que ela se sinta segura, e caso seja verdade, e eu espero que não seja, seja a mulher madura por quem me apaixonei.  Uma lágrima correu no meu canto de olho. Ótimo, tudo que eu precisava agora era me emocionar. Duvido que ele tenha me trazido aqui para isso. Mas ele é um príncipe, então sei que não se incomoda.  Tempos depois, Jasper dormiu como um anjo, eu fiquei com a cabeça apoiada no seu peito, praticamente imóvel, não queria despertá-lo. Eu o amava muito. Meu maior medo era de alguma forma magoá-lo, ele merecia ser privado disso. 
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