Ele estava sentado em seu escritório, fumava devagar, os olhos perdidos entre as cinzas que caiam no cinzeiro de vidro grosso, era o chefe do cartel Estrelita, era tempo de reforçar a estrutura do seu grupo.. Ele estava reorganizando alianças, reforçando rotas, blindando sua estrutura — e se preparando para derrubar um inimigo...p Cesáreo Pérez, e cedo ou tarde, um deles cairia.
O telefone apitou..ia ignorar, mas algo o puxou para mensagem, logo uma imagem surgiu— uma criança de cerca de cinco anos, apenas de calcinha, chorando, os cabelos escuros grudados na testa, os olhos assustados, o rosto tão familiar que pareceu um soco no estômago, era a cópia exata da irmã de Barden quando criança.
Abaixo da imagem, a frase:
“Sua filha. Vem buscá-la se for homem.” — Cesáreo Pérez
Barden não precisou de teste, nem confirmação — o sangue falou, e ele ouviu, mesmo sem nunca ter visto a menina, soube que era dele, e aquilo o desestabilizou como nenhuma guerra foi capaz. Se levantou, e desceu as escadas da casa em que estava... não era o seu lugar de morada ou ponto do cartel , não.. era só uma casa de passagem e recebimento de mercadoria...
Um dos homens do cartel ia o acompanhar, mas Barden balançou a cabeça em negação — não havia tempo para estratégia, nem margem para erro, ele entrou no carro e partiu, sozinho, os dedos cerrados no volante, guiado apenas por uma coisa: instinto paterno, não se lembrou que tudo no mundo deles era uma armadilha, ou talvez entendeu, mas era sangue do seu sangue que corria perigo.
Desceu numa estrada deserta, o lugar exalava perigo, mas ele não se importava.
Viu a menina sendo segurada por Cesáreo..
__ Jogue a arma, Barden, ou estouro os miolos dela, largue..
Ele largou a arma no chão, não porque fosse fraco, mas porque, naquele instante, o lado pai falou mais alto que o guerreiro, e se ela fosse ferida, ele jamais teria paz outra vez.
Não teve chance de reagir — o golpe veio rápido, apagou, e quando acordou, estava dentro de um contêiner escuro, abafado, com o tornozelo acorrentado, um dos braços preso.
Mesmo assim, ele conseguiu vestir a menina, puxou uma camiseta, cobriu o corpo dela..
— Quem é você? — ela perguntou, baixinho, sem coragem de encará-lo.
— Sou seu pai. — ele respondeu, a voz rouca, a garganta seca, mas firme — fique perto, alguém virá, eu prometo, ninguém vai ferir você, pequena…
Ele seguiu cuidando da filha, as próximas horas foram com dor e tortura.. Não dormia, e quando fechava os olhos, os abria sofrendo cortes novos, queimaduras, a pele puxando em carne viva, os olhos ardendo de sede, e ainda assim, resistia.
Queriam quebrá-lo, a menina sobre ele, sendo protegida, fazia frio e o corpo de Barden era o que a aquecia.
__ Vamos ver quanta moral tem Barden.. _ um homem de Cesareo disse.
Ele ficou horrizado quando ordenaram que a tocasse.
__ Se o fizer, a dor acaba, se o fizer a tortura para..
Mas isso não, não iam transformá-lo no algoz da própria filha, não iam... não iam conseguir que perdesse a sanidade, que ultrapassasse o último limite.
Barden segurou o que lhe restava de alma, nunca encostaria em uma filha de forma errada, mesmo em febre, mesmo torturado — ela era sagrada, era sua filha, e ninguém tiraria isso dele.
Acreditavam que ele cederia, mas erraram fe.io.
Foi então que os tiros vieram, alguém chegou... como fantasmas cortando o silêncio, os soldados de Ralph Shadow surgiram, invadiram como sombras, seis homens caíram em menos de três minutos.
A porta do contêiner se abriu com um rangido enferrujado, o cheiro de ferrugem e sangue apodrecido encheu o ar. Barden estava lá dentro, caído, respirando com dificuldade, parte do corpo queimado, os olhos pesados, mas vivo.
Quando a luz invadiu o contêiner, ele murmurou, com um fiapo de voz e um sorriso torto:
— Eu sabia que me amava, Ralph… só não sabia que era tanto assim…veio me bsucar, porque sentiu saudade, foi?
Ralph revirou os olhos, o humor ácido saindo junto com a fumaça da respiração tensa.
— Você fed£… e não é pouco…
A menina estava deitada sobre o peito de Barden, agarrada, usando o pai como um escudo humano, tremendo, mas em silêncio, os olhos dela se abriram quando Ralph se aproximou, e então Barden sussurrou, exausto:
— Vê minha filha, Ralph… alimenta… ela comeu pouco…faz frio..
A criança levantou o olhar, a voz saiu num fio:
— Papai…
Ele sorriu. Fraco, quebrado, mas sorriu.
— Agora vai ficar tudo bem… o papai vai fechar os olhos… mas acorda logo… daqui a pouco…
E desmaiou.
Um dos soldados pegou a menina com cuidado, ele mesmo tinha uma filha, não era só um assassino — era pai também. A menina foi levada para o caminhão, ia ser cuidada.
Do lado de fora, Ralph e Adonis, os dois da máfia inglesa cuidaram de Barden — a ferida na barriga estava grave, fizeram uma transfusão ali mesmo, Ralph doou o sangue, Adonis limpou os ferimentos, fez curativos sobre a pele viva, tentando conter a febre.
Barden acordou por poucos segundos, os lábios rachados, a voz quase sumida:
— Minha filha…
— Está bem — Ralph disse — é sua filha mesmo, Barden?
Ele fechou os olhos com força, os punhos trêmulos.
— É… a cópia da minha irmã… usaram ela como isca… mandaram aquela foto, só de calcinha… chorando… porr@, Ralph… isso dói inferno , porr.a
Era a queimadura sendo limpa para não infeccionar..
Ele desmaiou de novo.
— Precisamos partir — disse uma voz grave — tempestade de areia a caminho, duas horas no máximo, se ficarmos, o caminhão pode não resistir, com uma criança a bordo e ele nesse estado, não dá pra arriscar, mat.amos Cesáreo depois.
Amarraram Barden com cintos acolchoados para não cair, ele ainda estava consciente, mas os olhos pesavam, antes de apagar, viu a filha dormindo num canto do caminhão e sorriu, mas logo foi acordado...
Adonis se aproximou com um comprimido forte.
— O que eles queriam, Barden?
Ele segurou o remédio, demorou a responder, a voz veio carregada de tudo:
— Queriam destruir meu grupo, acabar com a Estrelita, queriam a localização do meu galpão… me queimaram pra me fazer desistir, pra tocar nela, acreditaram que eu quebraria… mas erraram…
Encarou o silêncio, e naquele instante, jurou vingança sem precisar dizer uma palavra.
Quem fez aquilo ia pagar. Ia pagar com tudo.
E Barden começaria por ela... Mar Pérez, a esposa de Cesáreo Perez. A esposa trófeu, a bailarina perfeita e com vários títulos, começaria com ele, Cesáreo havia descido baixo, muito baixo ao usar uma criança, e Barden desejava descer também, usaria uma mulher como começo de vingança...
A vingança tinha nome, cheiro e pele. E Barden iria buscá-la, a mulher que Cesáreo carregava ao seu lado com orgulho e um sorriso no rosto.
Era ela que Barden desejava.
Queria faze-la e sofrer e depois seria a ve, de Cesáreo.
Ia queimar o rival