3° - uma surpresa desagradável

1227 Words
OLÍVIA  Gorjeta? Como assim gorjeta? — Você sabe do que estou falando — falou a garçonete soberba . — Garotas como você, que não se conformam com 1 salário decente, sempre procuram mais, e quando veem homens como Damon, sempre acabam se colocando nesse papel de amante… — Eu não sei você tá comparando com as suas experiências, mas eu não sou nenhuma garota de programa ou interesseira não, muito menos me vendo por “gorjeta”. E mais. — Parei na sua frente, porque eu precisava falar isso. — Eu não preciso ouvir suposições de outras subordinadas que se acham melhor do que eu porque estão há mais tempo aqui. Talvez você ganhe “gorjeta” do chefe, mas isso não te faz melhor do que eu, querida. Pela primeira vez, ignorei o fato de precisar de dinheiro e precisar me manter no trabalho. Eu não poderia engolir essas palavras. Elas precisavam ser ditas, por mais que isso me prejudique. A minha mãe disse que tenho que falar o que penso e a minha terapeuta também. — Você fala demais, garota. — A minha terapeuta não reclama. Se ofendeu? Deita na BR, que talvez algum caminhoneiro te dê moral. — Segui o meu caminho. Por um momento eu o vi passando por mim. Ele está próximo a mim. O desemprego. O desabafo foi tão bom, que parei para falar mais. — Sei que você vai reclamar com o chefe, para ele me demitir pode desacato. E quer saber? Eu não tô nem aí. Que se dane o chefe e você. Eu não preciso trabalhar numa boate de meia tigela, tendo que seguir as ordens de outra subordinada. Se você reclamar de mim, a demissão será um prêmio. Só de não ter que te ver mais todos os dias, eu já me sinto rica. — Se você continuar assim desbocada do jeito que é e desengonçada, nunca vai permanecer um trabalho nem de… — ela procurou palavras para me ofender. — Como o seu. Como o seu trabalho de merda. E quer saber? Amém! Deus me livre ter que trabalhar de novo num barzinho tendo que servir a um monte de bêbados. Deus me livre chegar aos meus trinta e cinco anos… é isso que você tem, né? Servindo mesa de bêbados e ainda sendo recalcada. — Sorri no final e respirei aliviada. — Ai… era isso. Agora estou em paz. Tirei meu avental e joguei na lixeira. Agora, sim, ele tá no lugar certo. — O que significa isso, Olívia? — Silas surgiu no corredor. — Significa que eu me cansei de trabalhar aqui. Tô me demitindo. Finalmente tô me demitindo! — Mas você só ficou uma semana. Como se cansou? — Pois é né? Uma semana… eu nem sei como aguentei. Três dias já foram o bastante para me encher o saco e para eu achar que ficar desempregada era a melhor opção. Você deveria me pagar um bônus pelos dias que aturei depois do meu cansaço. Juro que ficar desempregada é melhor do que esse emprego aqui. Antes que Silas ou a recalcada falassem alguma coisa, virei as minhas costas e fui embora. Segui o beco e fui casa. A pé. Não quis gastar dinheiro chamando Uber. Caminhar me ajudaria a pensar e esfriar a cabeça. Abri a minha bolsa ao lado de uma barraquinha de lanche e diz um pedido. Não deveria estar comendo besteira, mas todo o estresse do trabalho me trouxe a fome. Segui o caminho para a minha casa comendo. [...] Cheguei em casa com os pés em bolha e com as reclamações ressoando na minha cabeça. Sempre fui o tipo de pessoa que tem dificuldade de resolver perturbações na cabeça rapidamente. O tempo andando não foi suficiente. Tinha um carrão parado na minha rua e logo soube que não era do dono da casa aonde esse carro estava estacionado. E mesmo assim ignorei, pois poderia ser alguma visita. Entrei na minha casa e quando cheguei na sala, saltei no sofá contente. Dormirei cedo. Porque era isso que desempregados que trabalhavam a noite faziam. Tirei minha roupa e fui para o banheiro tomar um banho para relaxar. Eu estava precisando muito. Depois sinto a culpa de ter pedido demissão e lido com o fato de precisar da ajuda financeira da minha mãe e do meu padrasto aos vinte e quatro anos. Entrei debaixo do chuveiro quente e comecei a pensar sobre a minha noite de trabalho. — Que empreguinho de merda aquele... Como ela ousa dizer que eu estava dando em cima do bonitão?! Aquela incomodada. Ela me tratava como se meu salário fosse retirado do salário dela… Me ensaboei com o chuveiro desligado. — Mas aqueles caras... bem que imaginei. Mafiosos. Todos eles com cara de mafioso rico. Todos bem vestidos. Fico feliz por não trabalhar mais lá. Sabendo do que eles fazem. Vendendo bebês... que crueldade! Ainda estava assustada com o que ouvi. — Mas tirando a parte do c***l, tenho que admitir, aquele homem é muito lindo. Olívia do céu, sua tarada! Derrubei a bebida nele, porque fiquei babando, encarando seu rosto. Pena que ele não resolveu tirar a roupa para eu lavar. Deve ter um abdômen daqueles. Só de olhar para sua roupa já dá para ver... Imagino isso. — E quando ele segurou meu braço? Que sensação! Me arrepiei todinha. O homem é muito forte. Benza Deus. Imagina na cama? Eu não deveria estar pensando nessas coisas, mas é impossível não ficar tentada! Ao concluir o banho, saí do banheiro enrolada em uma toalha. Passei pelo meu pôster do BTS e mandei beijo para os meus crushes. — Vocês não ganham para o belo mafioso. Desculpa. O tal Damon é um pedaço de m*l caminho. Já dá para ver pelo nome: Damon. Abri o meu guarda-roupa e dei uma olhada em tudo. — Hum... deixa eu ver o pijama que usarei hoje... Se eu tivesse ficado mais uma semana, teria comprado novos pijamas. Adoro pijamas. Mas não vou me arrepender de ter saído do trabalho por causa disso. Do nada, no meio dos meus devaneios, sentir um cheiro de cigarro no ambiente. Dei algumas inspiradas para ter certeza. É como se o meu padrasto estivesse aqui. Aquele cheiro desgraçado de cigarro que me persegue... Escolhi um pijama simples, dos mais antigos, porém adoro pela estampa de ursinhos. Também me perfumei e penteei os meus cabelos. Os fios castanho-escuro ficaram tão alinhados que parecia que saí do salão. Depois disso, saí do quarto e meu corpo travou quando olhei para a poltrona. Tinha grandes chances de eu estar fodida e pequenas chances de ser um surto psicótico. Sentado na minha poltrona estava o mafioso gostosão, de pernas cruzadas, me encarando de cima a baixo. Ao seu lado, dois seguranças armados se mantinham de pé. — Co-como você me achou? — Meu coração disparou. — Eu não ouvi vocês entrando. — Então você só ouve o que não deve — concluiu. — O que você quer? Já falei que não sei de nada dos bebês. Se é isso que te incomoda. — Não é o que ouvi enquanto você tomava banho. Você sabe de mais, garota. E sabe o que acontece com quem fala de mais? Ele se levantou. Balancei a minha cabeça contrariada e do nada, ela foi coberta por um saco de cheiro forte.
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