Tiriça narrando O vento da laje vinha quente, mas batia com aquele cheiro de pólvora misturado com mato e maconha acesa. Eu tava ali, largado no caixote, com o baseado queimando devagar entre os dedos, olhando as luzes do morro piscando lá embaixo. A favela não dorme nunca, mas às vezes até o barulho cansa. Fiquei só no meu canto, mente longe, pensando no bagulho do Felipe. Aquilo ainda tava entalado na cabeça desde o dia que ele foi preso. A fumaça subia e sumia no ar, e eu lembrava dele rindo, falando merda, cheio de plano, cheio de pressa. E agora tava lá, trancado, careca, comendo comida fria. A vida é traiçoeira pra c*****o. Ouvi o portão da laje bater. Quando olhei, era o Johnny subindo, aquele jeito dele todo debochado, camisa aberta, chinelo arrastando. — Qual foi, Tiriça? Tá

