- Capítulo Três "A Sucumbência"

4020 Words
Luiz decidiu voltar para o condomínio com essas pessoas e abrigá-los em sua casa. Ele estacionou o carro na garagem e desceu do veículo. O condomínio estava praticamente vazio. Das mais de quarenta casas que tinham, a maioria dos moradores foi embora ou estava indo para cidades maiores como Recife/PE, Maceió/AL ou Caruaru/PE. Todas as estações de rádio, alguns canais televisivos (que ainda funcionavam) e outros meios de comunicação aconselhavam que os cidadãos não saíssem de casa, pois a epidemia estava se alastrando e causando, segundo eles, "reações adversas" nas pessoas. Incrível como em menos de 5h a situação piorou bastante. Os conselhos do Ministério da Saúde e da própria OMS não serviram pra nada, pois sempre diziam que estava tudo bem, e na realidade isso só contribuiu para desinformar a sociedade e fazer com que os riscos de contágio fossem ignorados. A maioria dos canais de televisão entrou em colapso, com somente uma programação repetível que passava durante o dia inteiro falando: "Fiquem em suas casas, cuidem das suas famílias, não saiam a não ser se for uma emergência, se o seu vizinho ou alguém próximo apresentar sintomas de contágio, procure um posto de saúde próximo ou ligue para o 192. Brasil: um país para todos!", e quando não era isso, passavam comerciais o tempo inteiro, sem nenhuma programação fixa. A pandemia estava assolando o mundo, pois para fazer a mídia cair era necessário algo muito sério estar acontecendo. As estações de rádio também estavam com problemas, e a internet foi a primeira a sair do ar. — Como é seu nome? — perguntou Isaac à garotinha aterrorizada, que descia do veículo com dificuldades. — Meu nome é Milena Alcântara. Eu tenho dez anos, e meus pais moram aqui em Palmares, perto do centro da cidade! — respondeu Milena, ainda trêmula. — Fique tranquila... eu... eu tentarei localizar seus pais o quanto antes... só não posso prometer que... que eles... — Eu sei o que você quer dizer, não sou i****a! Meus pais podem ter morrido... eu só... só não quero pensar nisso... — disse ela, começando a lacrimejar. — Milena... eu realmente vou tentar encontrar seus pais. Se servir de consolo eu sou um militar da Marinha do Brasil. Farei de tudo para poder saber o que aconteceu com eles pelo seu bem, confia em mim? — Isaac realmente estava pensando em ir à cidade, e isso assustou Luiz. — Você se chama Isaac, não é? Eu não sei se é uma boa ideia, você viu como as coisas estão por lá, está tudo muito perigoso! — comentou ele, apontando para fora e relembrando o nome do militar, que o tinha dito dentro do carro durante a fuga. — Cara... discutiremos isso depois, amanhã talvez. Mas agora precisamos reunir as pessoas daqui e... sei lá... procurar um lugar seguro... eu definitivamente não sei o que fazer! — argumentou Isaac, passando a mão na cabeça. — Bem, primeiro vamos entrar na casa e fazer uma contagem dos suprimentos, depois vocês pensam no próximo passo! — falou Carla Andrade, a mulher que estava com Luiz logo quando tudo começou. — Saibam que são bem-vindos aqui por tempo indefinido! Não se preocupem com nada! — disse o dono da residência, convidando-os a entrar. Isaac agradeceu com um aceno de cabeça e entrou no local, junto com Carla e Milena. Logo depois, Luiz trancou o veículo e seguiu os demais. Ele mostrou cada cômodo da casa para as novas pessoas e levou alguns colchões antigos que tinha no guarda-roupa de seu quarto para o quarto de hóspedes. Isaac e Milena ficaram muito agradecidos pela hospitalidade dele. Carla dormiria no chão do quarto em um dos colchões, Isaac em outro e Milena na cama de solteiro que tinha lá. Depois de definido os dormitórios, Luiz pediu para que Milena e Carla fizessem uma lista dos suprimentos que continham na casa enquanto que ele e Isaac procurariam