capítulo 42 Continuação

1591 Words

Me aproximei. Devagar. Com o peso de quem já enterrou corpo sem nome e carregou caixão sem alma. Com o cheiro da rua grudado no osso e a mira sempre alerta. Parei tão perto que o café que ela mexia começou a tremer. Mas ela não. Ela ficou ali. Firme. De queixo erguido e olhar teimoso. — “E não esquece de uma coisa, Amara.” — falei, com a voz carregada de faca e cimento. — “Aqui... tu não é nada.” Vi os olhos dela se acenderem. De raiva. De orgulho ferido. De uma coragem que não cabia naquela cozinha pequena. Ela largou a colher dentro da panela e deu um passo à frente. O peito quase encostando no meu. Os olhos cravados nos meus com uma intensidade que fez até o sangue seco nas minhas veias querer correr de novo. — “Então se eu não sou nada…” — ela disse, voz baixa, firme,

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