Estendo minha mão para ele. Ele joga o cigarro fora lentamente, como se estivesse saboreando cada movimento.
— Amigos? Por que não?
Ele pega minha mão e a segura na sua, tão forte que é impossível puxá-la. Seu toque é quente, possessivo. O calor dele se espalha pelo meu corpo, me deixando zonza. Seu polegar desliza de leve sobre minha pele, provocando arrepios.
— Estou de olho em você, Rebeca.
Eu ofego quando ele continua segurando minha mão. O silêncio fica pesado entre nós. O olhar de Dante me desnuda, analisa, estuda cada detalhe como se pudesse decifrar meus segredos mais profundos. Me sinto exposta, vulnerável. Meu coração martela dentro do peito.
Ele então solta a minha mão devagar, como se testasse minha reação. Eu recuo um passo, e ele sorri, divertido.
— Você precisa confiar mais nas pessoas. Bem, preciso ir, se me der licença.
— Mais tarde podemos conversar. — Ele sorri, depois de me medir de cima a baixo. — Sobre Alice, é claro.
Pelo olhar de predador dele, eu duvido muito.
— Claro!
Ele sorri.
— Você é realmente diferente das mulheres que conheci.
— Diferente como?
Ele me olha pensativo, seu olhar deslizando devagar pelo meu corpo.
— Educada, singela, simples. Embora tenha todos atributos para ser diferente, pois você é muito bonita.
Eu sorrio, tentando disfarçar o rubor que me aquece a pele.
— Obrigada. Acho que sou muito interiorana.
— É, Rafael me falou.
— Bem, vou indo.
— Espere! — Dante segura meu braço, firme. Meu coração dispara, o medo se misturando a algo muito mais perigoso: um arrepio de antecipação. Ele se inclina um pouco, sua proximidade me intoxicando. — O que te fez escolher essa profissão de babá?
Ele está desconfiado. Posso sentir isso no olhar afiado, na forma como estuda cada nuance da minha expressão.
— Necessidade. Como sabe, vim do interior e estava desempregada. Como tenho experiência com crianças, vi aí minha oportunidade.
— Oportunidade?
— Sim, não quero voltar com r**o entre as pernas para a fazenda e a cidade grande sempre me fascinou.
Ele me observa por um instante antes de murmurar:
— Saia comigo essa noite.
Sua voz é baixa, carregada de um magnetismo que faz meus joelhos fraquejarem.
— Sair? Acho que não devo. — Digo. Sei que preciso ir com calma com ele.
— Por que não? Podemos falar sobre Alice.
Uma onda de adrenalina formiga meu corpo. O jeito que ele me olha sugere que Alice é a última coisa que ele quer discutir.
— Não precisamos sair. Podemos nos falar aqui.
— Tenho negócios a tratar na terça-feira. Eu mataria dois coelhos com uma cajadada só.
Ah, isso aguça minha curiosidade. Eu fico tentada a sair com ele. Mas de repente o medo de novo me retrai.
Deus, é loucura!
E se ele forçar alguma coisa?
Não confio nele.
— Você não disse que preciso confiar nas pessoas? Então? Saia comigo.
Ele me desafia com um olhar ardente. Minha respiração vacila.
— Vou ser franca. Eu não te conheço muito bem, então também não confio muito em você.
Ele sorri, mostrando dentes perfeitos.
— Eu não te forçaria nada que você não queira me dar de livre e espontânea vontade. É isso que teme?
O peso das palavras dele cai sobre mim. Ele sabe exatamente o que está insinuando.
— Não temo nada. Estou aqui a trabalho, entende?
— Você está trabalhando para o meu irmão, não para mim.
— Não vejo muita diferença. Alice é sua filha.
— Não vê? Então saia comigo, é uma ordem.
Eu hesito, e ele ri, seus olhos verdes com algo predatório.
— Tudo bem!
— Soou como uma promessa!
Fisguei Dante!
— Está certo, eu prometo. Um dia— reforço — marcamos e eu saio com você.
— Ótimo.
—Com sua licença. Eu sou paga para ficar com Alice.
Alice surge ao meu lado.
—Tia, você demorou.
Dante ri.
—Foi culpa do papai. Vem cá me dar um beijo. —Dante diz, se agachando.
Sem pestanejar, ela vai até ele e o abraça, ficando assim por um bom tempo. Vejo então Dante fechar os olhos.
—Eu amo você papai.
Ele beija o pescoço da filha e se levanta rápido, nos dando as costas.
Ele se comoveu com ela?
Com raiva por esse bandido estar mexendo muito comigo, pego a mão de Alice e vou até o quarto dela.
Merda! É nítido que ele ama a filha.
Por que ele tinha que ser aquele bandido de merda? Seu bosta! Seu i****a! Ele tinha que pensar na filha!
Passei um bom tempo com Alice. Ela é muito calada, retraída. Adora desenhar árvores, flores... eu a ensinei a desenhar um gatinho, que ela adorou e logo me pediu para ensinar mais coisas. Eu não era expert em desenho, mas sabia quebrar o galho. Acabei fazendo vários animais do meu jeito, um verdadeiro zoológico.
Na hora do almoço, Estela entra no quarto e nos chama. Eu então a levo para o banheiro e nós lavamos as mãos.
Na sala de jantar, Rafael nos aguarda ocupando a cabeceira. Dante, uma cadeira ao seu lado direito. Eu me sento à esquerda de Rafael, de frente para Dante. Alice fica ao meu lado, num cadeirão de alimentação para crianças. Isso me faz pensar que Rafael pensou em tudo. Com certeza, a intenção dele é ficar com Alice permanentemente. Isso vai ser briga de cachorro grande.
Ignorando o olhar de Dante, faço o prato de Alice, colocando um pouco de tudo: carne assada, legumes, purê de batatas, arroz, salada. Depois faço meu prato. Sentar-se à mesa. Tudo isso me lembra meu pai e meu irmão. A nostalgia aperta meu coração.
— Rebeca. Lindo nome. É bíblico, não? —Dante diz.
Ele falando da Bíblia? Bem, dizem que o d***o acredita na Bíblia e estremece.
Ele então se serve de vinho e, quando faz menção de colocar no meu copo, eu o impeço.
—Não, obrigada.
Ele fica com a garrafa parada no ar e sorri.
—Não bebe em serviço?
—Exatamente. Sou fraca para bebidas.
Ele fita Rafael, que está calado e come em silêncio.
—Essa garota realmente é um achado! Tanta perfeição assim dá até medo. —Ele diz num tom irônico.