por mais pessoas dentro do condomínio e também por mais mantimentos. ... — O que você está fazendo nesse fim de mundo? Você é um militar, não é? — perguntou Luiz, caminhando lentamente junto com Isaac pelas ruas do condomínio, batendo nas portas das casas e procurando por pessoas que ainda estavam ali. — Eu estava viajando. Meu destino era Recife, meus pais moram lá. Eu morava em Garanhuns antes de toda essa merda acontecer. Caralho... tudo enlouqueceu em questão de horas! Ainda não consigo acreditar que o governo não fez nada e que os militares não entraram em cena. O que será que está acontecendo mundo afora? Cadê os reforços? Cadê todo mundo? — e ele tinha razão. A merda tinha batido no ventilador muito cedo, em pouco tempo muita coisa tinha acontecido. — Não sei se você percebeu, mas... deve ter sido culpa aquela doença. Eu tenho quase certeza! Toda a mídia mundial falava sobre o Lyssadyceps, e de repente as pessoas começaram a ficar agressivas! A OMS e o nosso governo dizendo direto para nos acalmarmos e olha só no que deu! Aposto que os testes com vacinas e tratamentos falharam... mas porque não disseram mais nada? A única coisa que o rádio diz é: "não saiam de casa e em qualquer sintoma de contágio, procure por um posto de saúde", eu realmente não creio que nosso país foi destruído em tão pouco tempo, acho que devemos esperar algumas semanas pra ver se o exército vai agir ou se seremos resgatados! Enquanto isso creio que o melhor a se fazer é esperar aqui, na minha casa, junto com o máximo de pessoas que encontrarmos. Outra coisa que devemos fazer é procurar suprimentos! Deus me perdoe, mas... se as coisas não melhorarem em poucos dias, teremos que roubar comida dessas casas vazias... — falou ele, com uma expressão séria. — Eu entendo e não vou te julgar, Luiz. Só acho melhor não fazer isso tão cedo. Se essas pessoas não voltarem para as suas casas em dois dias, aí sim teremos uma boa razão para saquear as residências... mas somente levaremos comida e materiais de higiene, nada a mais! Isaac bateu no portão de entrada da terceira casa e alguém respondeu. — ESTOU INDO! Eles se entreolharam surpresos. A porta da frente rangeu e abriu-se rapidamente. — Oh... oi! O que posso fazer por vocês? — perguntou uma mulher, fingindo estar calma. Ela era branca, tinha cabelos longos e pretos como a noite, estatura baixa e magra. Claramente descendente de j*******s, mas não tinha os olhos tão puxados assim. — Olá, é que... nós dois estamos reunindo as pessoas desse condomínio para ter uma conversa sobre o que está acontecendo, além disso eu creio que estaríamos mais seguros em grupo do que separados nessas casas. O que me diz? — Luiz também disfarçava seu nervosismo, porém tentava soar agradável. — O que foi que houve? Reunião de condomínio a essa hora? E outra... Vocês viram o que aconteceu com os canais de televisão? O que realmente está havendo? É verdade os boatos de que os doentes estão agressivos? Eu... ah, desculpem... eu falo muito quando estou nervosa... mas por favor, contem como tudo está! — pediu a mulher, que vestia uma calça jeans preta, uma camisa de botão vermelha e uma sapatilha rosa confortável. A casa em que ela morava era uma das menores do condomínio. Atraente, porém não tão segura, pois o muro era baixo, sem cerca elétrica nem nada. O portão de entrada era cinza escuro, enquanto que a casa em si era da cor caramelo, causando um contraste agradável aos olhos. — Veja só... a cidade atualmente está caótica... eu não sei bem como dizer isso, mas tentarei ser direto e conciso: pessoas doentes estão atacando pessoas normais no meio da rua. Nós acreditamos que aquela doença, Lyssadyceps, está de alguma forma deixando o povo agressivo. Até mesmo a aparência das pessoas que estão atacando uns aos outros está diferente, pois pude ver alguns de perto. Não