Capítulo Dois — A Execução.

3115 Words
Capítulo Dois — A Execução Ponto de Vista da Narradora: — Você compreende agora o motivo de eu não querer que você ande por aí sozinha? — Danielle, rainha do reino de Arglin, procura as palavras certas enquanto amorosamente penteia os fios cacheados e castanhos do cabelo de sua filha. Entre as diversas tradições presentes no reino, este é o ato mais realizado por uma mãe que preze pela a saúde de sua filha, ainda mais se esta deseja ter muitos netos, uma vez que os moradores do reino acreditavam fielmente que isto traria prenúncios de fertilidade para a moça. — Apesar de o nosso reino aparentemente ser calmo e livre de supostos perigos, o futuro é sempre misterioso. — Danielle continua a sua pronúncia, procurando por as palavras cautelosas ao compreender o espanto ainda presente na expressão de sua filha. — O m*l espreita os nossos movimentos, atento a qualquer passo errado. Os corações carregam segredos escondidos a sete chaves, escondendo a verdadeira intenção do próximo. Nós nunca sabemos quando possamos ser alvos de fatalidades como estas. Por isto, que eu tanto quis te proteger. Apesar da compreensão de sua mãe, ainda em choque pelo ocorrido, Angelina evita pronunciar qualquer palavra, uma vez que ela sente como se o seu raciocínio esteja atordoado demais para que ela consiga formular alguma frase que fará algum sentido. O medo pelo futuro retarda a sua lógica, dificultando um discernimento da realidade que forma o seu presente. Angelina apenas observa o seu reflexo pálido refletido no espelho de sua penteadeira enquanto ela segura firmemente o pingente em formato de infinito do colar delicado em volta de seu pescoço. O espanto ainda se faz presente em sua expressão, parecendo que esta viu um fantasma, e bem que ela queria que apenas isto fosse, mas nas cenas que se repetem em sua memória se possui uma vida sendo ceifada em seu último suspiro, diante de seus próprios olhos, sem censura alguma. Em seus pensamentos, o reino de Arglin era repleto de respeito e cumplicidade, com isto ela nunca tinha escutado falar sobre qualquer desentendimento entre os cidadãos. Por isto, ela não entende como, tão repentinamente, pode surgir uma enorme maldade. E o que a deixa ainda mais confusa, é que quando ela finalmente encontra o garoto de seu misterioso pesadelo, ele não parece conter o mesmo coração bondoso que nas sensações que a passava em seus sonhos. Ela se questiona ainda mais, por qual o motivo, ela teria sonhado com alguém de semelhança tão inquestionável daquele rapaz. Diante de tamanha frustração, ela nem ao menos poderá o questionar sobre tudo o que ocorre, apesar de que nem se ela tivesse a chance de conversar com ele, ela não gostaria de se aproximar de alguém tão r**m capaz de um ato tão c***l como o por ele cometido. Tão semelhantes, mas que a causam sensações completamente opostas. — O que os nossos queridos e grandes Anjos Guardiões nos diriam, sabendo da terrível tragédia o que o nosso reino presenciou hoje ... — A sua mãe volta a dizer, a despertando novamente de seus altos pensamentos, ao suspirar pesadamente em decepção. — Os grandes ensinamentos sobre o amor deveriam permanecer vivos ... Mas de qualquer forma, um dia, você se juntará a eles, e se tornará também, uma grande Anjo Guardiã, reencarnando em sequências salvadoras. Mas nunca se esqueça de suas origens, não esqueça do que eu te ensinei. Danielle, assim como a maioria das cidadãs do reino, acreditava fielmente na corrente cheia de costumes religiosos sobre os Anjos Guardiões. E desde o momento em que engravidou de Angelina, assim como o amor de cada mãe, sentia que a sua filha seria especial neste mundo. Mas muito mais que isto, ela sabia que o espírito aventureiro de Angelina ainda a levaria a vivenciar muitas aventuras reais. — Seria uma ótima aventura ... — Angelina, enfim se pronuncia pela primeira vez na conversa. Ao imaginar o que a sua mãe lhe conta, faz com que o seu espírito aventureiro se remexa sob a sua alma em empolgação, porém, ela o contém o alertando que momentos terríveis como o anterior podem ser mais presentes na vida daquele que decide correr riscos em sua caminhada. E isto é algo que ela julga não estar pronta para enfrentar. — Somente se vira um anjo guardião, aquele a quem além de ter o chamado, prova ter uma coragem tão brava a passar pela aventura mais inesperada e perigosa de todos os tempos. Eu confesso que tudo o que eu queria era viver estas aventuras e dar um significado maior para a minha vida. Mas