CAPÍTULO 1: O LUTO E A NOVA REALIDADE

1060 Words
JAYME Seis meses. Seis meses desde que o mar levou Rafaella. Seis meses desde que eu vi pela última vez aquele sorriso que iluminava até os dias mais cinzentos. Seis meses desde que o mundo parou de fazer sentido. As buscas foram intensas. Dias e noites de esperança e desespero se misturando, enquanto eu segurava Arthur no colo, tentando explicar a ele por que a mamãe não estava em casa. Ele era pequeno demais para entender, mas grande o suficiente para sentir a ausência dela. Ele chorava, chamando por ela, e eu não sabia o que dizer. Como explicar para um bebê que a mãe dele poderia nunca mais voltar? As autoridades fizeram o que puderam. Barcos, mergulhadores, drones... tudo foi usado na tentativa de encontrá-la. Mas o mar é vasto e impiedoso. Ele não devolve o que leva. E, após seis meses de buscas infrutíferas, eles declararam Rafaella morta. Morta. A palavra ecoou na minha mente como um golpe seco, mas eu não conseguia aceitar. Como ela poderia estar morta? Como o universo poderia ser tão c***l a ponto de tirar dela a vida e a mim a mulher que eu amo? Eu me vi sozinho, com Arthur nos braços, tentando entender como seguir em frente. A dor era tão grande que, às vezes, eu m*l conseguia respirar. Mas eu tinha que ser forte. Eu tinha que ser forte por ele. --- Flashback Lembro do dia em que conheci Rafaella. Foi em uma exposição de arte. Ela estava parada na frente de uma tela abstrata, com um copo de vinho na mão e um ar de quem pertencia àquele mundo de cores e formas. Eu, que nunca tinha entendido muito de arte, me aproximei dela, curioso. — O que você acha dessa obra? — perguntei, tentando parecer interessado. Ela virou para mim, com um sorriso que parecia iluminar a sala inteira. — Depende. O que você sente ao olhar para ela? — ela respondeu, com um brilho nos olhos azuis. Eu fiquei sem palavras. Não pela pergunta, mas pela maneira como ela falava, como se cada palavra fosse uma pequena obra de arte. — Eu... não sei. Acho que sinto um pouco de confusão — admiti, rindo baixo. Ela riu também, um som leve e musical. — Então a obra cumpriu seu propósito. A arte não precisa ser entendida, só sentida. Naquele momento, eu soube que ela era diferente. Diferente de tudo e de todos que eu já tinha conhecido. E, sem perceber, eu já estava apaixonado. --- Voltando ao presente Agora, aquela memória parece tão distante, como se pertencesse a outra vida. Arthur está dormindo no berço, e eu me sento no sofá, olhando para as fotos de Rafaella espalhadas pela sala. Ela está sorrindo em todas elas, como se nada pudesse apagar a alegria que ela carregava. Eu sinto uma dor no peito, uma dor que não diminui, não importa o quanto o tempo passe. — Jayme, você precisa seguir em frente — minha mãe diz, colocando uma mão no meu ombro. — Como? — eu pergunto, a voz embargada. — Como eu sigo em frente sem ela? — Você tem o Arthur. Ele precisa de você. Ela está certa. Eu sei que está. Mas isso não torna as coisas mais fáceis. --- Flashback Lembro-me do dia em que descobrimos que Rafaella estava grávida. Ela estava sentada na cama, segurando o teste de gravidez com as mãos tremendo. — Jayme... — ela chamou, com uma voz que misturava medo e felicidade. Eu me aproximei, sentando ao lado dela. — O que foi, amor? — perguntei, já sentindo que algo grande estava prestes a acontecer. Ela mostrou o teste para mim, e eu vi as duas linhas rosas. Por um momento, eu não consegui reagir. Depois, um sorriso enorme se espalhou pelo meu rosto. — Estamos gerando um bebê? — eu perguntei, ainda incrédulo. Ela acenou com a cabeça, e eu a puxei para um abraço apertado. Naquele momento, eu senti que nada poderia nos separar. --- Voltando ao presente Agora, eu olho para Arthur, dormindo pacificamente, e sinto uma mistura de amor e dor. Ele é a única parte dela que sobrou, e eu prometi a mim mesmo que faria tudo para proteger ele. Mas, às vezes, eu me pergunto se sou capaz. Se sou forte o suficiente para ser o pai que ele precisa. — Papai... — a voz dele me acorda no meio da noite. Eu me levanto rapidamente, indo até o berço. Ele está sentado, com os olhos cheios de lágrimas. — O que foi, filho? — eu pergunto, pegando ele no colo. — Cadê mamãe? — ele pergunta, com uma inocência que parte meu coração. Eu respiro fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Mamãe está... em um lugar muito bonito, filho. Ela está cuidando da gente de lá. Ele olha para mim, como se tentasse entender, e então coloca a cabeça no meu ombro. Eu o seguro com força, sentindo o peso da responsabilidade e do amor que sinto por ele. --- Flashback Lembro-me do dia em que Arthur nasceu. Rafaella estava exausta, mas radiante. Ela segurava ele nos braços, com um olhar de pura devoção. — Ele é perfeito, Jayme — ela disse, com a voz embargada. Eu me aproximei, sentando ao lado dela na cama. — Ele é. E você foi incrível — eu respondi, dando um beijo na testa dela. Ela sorriu, cansada, mas feliz. — Eu te amo, Jayme. — Eu te amo mais. Naquele momento, eu senti que tínhamos tudo. Que nada poderia nos tirar aquela felicidade. --- Voltando ao presente Agora, eu me vejo sozinho, tentando reconstruir uma vida que faz sentido sem ela. É difícil. Cada dia é uma batalha. Mas eu tento. Tento por Arthur. Tento por Rafaella. Eu me levanto, colocando Arthur de volta no berço. Ele já está dormindo de novo, e eu me sento ao lado, observando seu rosto tranquilo. — Eu prometo, Rafa. Eu vou cuidar dele. Vou ser o pai que ele precisa. E, pela primeira vez em meses, eu sinto uma pequena centelha de esperança. Talvez, um dia, a dor diminua. Talvez, um dia, eu consiga sorrir de novo. Mas, por enquanto, eu sigo. Um dia de cada vez. PARA ME AJUDAR: ADICIONE O LIVRO NA BIBLIOTECA, DEIXE MUITOS COMENTÁRIOS, BILHETE LUNAR E ME SIGA AQUI NO DREAME.
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