ANTONY VESARLES;
A conversa mais difícil da minha vida, e nesse momento estou odiando tanto a Talita, por me colocar nessa situação. Ela não deveria ter escondido o Marcos de mim, não tinha esse direito de me privar de ter participado de cada momento. — talvez, tudo tivesse sido diferente.
— pode falar, ficar me encarando assim, não resolve muita coisa. — Marcos resmunga impaciente.
— tá bom então. Não sei como falar isso, e mais do que nunca queria sua mãe aqui para falar com você, porém, como não tem outro jeito, vamos lá. — passo a mão por meu rosto, sem saber por onde começar. — sua mãe já te falou sobre seu pai?! — questiono, e ele me encara avaliativo.
— minha mãe disse que sou uma produção independente. Sou dela, e estou satisfeito com isso, não quero e nem estou procurando um pai. — disse com severidade, e quis me encolher.
Mais que filha da p**a!
— sua mãe não foi muito sincera. — resmungo com indignação, por ela ter dito esse absurdo ao nosso filho.
Sempre imaginei que estava destinado a viver sem ter a chance de ser pai, porém, desde o momento que coloquei os olhos nesse menino, tudo mudou, e nenhum exame seria capaz de determinar o que sinto, sempre que o observo.
— minha mãe não mente, e algumas coisas ela não me explica, porque apesar de ser muito evoluído para minha idade, alguns fatos ainda não tenho discernimento para entender. — fecha sua expressão, e encaro pensando em como aborda-lo.
— eu sou seu pai. — sou direto, como o advogado dela me instruiu, porque o mesmo conhece meu filho, muito mais que eu. — ufs! — me indigno com o pensamento.
Marcos me encara de olhos apertados, segundos seguidos, e começo a ficar ansioso. Sempre fui bem controlado, e sei conversar com propriedade, porém, não com ele.
— tá certo. — declarou, e foi minha vez de olhar com espanto.
— só isso?! — minha voz sai com certa decepção.
— deveria dizer alguma outra coisa? — comenta com certa impaciência.
— não sei, você nunca havia pensado na possibilidade de ter um pai?! — dou de ombros, encarando o garoto.
— sabe Antony, minha mãe sempre diz que as pessoas dão muito importância a células sanguínea. — amoleceu sobre a poltrona, como se estivesse cansado. — "pai", não é nada sobre o sangue, e sim o papel afetivo que desenvolve.
— só que para a justiça, o fato de nosso sangue ser parecido, fará muita diferença. — realmente perco a paciência. — e é por isso, que tem uma enfermeira do outro lado daquela porta, esperando para recolher amostras, e definir de forma técnica, que é meu filho.
— era só isso?! — suspirou entediado. — e a profissional está esse tempo todo, esperando?!
— claro.
— minha mãe é enfermeira, e sempre está bastante cansada. — levanta-se e vai até a porta abrindo. — desculpa a demora senhorita, não sabia que estava esperando. Algumas pessoas, não sabem valorizar o tempo. — me olhou com julgamento.
Isso mesmo! Um menino de sete anos, me julgou com o olhar.
— sem problemas rapazinho. — acariciou o cabelo dele, e finalmente me olhou. — ola senhor Vesarles.
Ela recolheu as amostras sanguíneas, e a todo instante eu me perdia encarando aquele menino. Confesso que me magoou a falta de interesse que ele teve, em relação a minha paternidade, não consigo assimilar sua frieza.
...
Olho a mulher vestida com um uniforme branco, enquanto arruma um armário no ambulatório. Se não fosse pela palavra (detenta) na parte das costas do seu blusa, não percebiria a situação que ela se encontra.
— boa tarde Talita. — cumprimento adentrando a saleta, e ela me encara com um sorriso curioso.
— como meu filho está?! — me olha como se a qualquer instante, fosse retirá-lo do meu bolso.
— está bem, mas precisamos conversar. — seus olhos escuros se fecharam um pouco, e ela resmunga sentando-se. — nosso filho é bem genioso.
— não mesmo. Meu bebê é perfeito do jeitinho que é. E que negócio é esse de nosso filho?! — questiona seria.
— você disse que ele é meu filho. — dou de ombros, não querendo demonstra o que sinto em relação a isso.
— e você disse que é impossível. — implica, parecendo querer uma retratação.
— conheço alguém que tem o mesmo humor seu. — acuso, e ela sorri, como se houvesse ganhado um elogio.
— então, se conhece, sabe que agora estou impaciente para saber o que quer conversar, não é mesmo?! — batucou os dedos, de forma impaciente.
— primeiro de tudo quero deixar claro, o quanto estou enfurecido, por você não ter me procurado quando descobriu a gravidez. — assumo, e ela parece um pouco constrangida. — segundo, você colocou ideias no mínimo narcisista na cabeça daquela criança.
