OLÍVIA
— MISERICÓRDIA, QUE PAUZÃO!!!! — Caí para trás no sofá quando vi certa cena de s*x life.
— Você não vai trabalhar? Já é hora de se arrumar, Liv! — A minha mãe passou arrastando várias malas para a viagem de lua de mel que fará com seu novo e “querido maridinho”. — Não acredito que você tá assistindo pornografia…
Levantei para me despedir, deixando a série naquela parte. Então…
Impressionante como os pais surgem do nada quando uma única cena quente passa.
— Isso não é pornografia, mãe. É um conteúdo informativo. — Abaixei a tela do notebook, para evitar constrangimentos.
Eu não acredito que em meus plenos 24 anos tenho que dar satisfação para minha mãe.
— Informativo de quê? Você tá doida?
— É um informativo de que não devo me casar com um cara que não me dá prazer, para não ficar fantasiando com outros — expliquei, mas ela não se contentou. — Eu não sabia que você tava de mudança. — Olhei para as malas. — Tá indo viajar por quanto tempo, levando esse tanto de mala?
— Estamos planejando passar uns dois meses. Donald tem negócios a resolver lá e aproveitaremos a deixa. Você sabe… Bahamas, Rio de Janeiro… Nova York…
— Vai levar um colete, né? Porque Rio de Janeiro… — Me preocupei, enquanto a abraçava.
— Claro. O que era do seu pai. Tá um pouco furado, mas acho que servirá para me proteger, caso dê merda.
— Ainda bem. — Respirei aliviada. É até cômico, mas enfim. — Me diz que o Devon não vai ficar aqui — pedi encarecida. — Eu me recuso a ficar 2 meses debaixo do mesmo teto que aquele marginal.
Eu não aguento aquele cara.
— Fala baixo, Olívia! — ela pediu, com medo do marido ouvir. — Ele cuida de você!
Para o Donald não é novidade. Eu não sou de esconder meus sentimentos, principalmente ranço.
— Fala sério, mãe! Tenho muito mais juízo e responsabilidade que aquele garoto mimado que é mais velho do que eu 2 anos — afirmei com muita segurança e ela novamente discordava da minha opinião. — Eu aposto que o Donald dá uma mesada todo mês pra ele…
A minha mãe e o Donald o colocaram na minha cola depois que meu pai morreu, para evitar que eu fizesse besteira, porque fiquei inconformada.
— Você tem que parar com esses julgamentos e também parar com essa coisa de investigação com o Mathew. Usa seu tempo para descansar.
— Descansarei quando descobrir quem matou o meu pai. Enquanto isso, ficarei em paz, desde que não deixem nenhum carrapato aqui na casa.
Da última vez que encontrei esse filho do meu padrasto, tive muita dor de cabeça. Ele me meteu em uma furada e ainda me acusou de ser a causadora do caos.
Da próxima vez, ele vai ver mesmo o caos que causarei, se ele me meter em encrenca.
— Vamos, meu amor! — gritava meu padrasto apressado lá de fora da casa.
— Não vai se despedir do seu padrasto?
— Eu não! Vai logo, que vou me arrumar para o trabalho. — A virei na direção da porta.
— Vai trabalhar mesmo e vê se não fica assistindo pornografia o dia todo. — Ela saiu arrastando as malas. — Também não traga nenhum namorado para cá, viu? Os vizinhos vão me contar tudo.
— Deixa de paranoia, mãe. Boa viagem.
Eu não sei como a cidade ficará sem o Donald, já que ele é o novo sargento, no lugar do meu pai. Ele quem bota ordem na cidade, apesar de eu não colocar muita crença em sua integridade, visto que passa a mão na cabeça do marginal do filho dele.
Também não entendi essa parte em que ele tem “negócios” lá fora, porque achei que em seu cargo só podia trabalhar aqui, no seu batalhão…
Mais um motivo para eu não confiar nesse cara.
Depois que eles se foram, fui me arrumar às pressas para ir a mais um dia de trabalho. Hoje faz uma semana que tô nesse trabalho e olha, meu amigo… estou odiando.
É praticamente o mesmo que faço aqui em casa. Pego uma bandeja com bebida e a levo para os homens. Aqui em casa é para o Donald.
A diferença é que lá ganho e não preciso escutar discursos de bom samaritano. Só a minha mãe para aguentar as piadas sem graça do Donald. Não faz uma que preste.
Sobre mais um pouco do que odiei no meu novo trabalho é as cantadas que recebo dos velhos que frequentam o bar.
Eu não sei se isso é mania que aprendi com meu pai, mas olho para eles e só enxergo um passado criminoso naqueles velhos.
Mas me dão gorjeta.
Existem os prós e os contras.
Chegando no bar da boate do Daddy, percebi estar mais movimentado que o normal.
Atrás do balcão, pus meu avental e dei uma olhada pelo lugar.
Tinha muitos homens de terno, mas dessa vez, nem todos eles eram velhos. Haviam três ali, conversando com o Silas, que Deus benza, ali vi beleza.