sabemos muito bem o que está havendo, mas parece que não existe mais exército, nem polícia. Estamos por conta própria. Além disso, eu fui atacado por um deles perto da praça principal da cidade, está realmente perigoso lá fora... e nós não temos a mínima noção de como isso aconteceu tão de repente! — afirmou Isaac, tentando ser o mínimo assustador possível, mas sem sucesso. — Ah meu Deus... Como assim, velho? Eu preciso falar com meus pais! Eles moram em Maceió! Só que a área de nenhum celular está pegando... que merda! — Moça... eu lamento. Todos nós queremos a mesma coisa que você, porém não é possível agora. Por favor, junte-se a nós e vamos pensar em alguma coisa... vamos tentar nos manter seguros por enquanto! — pediu o militar, conseguindo convencê-la após alguns segundos de silêncio. — Sim... você tem razão! O melhor a se fazer nesses momentos é esperar! Se Deus quiser tudo vai voltar ao normal e esses malucos serão internados! — nesse momento Isaac e Luiz se olharam de uma maneira triste, pensando na mesma coisa: que se o que eles viram estava acontecendo também no resto do mundo, então a possibilidade de tudo voltar ao normal era quase nula. — Isaac? Tu leva ela de volta até a minha casa, por favor? Eu vou procurar mais pessoas enquanto isso. Só não se esquece de voltar pra me ajudar! — disse Luiz, dando uma tapinha amigável no ombro do rapaz. — Beleza, volto em um instante, vamos lá... é... como é seu nome mesmo? — Desculpe, eu não sou tão boa com apresentações. Me chamo Amara Nakamura, moro aqui há algum tempo, e sou enfermeira. Trabalho no Hospital Regional da cidade, sou solteira e morava com meus pais antes de me formar e... ah droga... meus pais... como eu queria falar com eles agora... — respondeu ela, controlando-se para não lacrimejar. — Não tire conclusões precipitadas, vamos esperar! Eu tenho certeza que o governo vai tomar alguma atitude quanto a isso! Primeiro vamos reunir todos que moram aqui em um local só e ter uma reunião. Depois a gente vê o que acontece, tudo bem? — falou Isaac, tentando acalmar a moça. -— Sim, sim... obrigada! — agradeceu Amara, enxugando pequenas lágrimas com o punho. — Meu nome é Isaac, qualquer coisa que precisar pode pedir a mim ou ao Luiz Felipe, que é aquele cara que estava comigo. Fique tranquila quanto a isso e vamos. Amara deu um pequeno sorriso e caminhou junto com Isaac de volta para a casa em que estava Carla e Milena. ... As ruas do condomínio eram seguras. O muro ao redor do local era de tijolos e bem rebocado, mas não tão alto quanto deveria ser. O que eles tinham ali era bom, pois em quase nenhum outro canto de Palmares existia um local bem murado e com tantas casas assim. Luiz continuou seu trajeto sozinho, batendo nos portões das residências à procura de novas pessoas. Ele adorava fazer planos. Nesse exato momento já estava pensando no futuro. E se o governo realmente tivesse sucumbido? E se eles tivessem que morar ali e sobreviver dia após dia? Se os infectados invadissem aquele lugar? Isso era bem The Walking Dead, só que pior: os "zumbis" corriam. Simplesmente ele não poderia ficar sem fazer nada, e se sentia na obrigação de formular planos para aumentar a segurança não só de sua casa, mas do condomínio por inteiro. Luiz sabia que quanto mais pessoas conseguisse reunir, mais seguro eles estariam. Na teoria. Pela primeira vez o rapaz conseguia sentir medo e felicidade ao mesmo tempo. Felicidade porque nunca antes tinha visto tantas pessoas juntas na sua casa, e medo porque a ocasião que reuniu essas pessoas era muito perigosa. Ele tinha que se lembrar do que viu no centro da cidade. Luiz sabia lá no fundo que nunca mais as coisas seriam as mesmas. Nunca mais ele iria para o trabalho, nunca mais comeria naquele restaurante, nem sabia quando veria Paulo de novo e muito menos se veria. O medo