3- Miguel

3025 Words
Não estou acreditando que a minha mulher perdeu a memória naquele maldito acidente, porque eu não a ouvi quando me pediu para esperar um pouco mais? Se tivéssemos nos atrasados por dois minutos, nada disso teria acontecido, e nós estaríamos na nossa lua de mel nos amando como fazíamos todos os dias. Garças a Deus Olivia não estava conosco como ela queria, ou ela poderia estar machucada ou até mesmo morta com aquele acidente, mas o que eu faço quanto a Patrícia? Como conseguir lidar com a sua perda de memória e minha esposa me rejeitando como se eu fosse um estranho? Deixo ela descansando e saio do hospital indo para casa, Olívia ficou muito assustada por ver a mãe passando m*l daquele jeito, e achei melhor ela ir pra casa, eu preciso ver como ela e minha sogra estão. Sra. Priscila está desolada com a situação da filha, ela já perdeu o marido e seu medo de perder a filha naquele acidente a deixou muito fragilizada, e quando soube que a filha havia perdido a memória e não se lembra dela, assim como eu, ela também entrou em choque, é compreensivo já que a pessoa que tanto amamos não se lembra de nós. — Papai! Papai...! — Olivia corre na minha direção chorando assim que entro em casa e minha mãe vem atrás apreensiva. — Filha, o que aconteceu? Porque você está chorando, meu amor...? Mamãe? — Me abaixo pegando a minha filha no colo e me levanto atento a minha mãe, Olívia chora escondendo o rostinho no meu pescoço. — Ela está nervosa, filho, ela quer a mãe dela. — Mamãe conta ainda apreensiva mas se aproxima acariciando as costas da minha filha. — Querida? Minha princesa, me escuta...? — Me sento no sofá com ela ainda em meu colo e ela me encara soluçando de tanto chorar. — Meu amor, a mamãe precisa descansar, por isso o papai também veio pra casa. Em dois ou três dias a mamãe vai estar em casa e nós vamos poder ficar com ela mais tempo, está bem? Por favor princesa, não chore? Está deixando o papai triste por te ver assim. — Me seguro para não chorar e gritar de raiva por essa situação, um dia que era para ser o mais feliz da minha vida se transformou em um pesadelo. — Eu quero ver a mamãe agora, papai...? Por favor eu quero ver a mamãe...? Eu quero ficar com a mamãe...? Eu quero a mamãe... — Olivia chora ainda mais escondendo o seu rostinho no meu peito. — Meu Deus, filha... Não chora, meu amor? A gente vai ver a mamãe, está bem? Precisamos descansar um pouco... Olha só, eu vou tomar um banho e depois a gente vai ver a mamãe, está bem? Você vai ficar mais tranquila? — Me levanto com ela acomodando-a melhor em meus braços e ela funga secando os olhinhos. — Eu não quero ficar sozinho, você fica comigo até a gente ir ver a mamãe, meu amor? Você fica na cama do papai enquanto eu tomo um banho e me arrumo para sairmos, ok? — Sugiro enquanto vou para o meu quarto e vejo-a bocejar. — Está bem, papai, eu espero você pra gente ir ver a mamãe. — Concorda entre soluços tentando parar o choro e eu sinto o meu peito doer, ainda não acredito que isso esteja acontecendo. — Está bem, minha vida, mas agora pare de chorar, a mamãe não vai gostar de saber que você estava chorando, isso vai deixá-la triste, não é? — Tento conversar com ela para que ela esqueça o choro e graças a Deus, deu certo. Minha mãe não vem atrás e eu agradeço por isso, não estou afim de conversar agora, não consigo nem raciocinar direito, eu preciso de um tempo para mim. Entro no meu quarto e coloco Olívia na minha cama, ela se acomoda nos meus travesseiros e eu me sento ao seu lado lhe dando um beijo demorado no alto da cabeça, converso brevemente com ela para que se acalme, e me levanto indo para o banheiro, não quero perder tempo em casa porque assim como minha filha, eu também não quero ficar longe da minha mulher. Entro no banheiro me despindo e vou direto para o chuveiro, entrando na água fria para relaxar os músculos, deixo os jatos fortes da ducha baterem contra as minhas costas massageando o meu corpo. Sinto os meus olhos arderem como se pegassem fogo e minhas lágrimas descem se juntando as gotículas de água, meu coração doei, minha alma dói e minha mente ferve, me