Obviamente que o mesmo ar de mafioso que os velhos exalam, estes também têm, mas que são bonitos, eu não posso negar.
Um mais velho, com cara de podre de rico, um mais novo com um olhar vagabundo e psicopata e um que fica nas imediações dessas características. De barba, alto, forte, gostosão.
— Bora, Olívia! Tá recebendo para ser estátua? — uma das garçonetes me tirou dos meus devaneios. — Estamos cheios de pedido! Pega uma bandeja e servirá os sócios do Silas.
Sócios do Silas?
Peguei uma bandeja e olhei os pedidos. Só bebida forte. Preparei tudo e coloquei nas taças, logo depois saí apressada com a bandeja na mão.
Eles estavam bem empolgados com a conversa e eu só coloquei as taças em cima da mesa. Quando peguei a última taça, resolvi olhar para cima e um deles, sim, aquele intermediário, estava me encarando.
Foi aí que me desconcentrei e sem querer, derrubei um pouco de sua bebida no terno que ele usava.
Saltei de imediato, cobrindo a boca, assustada com o que fiz.
— Me desculpa. Não foi minha intenção. — peguei um guardanapo em cima da mesa e comecei a limpar o seu terno na altura do peitoral.
Os outros já estavam prestando atenção em mim depois da burrada que fiz e antes mesmo que ele falasse alguma coisa ou que Silas, que estava para me matar com os olhos, me repreendesse na frente de seus sócios, me retirei às pressas.
Com TODA CERTEZA serei demitida.
— Droga, Olívia. — praguejei baixinho e passei para o outro lado do balcão.
Quando olhei para eles, o felizardo que recebeu a bebida na roupa estava de olho em mim.
Nem quero pensar em quanto deve custar a roupa dele. Se ele me pedir para pagar, eu terei que vender minha casa… e olha que nem é minha.
— i****a, Olívia! — praguejei baixinho novamente e larguei a bandeja para ir ao banheiro me martirizar na frente do espelho. — Sou mesmo uma imprestável.
Em casa sempre dá certo. Nunca derrubei nada na camisa do Donald.
Depois de um tempo, voltei para o balcão e o Silas estava ali, com uma cara de poucos amigos. Me esperando, é claro.
— Venha aqui, garota — chamou um pouco ríspido.
Andei a passos curtos e rápidos, com os braços colados no corpo e com medo.
— Me desculpa, por favor, me desculpa, Silas. Eu não queria derrubar a bebida nele. Me desculpa. Eu me desconcentrei. É que fiquei…
— Chega de desculpas. — Ele levantou a mão na frente do meu rosto, em sinal de pare. — Olha, você tem sorte de que esta noite estamos lotados e eu não posso te demitir agora. Aquele era um dos nossos maiores sócios. Você trabalhará hoje a noite e depois, rua.
Concordei com a cabeça.
— Agora vá! Tem várias mesas para você servir.
— Sim, Silas.
[…]
Realmente, tinha muita gente para servir.
Depois de um longo tempo servindo as mesas, sentei e tirei meu sapato, para descansar meus pés, já que não sentia mais os mesmos.
— Novata. O que você tá fazendo? — Uma das mais chatas funcionárias apareceu. — Não é hora da Cinderela ficar sem sapato. Toma a comanda, prepara as bebidas e servirá na reunião.
Peguei o papel, cansada e voltei a calçar meus pés.
Nem deu tempo de os pés voltarem a vida, mas ainda conseguia andar.
Preparei tudo e fui com a bandeja para a sala de reuniões. É tão confidencial que existe uma sala dentro de outra sala.
Entrei nessa primeira e quando me aproximei da porta fechava, ouvi uma discussão que mais parecia uma briga.
Parei, porque imaginei que eles não deveriam querer me ver aí dentro, bisbilhotando.
— Mas como assim? De novo perderam os bebês?
— Vocês não falaram que já tinham resolvido o problema dos desvios? — perguntou o outro .
— E realmente resolvemos, mas as mães não estão permanecendo no nosso hospital. O que podemos fazer? — indagou o Daddy . Reconheci sua voz.
— Nós já tínhamos vendido os bebês e de novo teremos que quebrar o acordo. Isso não é legal, Daddy. Vocês estão nos prejudicando demais — disse outro homem.
— Sabemos e lamentamos. Pedimos desculpas por isso. Mas não é só vocês quem tá saindo prejudicado. Nós também! — o Silas falou desta vez.
O que significa isso?
Eles vendem bebês?
Que loucura é essa?
Então eles são mesmo mafiosos, como eu suspeitei.
A porta se abriu e eu me afastei assustada.
Era o homem do banho de bebida. Ele balançava a cabeça em lamento e discórdia.
Acho que estou no lugar errado e na hora errada.
— Eu... — tentei falar que não ouvi nada, mas ele tapou minha boca no mesmo momento e fechou a porta, saindo.
Fodeu.