começou a assolar seus pensamentos, e ele tentou combatê-lo. "Não Luiz... não deixe que isso te enlouqueça, somente faça o combinado e volte para casa!" pensou ele, afastando ideias ruins. Após bater na décima oitava porta, quando já estava quase desistindo, ele obteve resposta. "JÁ VAI!" gritou uma mulher com voz rouca de dentro da casa. Ela abriu a porta devagar e com uma expressão preocupada. — Quem é você? — indagou a senhora de forme rude, aparentando ter uns sessenta anos de idade. A mulher era n***a, com cabelos encaracolados e curtos, acima do peso e muito suor escorria do seu rosto. Não era pra menos, já que fazia muito calor mesmo após anoitecer. — Olá, senhora! Meu nome é Luiz Felipe e estou aqui pra... convidar você e sua família para uma reunião na minha casa sobre os problemas pelos quais estamos passando atualmente! Como eu acho que você já sabe, existe uma doença que está mudando o comportamento das pessoas e as tornando agressivas. A televisão teve o sinal cortado junto com a internet e o rádio só tem a mesma programação. Nós não sabemos de nada que está acontecendo no mundo e... — a mulher o interrompeu bruscamente. — Eu tenho uma ideia do que está acontecendo, porém esse negócio de que as pessoas ficam agressivas creio que sejam somente boatos! Além de tudo, eu preciso de ajuda para meu marido! Ele é hipertenso e está se sentindo m*l desde essa manhã! Só me diga que tem como ajudá-lo que eu irei para onde você quiser! — afirmou ela, sem se importar muito com o que Luiz tinha dito. — Tudo bem, tem uma enfermeira lá. Eu falo com ela para ajudar seu marido! Agora vamos para minha casa antes que escureça por completo! Já são quase seis horas e ninguém sabe quando a energia será cortada! Luiz entrou na pequena casa da senhora e encontrou o marido dela deitado no sofá. Ele era um homem grande e um pouco gordo. Deveria ter uns cinquenta anos de idade. Tinha cabelos e barba grisalhos e definitivamente não estava bem. O homem suava muito e estava com a mão direita sob o peitoral, como quem estava prestes a ter um infarto. — Opa, com licença... Melhor irmos logo para a minha casa! O senhor consegue andar ou prefere que eu traga a enfermeira até aqui? — indagou Luiz, preocupado com ele. — Está dizendo que eu sou o quê? Eu consigo andar sim, seu i****a! Não é por estar passando m*l que não consigo mais andar! Maria... quem é esse rapaz e o que ele faz aqui? — a ignorância do velho assustou Luiz. — Calma lá! Eu estou aqui para ajudar, ou você prefere ter um infarto? Acho que não. Então não se estresse desnecessariamente! Eu vou chamar a Amara até aqui e ela cuidará de você! — Não! Eu prefiro caminhar devagar até lá! Me leve até a doutora, moço! — pediu o homem, levantando do sofá com dificuldades. — Perdoe meu marido, ele viveu a vida inteira no engenho de seu pai e nunca aprendeu os bons modos! Meu nome é Maria Antônia e ele se chama Carlos Nogueira. Agora eu vou trancar as portas e andaremos até sua residência. E senhor... muito obrigado por oferecer ajuda a nós dois! Iremos recompensar como quiser! — agradeceu Maria, com um jeito bondoso. Luiz sorriu timidamente e guiou Carlos e sua esposa até sua casa. Ao chegar lá, encontrou Carla desenhando junto com Milena (o que era uma atitude louvável, pois a menina perdeu tudo e precisava ocupar a mente), Amara escrevendo alguma coisa em um papel e Isaac colocando a sua pistola na parte de trás da calça. — Luiz! Eu já ia procurar por você! Que bom que encontrou mais gente! — disse ele, acenando para o casal. — Eu quero saber onde está a enfermeira que ele falou! Estou prestes a ter um infarto aqui! — ao terminar de falar isso, os olhos de Amara se esbugalharam na direção do homem. — Sou eu! Vou rapidinho lá em casa pegar alguns dos meus apetrechos para analisar sua situação. Não sou uma cardiologista, mas