a situação anterior me mostrou que eu não tenho coragem para enfrentar qualquer violência, muito menos coragem de enfrentar as tão terríveis dores emocionais. Eu nunca imaginei que depois disto, eu optaria pela tranquilidade e pela segurança, afinal, eu agora finalmente entendo o motivo de tanto a senhora querer impedir que eu saia do castelo. É apenas uma questão de p******o. — Mas você viverá. Uma grande aventura, Angelina. — A sua mãe deixa um pouco da empolgação pelo futuro grandioso que ela planejou para a filha dominar o seu coração ao dizer em alegria. — No momento certo, quando você estiver mais adulta e dona de si, aí sim viverá uma aventura enorme e conhecerá o verdadeiro significado dos ensinamentos deixados por os nossos Anjos. Verás o que eu te digo, filha. — Ela dá uma pausa, contendo a sua empolgação. — Porém, agora, ainda és muito nova, e você precisa estar sob a segurança adequada. Angelina suspira pesadamente diante de um grande questionamento entre as suas personalidades. Teria ela a força e a coragem devida para conseguir passar por as situações ainda mais temerosas do que a que foi presenciada hoje? Ela encara as suas mãos suadas e ainda tremendo, diante da ansiedade que insiste em permanecer e agravar em seu organismo desde o momento que presenciou a violência. Certamente, o seu organismo a afirma que ela não é uma aventureira brava como imaginava ser. As aventuras da vida real possuem um grau muito mais dificultoso do que sequer ela já poderia ter pensado. A sua frustração a consome em uma decepção pela realidade. — Agora, vá dormir pois temos um grande dia amanhã. — Danielle pronuncia a sua fala gentilmente ao terminar de pentear os sedosos fios cacheados do cabelo de sua filha. — Uma grande execução, a senhora quis dizer, não é mesmo? — Angelina balbucia franzindo o seu cenho em total desgosto pela situação, e balançando a sua cabeça negativamente ao imaginar que provavelmente esta seria a sentença final do assassino de hoje. Ele cometeu uma extrema maldade, estaria certo em puni-lo da mesma forma? Este questionamento não cabia a ela, mas sim aos nobres da corte que no mesmo instante se reúnem para definir as consequências que o c***l ato destinou ao rapaz. Danielle finge não escutar o murmuro da filha, intencionando não entrar no mesmo questionamento novamente. Mas, de uma certa forma, ela também não está contente com a situação que se é posta, mas apesar de ser a rainha, o rei não acataria bem o que ela dirá. O seu posicionamento contrário seria muito para a época em que vivem. Angelina se guia a sua cama extremamente grande com um comprimento para caber mais dez de sua mesma espessura, além de conter as diversas cobertas grossas e extremamente macias e confortáveis. A sua mãe se senta ao seu lado na cama, terminando de embrulhar a filha em um gesto carinhoso. O seu toque delicado no rosto de sua filha em um carinho singelo, acompanha um olhar confortante. Apesar de saber da extrema confusão e revolta que a situação possa ter causado no vilarejo, ela opta por passar a tranquilidade, aplicando com todas as forças o seu controle emocional. Angelina se admira da calmaria de sua mãe, que além de ser um porto de conforto e segurança para ela, ainda transborda a paz com o seu jeito delicado e gentil apesar das dificuldades. — Não se entristeça mais, lembre-se que o sol vai raiar sob a escuridão. — Danielle cantarola em uma voz suave e tranquila, diante da calma canção que acalenta o seu coração. — Desafios são necessários para moldar a força interior. Não temas mais e persista firme sempre. Expanda a luz de seu espirito, e incendeie as trevas ao redor. Restaure a mostarda de amor presente nos corações. Acredite e tenha fé. Renasça esta fé no mundo. A canção passou de gerações em gerações, o que a torna ainda mais especial para os seus corações. A rainha se lembra bem de quando a sua mãe cantarolava baixinho em seus ouvidos até que ela caia em um sonho confortante. Ao recantar a canção, o seu coração se enche de uma nostalgia mágica e revigorante, enquanto algo a diz que esta canção um dia terá um significado ainda maior. Ela cogita que talvez esta possa se tratar de algum tipo de profecia, ou uma cura para a maldade ainda presente no mundo. Ao perceber o cansaço nas pálpebras de sua filha, a rainha distribui um demorado beijo de boa noite na testa de sua filha e assim a deixa para o seu descanso noturno. É verdade, que amanhã provavelmente terá uma longa execução, mas acima de tudo, todos devem cuidar de suas