— não é narcisista, é realista. Porque iria fantasia um pai para ele, se sabia que ele não teria?! — declarou, parecendo saber exatamente sobre o que eu falaria. — quando descobri a gravidez, procurei você, e tinha casado vinte dias depois de ter passado a noite comigo, então o que queria que fizesse?! Viajasse para a Grécia, para encontrá-lo em lua de mel, e avisá-lo sobre a gravidez, ou consegui uma audiência com o grande juiz Vesarles?!
— tinha formas mais fácies, de me encontrar, se essa realmente fosse sua vontade. — declaro irritado com sua petulância.
— o grande detalhe, é que realmente não tinha interesse em encontrá-lo. — assumiu sem intimidasse. — não sabia se desejava ser pai, e muito menos como receberia a notícia, e se fosse para ser apenas por obrigação, meu filho jamais mereceria precisar implorar por carinho e amor, de alguém, simplesmente porque o sangue é o mesmo.
— ótimo, mas no fim das contas, você teve que vim com o rabinho entre as pernas, implora minha ajuda. Irônico não?! — insulto, e vejo seus olhos negros cintilar de raiva.
— tem razão, imploro, e imploraria a qualquer um, porque sou mãe, e quero que meu orgulho f**a-se, mas sempre protegerei meu filho, mesmo que isso custe tudo de mim. — declarou com furia nós olhos. — Marcos é minha vida.
— merda mulher! — levanto frustrado. — você não entende o que sinto. Sabe como é estranho, você olhar para uma criança, que parece meu reflexo quando era pequeno, e o mesmo dizer que ter meu sangue não me configura pai?!
— sei sim. — me encarou estupefata. — sangue é apenas sangue, e se pedi sua ajuda, foi baseada no meu desespero, e não com a ideia que você assumisse qualquer posição de pai.
— mas a merda é que quero ser pai! — praticamente rosno. — quero ser pai daquele garoto, que me olha como se fosse um estranho, porque a mãe dele é uma egoísta, com ideias estranhas.
— egoísta é o c*****o, seu babaca! — me aprontou irritada. — se quer ser pai, ótimo, você está tendo uma ótima oportunidade, então seja.
— eu já sou! — devolvo chateado. — ele tem meu DNA em suas veias, igualmente tem o seu.
— então porque está fazendo esse escarcéu?! — me encarou indignada.
— porque quero que ele sinta-se meu filho. — declaro com angústia. — queria ter visto quando você fez a primeira ultrassom, e o primeiro choro do meu filho, queria vê-lo andar e escutar me chamar de pai, igual você teve a oportunidade.
Vi que uma lágrima escorreu no seu rosto, e suspiro passando as mãos e meus cabelos, sem saber como agir. Estou magoado com ela, porém, estou feliz por ter um filho, e tudo vira uma confusão dentro de mim, porque também me sinto na obrigação de tentar ajudá-la, mesmo que tenha me privado de conviver com meu filho.
— quer que eu peça desculpas?! Ótimo, me desculpa Antony. Foi apenas uma noite de bebedeira, não sabia nada de você, até alguns dias atrás, quando pedi para que Tiago investigasse o máximo, porque tinha medo de deixar qualquer um aproximasse do meu filho.
— e você fez um ótimo trabalho, quando começou a namorar um maníaco pedófilo. — ataco para magoa-la, e vejo seus olhos se perderem em desespero. — não queria dizer isso.
— talvez você tenha razão. — declarou deixando seu olhar escondesse por trás dos cílios. — aproveita sua oportunidade, e realmente me desculpa por não ter procurado você. Apenas... Tive meus motivos. Se você se dedicar, será um bom pai.
— eu entendi o que vocês dizem da diferença de ser pai, e ter o mesmo DNA, só não queria admitir. — assumo baixando um pouco a guarda. — tia Antonieta foi minha mãe, e ela nem tem o meu sangue.
— cuida dele. — implorou com o olhar, antes de sair com rapidez do ambulatório.
Encaro a porta, me sentindo angustiado. Achei que após falar um monte para ela, me sentiria melhor, porém, não me sinto nada bem.
...
— aqui está tudo sobre a senhorita que o senhor pediu para investigar. — recebo o pendrive, assim que chego ao meu escritório no fórum.
— Obrigado. — agradeço, e caminho com pressa até minha cadeira, enquanto o homem retirasse.
Tudo que conseguimos achar sobre ela. Foi abandonada pela mãe ainda na infância, e conviveu com padrasto, até o mesmo morrer em um acidente a seis anos atrás. Talvez agora entenda seu complexo de medo por sangue e ligações fraternais, mas mesmo assim, não consigo perdoa-la, por ter me privado de conviver com o Marcos.