Capítulo 1

1122 Words
Julya Adams. O relógio de parede marca vinte e uma horas da noite, respiro fundo sentindo o medo me consumir e caminho em passos vacilantes indo em direção ao banheiro. Busco uma toalha, prendo os meus cabelos e ligo o chuveiro sentindo a água morna cair em minha pele, faço uma leve depilação nas pernas, axilas, virilha* e encerro o meu banho com uma vontade louca de chorar, mas não tenho mais lágrimas para liberar. Caminho na direção do closet para colocar uma lingerie sem sentir a mínima vontade e faço um r**o* de cavalo em meus cabelos, passo um hidratante no corpo, desodorante, perfume e engulo em seco vendo os minutos se passarem mais rápido do gostaria. Coloco uma lingerie vermelha de renda e uma camisola de seda da mesma cor que vai até a metade das minhas coxas, e pouco depois, ouço a porta do quarto ser aberta por Marie. Ela fecha aporta logo depois de entrar e me olha de forma delicada onde abre os braços para me abraçar e quase corro em sua direção. Ela tem sido o meu único conforto nesses tempos. -Oh, minha querida, me dói vê-la assim. - Ela diz segurando as lágrimas me apertando em seus braços. -Eu não vou aguentar por muito tempo..., preciso fugir Marie. - Falo a abraçando apertado. -Tenho fé de que vai conseguir, Julya..., você não merece isso e tenho fé de que um dia tudo isso vai acabar, mas por hora, ele está chegando! – O meu corpo inteiro se estremece. Olho novamente o relógio de parede e marcam nove e cinquenta e cinco da noite, ele com certeza já deve estar no quarto que fica no meio do corredor, para as dez da noite, estar no outro que fica no fim onde devo aguardar por ele. Me despeço dela sentindo o meu corpo pesado, respiro fundo e engulo o choro indo em direção a saída desse quarto. Se não me engano, faz um ano que estou nesse lugar. Não sei o que é sair, conhecer outras pessoas e a única pessoa com quem tenho um contato digno, é com a Marie que tem sido uma mãe para mim. Ela desde que me viu pela primeira vez, que foi no dia que cheguei aqui, cuidou de mim, me deu carinho e faz de tudo para garantir pelo menos um pouco de conforto nesse lugar do meu pesadelo. Bom, isso nas condições permitidas por ele. A única hora que consigo pegar um sol, é pela manhã e ainda é pela janela do quarto, não faço praticamente nada durante o dia, e as poucas vezes que posso sair desse quarto, fico com a Marie na cozinha. Ela é uma mulher muito simpática, tem os seus quarenta e nove anos, é baixinha e me lembra muito a minha avó, mas pelo que me lembro, ela já morreu. O meu nome é Julya Adams, fiz dezenove anos a pouco tempo e perdi os meus pais quando tinha doze anos de idade. Tenho cabelos negros* bem cumpridos, olhos verdes e pele alva, tenho pouco mais de um metro e sessenta de altura e não consegui concluir os meus estudos, mas não por escolha minha, e sim, por ter sido interferida. Depois que os meus pais morreram em um acidente de avião, a minha vida se tornou um completo inferno*. Sem escolha alguma, tive que morar com uma ‘tia’, irmã do meu pai. Ela não se dava muito bem com ele, mas me aceitou pelo simples fato de poder ter direito a um valor mensal da minha herança que era como uma pensão. Eu não via nem a cor desse dinheiro e sempre fui muito m*l tratada por ela. Chegou o tempo de eu não puder ir para a escola, pois ela queria que eu fizesse todas as obrigações da casa, e por um tempo, comecei a sofrer assédios* por parte do marido dela. Tinha que acordar bastante cedo para preparar o café da manhã, o marido dela saia para trabalhar e a minha ‘tia’ acordava praticamente meio-dia já querendo a casa limpa, organizada e almoço feito. Lembro como se fosse hoje do dia em que menstruei* pela primeira vez, ela veio com a sua fúria para cima de mim reclamando que sujei a colcha de cama branca e me fez lavar até sair a mínima mancha e a todo instante ela dizia que eu nunca deveria aparecer grávida na casa dela. E foi aí que ela me proibiu de ir a escola, pois segundo ela, eu não me envolveria com ninguém e teria mais tempo de fazer as obrigações da casa. Por diversas vezes pensei em fugir, mas eu não tinha nada, não conhecia ninguém e eu não tinha para onde ir, fora que durante a noite, a casa era trancada por ela. E quando eu pensava que não poderia ficar pior, vi que estava completamente enganada. Pouco antes de fazer os meus dezoito anos, os assédios* do marido dela aumentaram, sempre que ela saía para ir ao salão ou fazer compras, ele me perseguia e me ameaçava constantemente caso eu contasse, mas sei que ela nunca acreditaria em mim. Por muita sorte, ele nunca conseguiu de fato fazer o que queria, mas as suas piadas, passadas de mãos e ameaças, eram constantes me atormentando dia a pós dia. Não há um dia sequer que não me lembre os motivos de estar aqui, tudo por culpa daquela mulher que deveria ter cuidado de mim, mas decidiu me tratar como uma qualquer. Mas todos os dias, sonho que logo irei sair desse lugar, irei viver bem longe daqui para reconstruir a minha vida nem que seja a última coisa que eu faça, e a essa altura, nem me importo se tiver que ir somente com a roupa do corpo. Depois de sair do quarto onde fico, caminho em passos pesados indo em direção ao último do corredor, abro a porta lentamente e ligo somente uma luz deixando-a mais neutra para deixar alguns cantos ainda escuros da forma como ele gosta, caminho em direção a cama e me sento na ponta virada em direção a porta, e pouco depois, ela é aberta por ele. Kevin Miller é o seu nome, um homem alto, cabelos castanhos claros quase loiros, olhos verdes, tem o físico malhado e comparado a ele, eu sou bem pequena. Abaixo a minha cabeça ouvindo os seus passos sabendo que ele vem em minha direção e vejo ele aproximar a sua mão a colocando em meu queixo. -Senti saudades, Julya. – Ele diz com um leve sorriso no canto da sua boca, sorriso esse que sempre me assusta. Não respondo nada apenas fico ali pedindo aos céus que isso acabe logo.
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