SILÊNCIO ANTES DA DÍVIDA Narrado por Nilo Tavares Tava na boca. Sentado no meu trono de plástico, encostado na parede descascada, vendo o morro respirar por baixo das pedras. Era cedo ainda. Sol sem coragem. Nuvem engasgada. E eu com o cigarro aceso, o radinho mudo, e a cabeça fervendo igual panela esquecida no fogo. Coroado tava calmo demais pro meu gosto. Calmo daquele jeito que engana. Que parece descanso, mas é só pausa antes da sirene. Cauã veio vindo da viela. Mão na cintura, testa franzida, olho de quem dormiu com o rádio no peito. Parou do meu lado. Ficou em pé, esperando o sinal. Eu só assobiei baixo, sem tirar o cigarro da boca. Ele entendeu. — “Desde ontem eu tô com a pulga na mente, patrão.” — soltou, encarando o horizonte rachado da laje mais alta. — “Fala log