controlo para não soltar o grito preso na minha garganta e assustar a minha filha lá no quarto. — Patrícia... Meu amor... — Sussurro o seu nome sentindo um nó se formar na minha garganta. A mulher que eu demorei tanto para conquistar, que me amava e se declarava para mim agora não se lembra do nosso amor, não se lembra da nossa vida juntos, não se lembra que sou completamente louco por ela. Não sei por quanto tempo fiquei em baixo do chuveiro mas quando saio do banheiro, minha filha está dormindo depois de tanto que chorou. Admiro a minha princesinha por alguns instantes com os olhinhos inchados e esfrego as mãos no rosto, sigo para o closet e coloco uma cueca, uma calça de moletom e volto para o quarto, me deito com cuidado ao lado da minha filha e aproveito para descansar um pouco antes de volta para o hospital, não posso deixar a minha mulher sozinha mas também preciso dar mais atenção a minha filha, nesses dias em que fiquei no hospital eu quase não a vi, pois ela estava com a minha mãe e eu não saia do hospital para nada, até agora. — Grávida... A minha mulher está grávida... Ela vai me dar um filho. — Digo de olhos fechados me lembrando dessa novidade, e finalmente um sorriso de alegria de forma em meus lábios. Me viro para minha filha e ela ainda dorme, puxo-a para os meus braços e me permito dormir e descansar um pouco. Não teve como não sonhar com o dia em que nos casamos, o dia que era para ser o melhor das nossas vidas e se transformou em um pesadelo. Ouço os gritos desesperados do motorista e isso me preocupa. — OH MEU DEUS! OH MEU DEEEEUSS... — Grita apavorado e logo sinto o impacto da batida nos arremessando contra o banco da frente. — PATRÍCIA! Grito por ela assustado, tentando abraçar o seu corpo mas vejo com clareza a nossa Limusine girando, capotando inúmeras vezes e minha esposa gritando desesperada. — MIGUEL! AHHH! ME AJUDA! ME AJUDA SOCORRO! — Pede aos prantos tentando me segurar, mas vejo ela bater a cabeça no teto e é arremessada contra a porta do carro antes de bater a costela no frigobar. — OHHH... — Ela dá um grito agudo antes de desmaiar me deixando em chocado, tento amortecer o seu impacto mas não consigo. — PATRÍCIA! Meu amor...? AHHH... — Tento abraçar o seu corpo mas bato a cabeça em algum lugar e acabo perdendo os sentidos. Quando acordo consigo ver o meu corpo preso nas ferragens do carro, e Patrícia jogada com um dos bancos sobre o seu corpo e seus olhos arregalados, me encarando sem brilho algum, não vejo vida em seus olhos, só consigo ver o seu corpo ensanguentado, há sangue saindo dos seus ouvidos e da sua boca me deixando atordoado. — Patrícia? Reage meu amor...? Você não pode me deixar...! Por favor não faz isso comigo, minha vida...? Não faz isso comigo...? Você não pode estar morta! Você não pode estar morta...! Você não pode estar morta...! — Tento desesperadamente me soltar das ferragens mas não consigo. Sinto o meu coração bater acelerado e a sua imagem aos poucos desaparece me deixando amedrontado. — Não me deixa Patrícia...? Não me deixa...? Patrícia...? PATRÍCIAAAA! — Grito em pânico e acordo com a minha mãe e minha sogra ao meu lado me chamando. — Filho! Se acalma, meu amor! Patrícia está bem, ela ainda está no hospital mas ela está bem,filho, foi só um pesadelo, querido, está tudo bem. — Mamãe se senta ao meu lado espantada e eu estou ofegante, olhando para os lados tentando ver a verdade das suas palavras. — Cadê a Olívia? Onde está minha filha...? Porque me deixaram dormir tanto? Eu preciso voltar para o hospital! — Me levanto apressado e ainda assustado e corro para o meu closet. — Olívia acordou assustada com você gritando pela mãe dela e nos chamou, ela está na sala com Bruno, Allana foi para o hospital ficar com Patrícia... Você precisa tomar um banho para se acalmar, filho, você está molhado de suor, querido. — Mamãe entra no closet atrás de mim e só então sinto o suor escorrer pelo meu rosto e meu peito. — Eu falei com ela que não iria demorar, mamãe, porque não me acordou antes...? Como está Olívia? Ela ainda está chamado pela mãe? — Questiono enquanto pego uma roupa para me trocar