saúdes emocionais, para ao menos estarem recuperados e firmes para enfrentar o que ainda presenciarão. Apesar do cansaço presente, Angelina rola de um lado ao outro em suas confortáveis cobertas. Ao estar sozinha consigo mesma, a sua mente insiste em se agitar, impedindo que ela consiga pegar num sono. As terríveis recordações do ocorrido, bem como as conhecidas íris esverdeadas se repetem em sua mente, insistindo em um tormento contínuo. ... O céu, em tonalidades de um cinza claro, porém, nublado, com a ausência de qualquer pássaro ou nuvens, não traz as boas notícias nesta manhã. Terrivelmente, uma execução está prestes a acontecer, o que traz as pesadas sensações ruins aos corações de quem ainda se comovem com o ocorrido. O crime cometido não deve ficar impune, mas o coração de Angelina se inquieta ao saber que naquela manhã ela será parte de uma decisão que o seu coração não compactua. Ela é arrumada com as vestes extremamente elegantes, como parte das tradições, simplesmente para presenciar a vida de outra pessoa ser ceifada bruscamente de sua posse. O seu estômago embrulha com a sensação r**m, evitando até mesmo que ela tome o café da manhã. O seu coração não se agrada de nenhum tipo de violência, nem sob a tal vingança. A antiga forca que há tempos pertencia meramente parte da decoração assustadora presente na praça, enfim, hoje teria uma finalidade. A corda grossa e descascada foi substituída por uma nova, agora propícia a aguentar o peso corporal do rapaz condenado. O ceifador, responsável real a puxar a alavanca que abrirá o chão abaixo do enforcado, já se prepara para realizar algo banal que até mesmo ele julgou que nunca aconteceria no vilarejo. Enquanto isto, em mesmo local, um chefe religioso se benze com as suas leituras sagradas, se preparando para pedir clemência pela alma do condenado. Uma plateia de plebeus se forma ao redor, desejando sedentamente que a justiça seja cumprida. E ali o condenado pagaria com o objeto principal que roubou da suposta inocente aldeã, a sua vida. Os julgadores ocupam cada um o seu trono. O rei e a rainha, são detentores de um poder absoluto, detém a palavra final, apesar desta está em peso pela palavra do rei. E pela primeira vez, a sua filha mais nova ocupa o trono seguinte, diante dos olhares da população curiosa. Porém, esta detém de lenços cobrindo o seu rosto, na permanência da discrição de suas identidades secretas. Enquanto a filha mais velha do casal não pode comparecer, por esta ser casada com um príncipe de um reino distante. Nobres estão à direita, calados, mas em ríspidas expressões sérias, enquanto observam com muita atenção todo o processo rigoroso, analisando e validando a cada etapa realizada. Ao contrário destes, Angelina está apreensiva e nervosa. Estranhamente, ela sente o velho calafrio r**m subir por sua espinha e um aperto no peito a sufocar. Ela só queria fugir da cena tensa presente, mas sabia que não podia. Ela é obrigada a cumprir com as regras de seus ancestrais, as quais eram detentoras de clareza ao impor que a presença da família real era necessária para dar validade ao ato, sob pena de sérios presságios ao reino. No momento, ela julgou que a sua irmã tinha sorte de não precisar comparecer devido à distância. Afinal, ser obrigada a presenciar o show de horror que estava preste a acontecer era de longe uma das piores coisas que ela teria que realizar. Todo o povoado estava presente, afinal os divulgadores de informação fizeram bem o seu trabalho em anunciar a quatro cantos sobre a primeira execução em séculos. O povo clama por justiça tão rigorosamente que nem se importam em a conseguir através de outra morte. Mas o que mais deixa Angelina angustiada é que ninguém o questionou ou procurou investigar sobre o motivo que levou o assassino a cometer tal fatalidade. Todos apenas querem e imploram por a sua morte, mesmo sem saber o real motivo. Os diversos pares de olhos fervem em raiva e indignação por seu ato, e de suas bocas diversas palavras de baixo calão lhe agridem. Porém, ao contrário do que eu poderia imaginar, o rapaz está cooperando com o processo. Este está com os pulsos amarrados, e uma corda resistente se traça envolta de seu pescoço. Mas apesar de estar à frente de sua morte, a sua expressão é calma e tranquila. Ele engole ruidosamente em seco exclusivamente pelo aperto da corda pressionando fortemente a sua garganta. Mas há uma ausência do seu nervosismo, permanecendo firme em sua escolha pelo ato. Angelina se pergunta como ele consegue manter a calma