Beatriz narrando Dias depois… Nunca fiquei tanto tempo sem ouvir a voz do Filipe. Nem quando a gente brigava feio, nem nos períodos que a gente se separou por teimosia boba. Sempre tinha um áudio atravessado de madrugada, um “desce aqui”, um “tô na porta”. Agora não tinha nada. Só silêncio, papel, fila e relógio que não anda. O primeiro dia depois da prisão eu passei no automático, igual quando a gente leva um susto tão grande que o corpo segue sozinho. Cheguei em casa com as sacolas do Alcântara, o bobojaco dele dobrado no colo, e deixei tudo em cima do sofá. As meninas chegaram da escola falando ao mesmo tempo, Maithê contando que tirou estrelinha na tarefa, Sophia pedindo desenho e pão com manteiga. Eu virei mãe máquina: banho, uniforme no varal, lanche, tarefa, desenho. Quando dei