sei muito bem o que fazer nessas situações! — afirmou ela, dando um sorriso meigo. — Só faça isso rápido! Estou prestes a morrer, p***a! Maria aparentava estar envergonhada pela ignorância de seu marido, mas era compreensível ele agir assim, pois o medo de enfartar deveria estar subindo à cabeça dele. Isaac veio até Luiz, caminhando devagar. — Está anoitecendo, acho que deveríamos bater em mais algumas portas e voltar pra cá. Temo que poderíamos encontrar alguns daqueles maníacos dentro dessas casas. E com a noite chegando... o melhor a se fazer é descansar e recomeçar amanhã! — e ele tinha razão, não poderiam ficar dando bobeira por aí, os doentes ao redor do condomínio acabariam escutando e causariam problemas. — Beleza, Isaac. Vamos nos dividir pra ser mais rápido. Você vai pela direita e eu continuo pelas casas à esquerda. Já conferi umas dezoito casas, vou para as próximas e volto aqui. Combinado? — Combinado. Irei conferir mais duas e volto. Boa sorte! — recomendou Isaac. E eles iam precisar. ... Luiz chegou na décima nona casa e deu algumas batidas no portão de entrada. Não obteve nenhuma resposta. Como a energia ainda não tinha caído, aproveitou para tocar o interfone. Quando ele já estava se movendo para a próxima residência, algum objeto de vidro se quebrou dentro da casa, fazendo um leve ruído perceptível. — Olá? Alguém em casa? — chamou ele, sem obter resposta. De repente outro barulho atraiu a atenção de Luiz Felipe: alguém bateu em uma mesa ou estante nos confins da casa. Ele não conseguia enxergar o que estava acontecendo, mas precisava conferir se tinha alguma pessoa lá dentro. Poderia ser uma criança com medo ou até mesmo alguém ferido. O muro cinzento era bastante alto e tinha cerca elétrica. Provavelmente estava ligada e Luiz não queria tentar a sorte tocando naqueles fios. O rapaz tentou girar a maçaneta e para a sua surpresa a porta se abriu. A indecisão pairou sobre sua mente. Entrar ou não entrar? Porém a curiosidade venceu. — Olá? Alguém aí? Eu não sou um ladrão! Somente vim conversar! — afirmou Luiz, em um tom alto o bastante para quem quer que estivesse lá dentro ouvisse. Nenhuma resposta novamente. O rapaz continuou entrando na residência, desarmado e temendo pelo pior. Em filmes de terror, quando alguém fazia isso ou acabava morto, ou tomava um baita susto. "Não desista agora! Não desista agora! Você precisa saber o que tem aqui!" pensava ele incessantemente. Luiz entrou pela porta principal da casa, vendo um longo corredor com duas portas na parede esquerda e uma entrada à direita, que provavelmente daria na sala de estar. Estava tudo muito escuro e outro barulho ecoou de lá de dentro. Agora as mãos dele começaram a tremer. "p**a que pariu, eu vou me arrepender disso!" Luiz Felipe cerrou os punhos e continuou entrando, mesmo contra sua vontade. Ao dobrar à direita, ele encontrou uma sala escura, m*l cheirosa e espaçosa, com dois sofás, uma televisão grande e uma estante de livros. Além disso tudo estava revirado: muita poeira, lixo pelo chão, filmes espalhados, vidros quebrados, cadeiras arrebentadas e entre outros objetos bagunçados. Novamente um som de alguma coisa batendo em madeira ecoou da cozinha, que estava com a porta entreaberta e ficava no final da grande sala. Ele caminhou devagar até o local e empurrou a porta entreaberta com cuidado. — Se... Senhor? — chamou Luiz, ao encontrar um homem alto de costas para ele e encarando a parede. A escuridão atrapalhava demais, só dava para enxergar ali por causa da luz da imensa lua cheia que passava pela única janela de vidro da cozinha. Mas de uma coisa Luiz tinha certeza: ele fez merda ao entrar ali. O homem era um dos infectados, e rosnou ao perceber a presença do sobrevivente ali perto. — p***a! — xingou Luiz, assustando-se ao perceber a situação em que estava. O maníaco, em