Narrado por Lion
A minha primeira reação foi hesitar ao ouvir a proposta de Dara ir ao baile. A ideia de deixá-la solta por aí me causava um nó no estômago. Eu não queria correr esse risco. Mas também... ver ela assim, apagada, triste, cabisbaixa, não ajuda em nada. Talvez, só talvez, se ela se sentisse um pouco mais livre, um pouco mais viva, as coisas melhorassem. Então deixei. Deixei ela ir. Mas nem por isso eu consegui relaxar.
Acabei indo também. Ficar em casa só ia me deixar ainda mais doido. Estou encostado num canto do camarote, com um copo na mão, observando tudo com olhar atento, e claro, a Marcela não perde tempo.
Marcela:
— E aí, Lion... tá pra jogo hoje?
Reviro os olhos antes de responder.
— Tô de boa, Marcela.
Marcela dá aquele sorriso f*****o, tentando ainda parecer irresistível.
Marcela:
— Faz tempo que tu não me procura, qual foi? Enjoou?
— Tô de boa, como já te passei o papo.
Marcela:
— Tava ficando com aquela loira né? Fiquei sabendo... patricinha lá do Recife, bonitinha ela.
Dou um gole na bebida, com calma, e respondo com firmeza:
— Patricinha é o c*****o. Aquela mina dá de 10 a 0 em qualquer uma aqui do morro.
Marcela:
— Tô ligada que tu tá prendendo ela na tua casa, obrigando ela a te querer. Eu tô aqui, bem na tua frente, e tu nem me olha mais. Quanto tempo faz que tu não dá uma, Lion?
A paciência me abandona.
— Marcela, vai tomar no cu, sai do meu juízo, c*****o!
Ela continua ali, impassível, como se fosse imune à minha raiva.
Marcela:
— Eu sempre estive aqui pra você. Sempre estive e sempre vou estar.
Respiro fundo, olho bem nos olhos dela e falo, seco:
— Anotado. Quando eu quiser te comer, eu te chamo.
Saio dali antes que acabe fazendo m***a. A mina tava me tirando do sério.
Vou até o bar, pego outra bebida. Quando me viro, quase deixo o copo cair. Ela acabou de entrar.
Dara.
Ela tá no camarote, iluminada pela luz da pista, como se o mundo tivesse parado ao redor. Meu coração dispara. Ela é linda. Linda num nível que chega a ser injusto. E hoje... hoje ela tá deslumbrante.
Fazia dias que eu não a via sorrir, e ali, bem na minha frente, ela solta um sorriso... leve, sincero, quase infantil. Me hipnotiza. Me atravessa. Não consigo olhar pra mais nada.
PC aparece ao meu lado, claro, pronto pra me zoar.
PC:
— Desfaça, a baba tá caindo.
— Tá mesmo. A mina é f**a.
PC:
— Ela é... mas não é tua propriedade.
Olho de canto pra ele, sem paciência.
— Mais uma vez: VAI TOMAR NO CU!
Ele ri, como sempre, e balança a cabeça. Eu fico ali, parado, observando Dara dançar. Ela se mexe com leveza, sem forçar nada. Como se o mundo fosse só dela. E cada movimento dela me deixa ainda mais obcecado.
Vejo um cara se aproximando. Um i****a qualquer. Só de olhar a intenção dele, já fico puto. Faço menção de ir até lá, mas o PC me segura pelo braço.
PC:
— Deixa a mina, relaxa!
— Aquele filho da p**a tá chegando nela... eu vou m***r ele!
PC:
— Deixa a menina em paz, Dante.
Fico ali, tentando me conter. Por um minuto até consigo... até ver os dois se beijando. Aí é demais.
— AÍ É DEMAIS PRA MIM, c*****o!
Jogo o copo no chão e vou direto até eles. Dou um soco na cara do cara, seco e direto. Ele cai no chão como um saco de batatas. Subo em cima dele e descarrego toda a raiva, toda a frustração.
— FILHO DA p**a! NÃO ENCOSTA NELA, c*****o!
PC e Gabriel vêm correndo e me puxam.
PC:
— PARA, LION! TU VAI m***r O CARA!
Gabriel:
— Ele nem sabia que ela é tua, irmão! Calma!
— NÃO QUERO SABER, c*****o!
Minhas mãos tremem de tanto ódio. Procuro Dara com os olhos. Ela tá ali, com a Geovana, me olhando com medo. Medo de mim. Isso me destrói.
Vou até ela, pego firme no braço e a puxo pra fora do baile. A galera abre caminho, vendo minha fúria.
— ACABOU ESSA PALHAÇADA! JÁ CHEGA!
Ela não diz uma palavra. Dirijo em silêncio. Ela também. Não parece a mesma. Parece... distante. Fria.
Quando chegamos em casa, ela desce do carro antes de mim, vai subindo as escadas como se nada tivesse acontecido. E quando eu a chamo, ela nem vira. Até eu gritar:
— DARA, EU TÔ FALANDO COM VOCÊ, c*****o!
Dara se vira, os olhos ardendo.
Dara:
— O que é? O que você quer? Vai me bater também?
A pergunta me atinge como uma facada no peito.
— Você tá com problema? Como tu beija um cara assim, na minha frente? Tu quer morrer, Dara?
Dara:
— Quero. Melhor morrer do que ficar aqui contra a minha v*****e.
Fico sem reação. As palavras dela me travam.
— É tão r**m assim ficar aqui? Ficar... comigo?
Dara:
— Assim? É.
Ela se vira e sobe pro quarto. Eu fico ali parado, quebrado. Como posso manter ela aqui se isso significa a infelicidade dela?
Bebo uma garrafa inteira de uísque. Fumo um baseado. Tá quase amanhecendo. Subo cambaleando as escadas e abro a porta do quarto.
Ela tá lá, dormindo. Com aquela camisola de renda que me tira o fôlego. Linda. Completa. E eu... não posso nem tocar.
Me aproximo devagar. Observo seu rosto. Tão sereno dormindo. Passo a mão em seu rosto, e o peito dói. A imagem daquele i****a beijando ela ainda queima na minha mente.
Me ajoelho ao lado da cama, ainda embriagado, e fico ali. Sussurro no silêncio do quarto:
— Como eu vou deixar você ir embora se eu te amo assim?
Enquanto acaricio seu rosto, ela desperta. Me olha sonolenta.
Dara:
— O que você tá fazendo? Tá bêbado?
— Um pouco...
Dara:
— Sai daqui, vai tomar um banho.
— Eu te amo, Dara.
Ela desvia o olhar.
Dara:
— Sai daqui, Dante. Tá fedendo a bebida.
Ignoro. Me deito ao lado dela, olhando pro teto.
Ela permanece em silêncio, mas sei que tá me observando. Viro de lado e ficamos frente a frente.
Sinto sua respiração perto da minha. Vejo as olheiras em seus olhos. O cansaço. A tristeza.
Passo a mão de leve em seu rosto. Ela fecha os olhos com meu toque. E, de repente, uma lágrima escapa. Não aguento. Me aproximo e uno nossos lábios num beijo lento, calmo, intenso.
— Eu sei que você me ama tanto quanto eu te amo...
Dou uma pausa, com a voz embargada. Fico ali, olhando pra ela. A única mulher que me faz perder o controle e me dá v*****e de ser melhor.
Mas será que eu posso fazer ela feliz?