em meio a uma situação tão pavorosa como esta, em que todos estão desejando friamente a sua morte. Ela conclui que se estivesse em seu lugar, ao mínimo ela certamente estaria aos prantos em um choro compulsivo. — Estão todos aqui reunidos para o julgamento deste homem que desonrou os ensinamentos dos nossos grandes anjos guardiões. — O rei de Arglin começou o seu discurso, se levantando de seu trono e fazendo todos a sua volta se calarem para assistirem com atenção ao show de horror desta execução que se inicia. — Todos viram quando ele ceifou impiedosamente a vida de uma inocente aldeã. Sendo assim, não há o que contestar para a sua autoria e materialidade, bem como a penalidade que ele merece. Neste momento, muitos aldeãos gritam em um coro perfeito "Morte!". O calafrio r**m ganha ainda mais a sua intensidade no organismo de Angelina, que entendia a revolta do povo, porém, não compreendia como em tão pouco tempo pessoas tão boas agora estão com sangue em seus olhos. A maldade do rapaz teria contaminado o povoado, então, ela cogita. — Sem mais formalidades. — O rei diz em um tom que denuncia a evidencia de que ele já está convencido o suficiente sobre a execução ao rapaz. Não que ele precisasse que alguém o contrarie, entretanto ainda sim ele se importa com o que seu povo pensa, e se sente satisfeito ao notar que compartilham do mesmo desejo. Sem ter muitas normas que regem a pequena sociedade, as regras são tão claras em seguimento à Lei de Talião, "olho por olho, dente por dente". No caso em tela, não havia dúvidas de que o jovem rapaz é o assassino. As diversas testemunhas oculares são suficientes para comprovar a sua autoria do fato. A rainha, por outro lado, não gosta de tomar decisões tão severas como esta, mas apesar disto ela sabe que precisa seguir com as normas, caso contrário o seu povoado poderá virar uma confusão de brigas. Então como defensora e responsável pelo povoado, a ordem precisa se manter em prioridade, a todo custo. Após um sinal com a cabeça que indicava a autorização para tal ato, o rei se senta novamente em seu trono, permanecendo ríspido em sua expressão. O chefe religioso após benzer a si mesmo, cautelosamente, se aproxima do rapaz que será enforcado enquanto abre as suas partilhas de leituras divinas e ao as ler em um baixo sussurro próximo ao rapaz. Este, engoliu ruidosamente em seco e benzeu o rapaz, direcionando a ele o seu olhar de pena antes de por fim se afastar. Então, o ceifador se aproxima do homem, cobrindo bruscamente o seu rosto com um saco de pano preto, e assim caminha em ríspidos e pesados passos à alavanca. No mesmo instante, Angelina vira o rosto em direção oposta, escondendo os seus olhos sob as suas mãos, apavorada pela cena que se fará a seguir. Ela não gostaria de manter na memória mais outra cena de morte. O ceifador espera o sinal do rei para que enfim puxasse a alavanca, fazendo com que a parte solta da madeira abaixo dos pés do rapaz abaixasse ao o deixar suspenso no ar. O rapaz se debate por breves segundos, mas a sua morte veio rápida com o impacto da rígida corda quebrando o seu pescoço ao ceifar a sua vida. Enfim, de imediato, se ouvem aplausos e palavras de justiça em uma resposta satisfatória pelo contentamento de um povo satisfeito pela justiça de Talião. — E assim, a justiça mais uma vez é feita! — O rei brada, compartilhando de mesma satisfação, ao se levantar de seu trono. — Que sirva de exemplo para os que ... De repente, a sua fala é interrompida por um forte trovão, acompanhado de diversos relâmpagos que tão repentinamente surge sob os céus acinzentados. Um raio enorme e eletrizante rasga o céu, trazendo junto enormes nuvens escuras carregadas de uma grande tempestade, fazendo com que uma escuridão densa se aposse do reino. Todos olham a sua volta, assustados com a repentina tempestade, mas logo se preparam para deixar a praça e seguirem em direção às suas respectivas casas para se abrigarem da chuva. Porém, antes que assim consigam realizar, ao longe, repentinamente alguns sons de cavalos e carruagens surgem, deixando a todos confusos. Quando o primeiro cavaleiro das trevas atinge a praça carregando o sofrimento em sua espada, ele ceifa as primeiras vidas de aldeões próximo a si. É o suficiente para que o aglomerado de pessoas se mutuassem em um pavor crescente e temeroso. A forte chuva despenca com força do céu imediatamente, fazendo as suas gotas de água baterem agressivamente contra todos os corpos. Continua ...
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