Capítulo 04

1477 Words
Beatriz narrando Eu precisava ir pra casa, eu precisava chegar em casa, mas eu não sabia como, eu não tinha rumo as coisas giravam e eu não sabia o que fazer, eu não sentia meu corpo, só a voz dele ficando cada vez mais alta na minha cabeça Eu liguei pra uma amiga, tentei pedir ajuda a ela. Ajuda de que ? Ninguém poderia me ajudar agora. Mas na realidade era uma ajuda pra respirar, uma ajuda pra saber se eu ainda estava viva, eu não sabia mais onde ele estava, eu não sabia como, eu não sabia o que estava acontecendo direito, se ele estava inteiro, eu não sabia como tinha acontecido, eu não sabia o que fazer. Já era hora de buscar as meninas na van e eu ali, perdida, sem rumo, sem ar, sem chão, sem ele… Eu comecei a tentar procurar ele, mandar mensagem, ligar, era um desespero absurdo, eu pedi pra minha amiga fazer o mesmo, e eu comecei a tentar rastrear ele de todas as formas, eu não conseguia achar ele, isso nunca aconteceu. Com toda a minha história com o Felipe, quando a gente brigava, quando ia cada um pro seu canto, a gente sempre achava um ao outro rápido, sempre. Eu nunca fiquei um dia sem falar com ele, nem que fosse pra xingar ele, pra infernizar a mente dele, mas a gente sempre dava um jeito de mostrar pro outro que estava ali, brigando, se amando, ou querendo arrancar a cabeça um do outro, mas a gente sempre sabia por onde o outro estava Eu ligava, chorava, mandava mensagem, eu repetia aquele maldito áudio, eu comecei a ligar pra várias delegacias de todo o estado procurando por ele e cadê ? Cadê o meu Felipe ? Ninguém sabia, ninguém tinha uma resposta, ninguém sabia dele. E então como um ritual torturante eu ouvia o áudio, de novo e de novo… Eu não sabia mais o que fazer, então eu fui peguei as meninas nem sei como, todo o trajeto era um grande borrão na minha mente, eu só lembro de chegar em casa com as sacolas, com o presente que ele tanto pediu e largar tudo lá, enquanto levava as meninas pra minha mãe, isso tudo sem parar de ligar pro celular dele, porque a essa altura do campeonato eu já achava que tinham matado o meu marido, matado o pai das minhas filhas, o amor da minha vida. Era só isso o que passava na minha mente, que tinham matado ele, que eu não ia ver ele nunca mais, eu xingava ele, eu chorava, eu ligava, eu fazia de tudo, eu já tinha ligado para todos os números possíveis, já era de noite, já tinha passado da hora que ele me prometeu que já estaria em casa e eu ainda não tinha achado ele. Até que eu consegui um número de w******p e com muito custo e má vontade me informaram que ele estava indo para uma delegacia no outro lado da minha casa, muito longe, muito longe mesmo, eu não sabia nem onde era pra ser mais exata, nunca tinha ido ou passado por aquele lugar, eu não fazia a menor ideia de pra que lado ficava aquele lugar, eu não sabia como chegar lá, mas eu sabia que eu ia chegar, eu não ia deixar ele sozinho. Nessa hora mais um inferno começou. Todos me julgando por ir atrás dele, todos me questionando, todos falando na minha cabeça, e eu não queria saber de nada, de ninguém, de p***a nenhuma. A única coisa que eu queria era achar o meu marido vivo, era ver ele com os meus próprios olhos e ele me falar que aquilo tudo era mentira, que não passava de um pesadelo e que nós iríamos passar o nosso dia dos namorados no esperança como ele me prometeu. Eu não podia acreditar que ele ia para aquele lugar, eu não queria acreditar que ele ia preso. Parecia um inferno na minha frente. Parecia um pesadelo sem fim todo aquele inferno. As meninas perguntando e chamando pelo pai, eu chorando procurando por ele, preocupada, desesperada, eu não sabia o que fazer, eu nunca tinha passado por isso, mas eu tinha uma única certeza, que poderiam me julgar, me apontar, dizer o que quisessem, EU NÃO IA LARGAR ELE LÁ. E nada me faria abandonar ele lá. Nunca. Já