um movimento ligeiro, pulou em cima da mesa da cozinha e se jogou violentamente contra ele, derrubando-o. O escuro atrapalhava demais, e a única coisa que Luiz fez foi se levantar e correr, porém no meio do caminho da sala até o corredor tinham capas de DVDs espalhados pelo chão. Luiz pisou em algumas capas e escorregou, caindo de rosto no chão. O infectado ganhou tempo o suficiente para ir até ele e tentou segurar sua perna para mordê-lo. — ME SOLTE!!! O sobrevivente deu um soco no rosto do doente, que o fez recuar. Mas rapidamente o louco se recompôs e pulou em cima dele de novo. O monstro estava incontrolável, ele atacava sem parar e acertou vários murros no rosto e costas de Luiz, abrindo um pouco o supercílio dele. Para piorar, o escuro complicava ainda mais a vida do rapaz. O infectado atacava de todos os jeitos e o agredido não sabia o que fazer. Luiz, em um momento de lucidez, pegou um jarro que tinha do lado da estante de livros e acertou em cheio na cabeça do louco. — UGH... UFF... O maníaco recuou com a pancada e o jarro de vidro espatifou-se em vários pedaços. — FILHO DA p**a! — esbravejou o sobrevivente. Luiz aproveitou a brecha que teve e partiu para cima do infectado. Um, dois, três, quatro socos na cabeça do maníaco, e mesmo assim ele não caía, principalmente pelo fato dele ser visivelmente maior e mais forte que Luiz. Em milésimos de segundo o louco conseguiu revidar com um golpe no meio do nariz de Luiz, machucando seriamente e fazendo o sangue descer. O líquido vermelho escorria sem parar, mas a adrenalina fazia com que o homem sentisse nada. Ele só pensava em uma coisa: sobreviver, e se parasse de bater significava o fim de sua vida. Depois de levar vários murros no rosto, o infectado finalmente recuou, agachando-se. O rapaz teve pouco tempo para pensar e decidiu correr de volta para a cozinha. O louco o seguiu desesperadamente. Luiz Felipe entrou na cozinha, mas antes que pudesse reagir, levou um soco violento na boca do estômago e desabou em cima da mesa. O monstro continuou batendo desesperadamente, como alguém que não sabia lutar, porém extremamente agressivo. — ISAAC! — chamou Luiz, procurando por ajuda, mas sem ter resposta. Durante a pancadaria, o sobrevivente rolou para o chão e conseguiu algum tempo para recuperar o fôlego. No exato momento que Luiz caiu, avistou uma faca perto do armário que estava debaixo da pia, somente enxergando-a por ter reluzido à luz da lua. Ele se arrastou até o objeto enquanto que o monstro descontrolado arremessava a mesa para o lado à procura de sua presa. A mão de Luiz alcançou a faca de serra no exato momento em que o infectado chutou suas costas. — AGH... Aquela pancada definitivamente tinha machucado. Quando ele se virou para encarar seu agressor, o maníaco pulou em cima de seu corpo, acreditando que mataria o rapaz. — FILHO DA p**a! — urrou Luiz, ao enfiar a faca com força na barriga do maníaco. A facada feriu gravemente o monstro, fazendo com que ele perdesse todas as suas forças antes de golpear novamente. Luiz se descontrolou e, aproveitando-se da situação, desferiu várias facadas no peito do infectado, derrubando-o no chão. O sobrevivente levantou-se o mais rápido que pôde e mudou a situação daquela luta. O último e fatal golpe atingiu o pescoço do infectado, fazendo a faca entrar até ter de fora somente o cabo de madeira dela. — Merda... eu preciso sair daqui... — falou o rapaz, que estava seriamente machucado. Ele ainda conseguiu se levantar, mas antes que chegasse na entrada do corredor, desabou com tudo no chão. Seus olhos foram se fechando lentamente. O sangue ainda não tinha estancado e sua cabeça latejava de dor. Luiz não tinha mais forças para voltar pra casa. Sua consciência foi se esvaindo e ele desmaiou sem nem perceber.
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