e saio do closet novamente. — Sim, querido, ela ainda está chamando pela mãe mas seu irmão está tentando distraí-la até você se arrumar... Você precisava desse descanso por isso não te acordamos antes. — Ela para no meio do quarto e eu sigo para o banheiro. — Está bem, mamãe, arrume a minha filha pois vamos sair em poucos minutos, eu não me demoro, já descansei o suficiente. — Aviso antes de entrar no banheiro fechando a porta. Tomo um banho rápido pois estou ansioso para ver a minha mulher, esse maldito pesadelo está me perturbando a três dias mas não vou deixar isso me abalar, muito menos agora que ela está bem e está grávida. Ru preciso trazê-la pra casa o quanto antes, talvez assim ela possa recuperar logo a sua memória, eu quero que ela se lembre logo de mim e todos a nossa volta, não quero a minha mulher me evitando por não se lembrar que somos um casal. Depois do banho eu me arrumo correndo e sigo até a sala, encontro minha filha no colo do tio brincando empolgada depois de tanto que chorou, isso me deixa mais tranquilo. — Miguel, como você está, meu irmão? Ainda sente dores de cabeça? Está indo para o hospital? — Bruno se levanta com Olívia no colo vindo me abraçar. — Estou melhor, meu irmão, eu prometi a Patrícia que não iria demorar e acabei dormindo demais. Você me acompanha até o hospital para trazer Olívia pra casa? Não vão deixá-la dormir comigo no hospital, eu também prefiro que ela fique em casa. — Abraço-o apertado agradecido pelo apoio que ele está me dando nesse momento. — Só estávamos esperando por você, eu também quero ver a minha cunhada... Cara que loucura, a mamãe já me contou que ela perdeu a memória e não se lembra de ninguém, como você está lidando com isso? Você vai precisar ser muito paciente com ela. — Comenta atento e eu respiro fundo. — Nem me fala, Bruno, eu estava ao lado dela quando descobri que ela não se lembra de mim e nem de ninguém... p***a, cara, a minha mulher está grávida, eu vou ser pai de novo e não posso nem dar um beijo na minha esposa... Eu vou precisar reunir muita paciência porque eu já estou enlouquecendo. Vou ter que reconquistar a minha mulher depois de acabar de me casar com ela, pensa no trabalhão que vou ter de novo? — Conto pensativo mas sorrio só de pensar que minha esposa está me conhecendo agora e vou ter que trabalhar duro para tê-la de volta. — p**a merda, eu não queria estar na sua pele, menininho... Aii! Mamãe o que é isso? Não sou mais criança para apanhar. — O infeliz gargalha mas leva um puxão de orelha. — Olha a boca vocês dois! Tem uma criança pequena entre vocês e não quero a minha neta crescendo com essas palavras sujas na boca. — Mamãe nos repreende séria e nós nos seguramos para não rir. — Se for por isso a senhora ainda não bateu no Miguel, p***a só eu que apanho? Aiii...! Mamãe para! Isso dói sabia? — Bruno se afasta com Olívia no colo mas leva um beliscão na costela me fazendo sorrir. — Seu irmão acabou de sofrer um acidente, mas quando ele melhorar ele vai ter o que merece também. — Seu tom divertido faz minha filha gargalha no colo do tio, eu não suporto ver a minha filha chorando e ver esse sorriso largo em seu rosto é tudo para mim. — Vamos, Bruno! Já era para eu estar no hospital, não quero me atrasar mais. — Pego a minha carteira, telefone e as chaves do carro que eu havia deixado na mesa de centro. Nos despedimos da mamãe e saímos de casa no meu carro, depois Bruno volta com ele para trazer minha filha porque eu não pretendo voltar pra casa hoje. Depois de alguns longos minutos no trânsito eu finalmente estou estacionando na entrada do hospital, peço ao meu irmão para colocar o carro no estacionamento e nos encontrar no quarto da Patrícia, entro no hospital com a minha filha no colo e aviso na recepção que sou o marido dela e vim ficar com a minha esposa, logo a minha entrada é permitida. Subo para o quinto andar e logo estou entrando no quarto com Olívia, e vejo Patrícia chorando, ela se joga para o lado e vomita o chão, desço a minha filha do colo e corro para ajudá-la. — Patrícia? Meu amor o que está acontecendo com você? — Me aproximo rapidamente dela