eram quase 22h e nada de eu achar Felipe, aquilo foi me dando um embrulho no estômago que eu não pensei, eu só agi, eu saí de casa e fui até a delegacia mais perto pra tentar de lá localizar pra onde ele tinha sido levado — liga nesse número aqui, e manda mensagem nesse w******p, aí vão te informar pra onde ele vai ser levado — um policial me deu um papel com um telefone escrito na mais pura má vontade do mundo. Mas na altura do campeonato eu não queria saber de boa vontade de ninguém, eu queria era achar ele, só. Quando me falaram a delegacia eu já comecei a mandar mensagem pra esposa de um amigo dele, eu precisava de um Uber, um carro, uma moto, qualquer coisa que me levava até o buraco do fim do mundo onde ele estava, que eu ainda não fazia ideia de onde era. Eu voltei pra casa tentando falar com o número que tinham me passado, até que quando finalmente me responderam já havia passado das 22h, eram quase 23h, e ele havia sido preso a tarde e só agora informaram pra qual delegacia iriam levá-lo. Nessa hora já tinha passado tanta coisa na minha mente, tanta coisa r**m, que eu já iria pro iml reconhecer o corpo, que eu já ia ter que contar pras minhas filhas que o pai delas morreu, eu juro por Deus, que infelizmente só o pior passava na minha mente até o momento que eles me falaram que ele já estava sendo encaminhado. Eu não queria saber, se eu ia sozinha, se ia algum amigo dele comigo pra me levar lá, se eu ia me teletransportar pra lá, eu não queria saber como, eu só sabia que eu ia chegar lá. A esposa do amigo dele logo foi falar com o seu marido, e ninguém acreditava que aquilo tinha acontecido com o Felipe, nem eu, eu queria muito, a todo momento, acreditar que era mentira. Mesmo já sabendo que ele estava indo pra dp eu ainda abria o contato dele, eu ainda esperava uma mensagem de — amor cheguei, se arruma que to indo te buscar. Mas essa mensagem não chegava nunca. Era uma sensação horrível, eu queria gritar, socar, chorar, o ar faltava, as mãos tremiam, a vista embaçava e eu só precisava ver ele, eu só precisava achar ele. O amigo dele que ia me levar, ficou em choque quando a sua esposa contou pra ele e prontamente os dois vieram me buscar pra me levar até lá — olha onde você vai se enfiar, Beatriz, você não vai poder fazer nada lá, pra que você vai pra lá ? — meu pai me criticava e eu nem dava ouvidos, eu precisava sumir, eu precisava ir até ele e o depois eu resolvia na volta. No fundo, eu ainda acreditava que eu ia conseguir dar um jeito de tirar ele de la, por ingenuidade, por amor, por desespero, pode chamar do que for, mas eu acreditava que conseguiria. Eu fui o caminho todo em silêncio, o amigo dele dirigia, a esposa dele do seu lado e eu em silêncio no banco de trás chorando e eu só repetia pra mim mesma que eu não deveria ter deixado ele sair de casa, eu não deveria ter deixado ele ir buscar essa droga, eu deveria ter feito algo, eu deveria ter inventado alguma coisa, ter amarrado ele em casa, qualquer coisa, mas eu não poderia ter deixado ele ir, ele foi, e agora ele tá lá. E agora ? O que ia ser de mim ? O que ia ser das nossas filhas ? Eu me sentia perdida, sem norte, sem chão, era como se todos os meus planos, sonhos, tudo, tivesse sido perdido e eu não sabia nem por onde começar, o que fazer, eu não sabia… — c*****o de gps, não tô achando a p***a da delegacia — o amigo dele fala é meu coração já dispara na hora Essa opção não existia pra mim, nós tínhamos que achar, nós precisávamos achar. Eu e a esposa desse amigo dele começamos a olhar a rota, gps, nos localizar e a cada km que andávamos parecia que ficava cada vez mais longe, eu já estava sem ar, com dor de estômago, nervosa, eu já estava começando a agir no automático com um único foco, achar a merda da delegacia que me informaram pra onde ele seria levado Continua…
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