apavorado por mais uma vez vê-la nesse estado. — Mamãe...? Porque você tá passando m*l? — Pergunta Olívia já chorando apavorada e nesse momento entra alguns médicos e enfermeiras no quarto correndo. — O que está acontecendo? O que ela tem? Sra. Ferrari? O que está sentindo? — Pergunta um dos médico mas Patrícia está branca como uma vela. — Eu acabei de entrar, doutor, e a encontrei assim, ela já estava passando m*l quando eu entrei... Façam alguma coisa por favor! Ela está sofrendo e não quero vê-la assim! — Peço alterado sentindo o meu coração bater acelerado no peito. Sinto a minha filha abraçar as minhas pernas e só então percebo o quanto ela está assustada. — Ela está tendo reação ao remédio que deram a ela, precisamos neutralizar essa medicação por causa da grávida, rápido! Ou ela vai perde o bebê. — Explica o médico ainda mais nervoso que eu enquanto aplica um remédio no soro dela. — Quem deu esse remédio a ela sabendo que seria um risco para gravidez? Se minha mulher perder o meu filho por causa dessa medicação, eu vou processar esse hospital! Quem deu essa medicação a minha esposa sabe que ela teria uma reação? MAS QUE DROGA! — Questiono nervoso e nesse momento Bruno entra no quarto correndo até a mim. — O que está acontecendo, Miguel? O que houve com ela? — Pergunta pegando Olívia no colo e minha filha ainda chora. — Ela está tendo reação a uma medicação que deram a ela, minha mulher corre riscos de perder o meu filho... Eu não devia ter saído daqui, não devia! — Explico ainda nervoso sentindo o meu coração bater freneticamente pela raiva que me consome. — Leve a minha filha até a cantina, Bruno, quando Patrícia estiver melhor eu peço pra você trazê-la... Assim que você se acalmar o seu tio te trás, está bem meu amor...? Vai, Bruno! É a segunda vez que ela presencia isso hoje, não quero minha filha traumatizada com isso. — Peço enquanto me aproximo dos médicos e meu irmão sai rapidamente com a minha filha. Os médicos colocam Patrícia nos aparelhos e vejo que seus batimentos estão fracos, outros remédios são aplicados no soro e eu encho-os de perguntas atento a tudo, eles medem a sua pressão além de examiná-la minuciosamente e dizem que já está tudo bem, que Patrícia precisa descansar e por isso foi lhe dado um calmante, rapidamente vejo Patrícia dormir com uma máscara de oxigênio no rosto. — Me diz, Dr. Silvio? Quem deu a medicação anterior a minha esposa? Eu quero saber quem foi o responsável por colocar a vida da minha mulher e meu filho em risco, eu não vou aceitar essa irresponsabilidade já que na ficha dela tem todas as informações. — Questiono irritado e o médico respira fundo se aproximando de mim. — Não se preocupe, Sr. Ferrari, eu mesmo vou tomar todas as providências para descobrir quem administrou a medicação na sua esposa, quando eu tiver algo de concreto, venho pessoalmente falar com o senhor... Por hora a sua esposa precisa descansar pois ela está muito fraca, ela vomitou bastante então ela vai precisar de ajuda para se levantar caso precise tomar banho, ou algo do tipo, vou pedir para mandarem uma enfermeira para ajudá-la caso ela recuse a sua ajuda, por causa da perda de memória. — Explica calmamente mas em um tom sério e sei que ele não vai deixar esse assunto passar despercebido. — Obrigado, Dr. Silvio! Conto com o seu apoio em um momento como esse, sei que não vai descansar até descobrir o que de fato aconteceu não só por sermos conhecidos, mas também por ser um excelente profissional... Obrigado! — Aperto firme a sua mão e ele retribui com um olhar de confiança. — Não se preocupe, eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para sua esposa sair logo daqui, ela e o seu filho vão ficar bem. — Afirma ainda naquele seu tom confiante me fazendo respirar aliviado. Apenas agradeço e ele sai em seguida na companhia dos outros médicos e enfermeiros, nesse mesmo momento entram duas mulheres para limpar o vômito no chão e Allana entra atrás preocupada. — O que aconteceu, Miguel? O que houve com a Patrícia? — Pergunta nervosa e se aproxima da cama parando ao meu lado.
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