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1716 Words
LIZ 42 dias para o baile de inverno. Está complicado fazer algo que eu possa ser eu mesma e ao mesmo tempo não receber reclamações. Tudo que faço é concordar, nada mais. No time de torcida tem Madelaine que me cobra alguma melhora sempre. Ela só sabe me cobrar, todo dia algo diferente. Sempre mantenho a pose de "não me importo com nada", sendo que me importo com a m***a toda. E para piorar eu ainda tinha mais um período de Inglês e o meu professor o Sr. Jackson (sempre — SEMPRE PRA CARAMBA!) cospe enquanto fale. Nojento demais. Eu não sento naquele lugar por escolha, não mesmo. Só fui parar ali porque cheguei atrasada no primeiro dia e não é permitido mudar de lugar depois. Aposto que se fosse com a rainha Madelaine trariam até uma capa de chuva para ela. Sorrio e n**o com a cabeça, é melhor rir do que ficar irritada com uma bobeira dessas. Não gosto de sair toda cheia de gotículas da aula então com o tempo me adaptei a ficar de casaco mesmo que seja verão, o que não é, só para constar. Se fosse nos filmes eu seria uma coitada, uma líder de torcida bem desvalorizada, aquelas capacho da capitã. Única coisa diferente é que não sou burra, tirando isso sou eu mesma, onde mandam eu faço, sem pensar se gosto ou não. Não é para tanto, na verdade. Madelaine quer mandar em tudo, mas ela nunca consegue que eu fique com os caras do time de basquete ou futebol. Além de não ser p********a, porque isso é prostituição, eu não suporto garotos. Obviamente ninguém sabe que não curto garotos, porque gostar de homens deve ser requisito para entrar no time de torcida, só pode, só tem garota hétero (infelizmente). Como está bem óbvio eu não sou uma lésbica assumida. E isso me sufoca muito, tanto na escola quanto em casa. Sempre me sinto meio fora da caixa. Na semana passada mesmo, no dia de Ação de Graças, foi o pior dia do meu ano. Muitos parentes me pressionando e perguntando onde estava o meu namoradO. Primeiro que não gosto de garotOs e segundo como uma mulher (quase independente) não preciso de ninguém para ser feliz. Enfim, mais uma vez fui tachada como uma garota chata e metida. Eu fico muito irritada com isso tudo porque eles só falam de coisas que não quero falar e são extremamente toscos, como posso parecer com alguém que tenha paciência com esses parentes idiotas? Nem pude divagar mais um pouco quando percebi um mini avião de papel pousar nas minhas coxas perto da manga do meu casaco que estava meio cumprido demais (era o meu dia do lixo para roupas). Dia do lixo geralmente é o dia em que as pessoas que fazem dieta podem comer o que quiser, no meu caso posso usar o que quiser sem me importar com a m***a da opinião de Madelaine Becker. Não estava muito frio, mas estava usando meu casaco como p******o contra o Sr. Jackson e suas cuspidas. Ele estava do outro lado da sala então eu não precisava ficar com o livro praticamente no rosto. O que de fato era um milagre porque ele fica sempre na minha frente. Abro o papel que me jogaram e dando de cara com a caligrafia de Madelaine (não é tão bonita como eu esperava ser). Sr. Jackson deu bobeira e perdeu o momento que ela jogou isso, quando precisa ele não deixa de ver nada. "Ian me perguntou de você. Não vai querer sair nem mesmo com o capitão do time de futebol?" Reviro os olhos e amasso o papel colocando debaixo da mesa, eu tenho mania de colocar lixo ali. Não arrisco olhar para o lado direito porque sei que Madelaine estaria me vigiando a cada movimento. Fico nervosa e começo a batucar na parte debaixo da mesa. Lembro do papel que joguei na primeira aula que tive no dia com Sr. Jackson e passo a mão mais a fundo achando-o dobrado, lembro bem de tê-lo amassado mesmo que não me recorde o motivo de ter feito isso. Surge uma curiosidade repentina e abro o meu papel sem lembrar o que eu tinha escrito algo antes. Inclino para a esquerda, encostando na parede para ler minha caligrafia: "Não aguento mais, não sei o que fazer com a minha vida." Eu e minha mania de escrever em qualquer pedaço de papel o que estou pensando, é provável que esses minis desabafos ainda me coloquem em fria. Antes de ler a resposta da pessoa já fico nervosa. E se descobrirem que minha vida é uma m***a? Porém eu li mesmo assim: "Não se martirize com o que seja lá o que está acontecendo. Tudo vai ficar bem. :)" Devo responder? Primeiro que nem deveria ter deixado essa m***a escrita aqui e ainda estou considerando responder... O que tenho na cabeça? ***** Ao contrário do que era suposto, não fico esperando para que Madelaine saia na frente porque eu sei que ela me encurralaria na sala e me perguntaria sobre o Ian, então assim que o sinal soou, eu já estava com material junto para sair da sala. Com pressa corro para o corredor mais longe que consigo, entrando no banheiro ali e respirando fundo. Fico olhando meu reflexo no espelho, minhas roupas não eram o que Madelaine achava específico para uma líder de torcida. Eu que não viria de saia fazendo frio, não tem Madelaine nenhuma nesse mundo que me obrigue a isso. Meu casaco era enorme, na verdade não era meu e sim do meu irmão (roubei dele e nunca mais vou devolver). Meu jeans até que orgulharia a v***a ruiva (Madelaine Becker) por ser justo, já não sei dos meus vans o que ela acha. Geralmente eu venho como uma "lady", mas como hoje é meu dia do lixo não estou me importando com a aparência. — Oi. Está tudo bem? A garota me pergunta rapidamente antes que eu respondesse seu cumprimento. Acho que as pessoas não me deixam responder e falam rápido com medo que eu dê as costas para elas. — Está. Respondi, olhando para a menina no reflexo no espelho, ela estava com o semblante preocupado. Será que estou me olhando no espelho há muito tempo? Olhei uma última vez para ela antes de dar a volta em seu corpo e sair do banheiro. Não duvido nada de algum boato que estou passando m*l se espalhar ou até mesmo que posso estar grávida, no colégio as coisas são nesse nível. Se eles soubessem que eu nem transo, muito menos se transasse seria com alguém que pudesse me engravidar... Não teria como evitar para sempre, então, vou para o refeitório. Deixo meu material no armário e pego meu lanche, provavelmente sou uma das poucas pessoas que leva comida de casa (não confio na comida da escola). Entro no refeitório e de longe vejo Maya sozinha. Ela é minha melhor amiga e está sempre me apoiando em tudo, até mesmo na torcida por mais que ela não goste da maioria das meninas. Madelaine acena me chamando, fico um pouco irritada e olho para o lado ignorando-a. Um garoto piscou para mim aparentemente, me irritei mais e logo depois fiz a minha melhor expressão superior (isso sempre afasta os garotos). Não olhei mais para o lado do garoto e nem de Madelaine, só para frente onde Maya estava. — Oi, Lo. — Maya cantou ainda mexendo no celular, sem me olhar. Ela parece ter um sensor. Se minha amiga Rafa estivesse aqui falaria que é o meu cheiro de couro que me entrega (Maya não faz esse tipo de piada porque não sabe minha sexualidade, se soubesse com certeza faria). — Como sabe que sou eu? — A falação aumentou quando você entrou pela porta do refeitório. — Maya fingiu estar cansada enquanto falava, total escárnio de sua parte. — Pensei que fosse sentar com a "Mad". — Deixa de ser boba. Maya riu. Ela sabia que eu só ia sentar com Madelaine como última opção. Maya Turner é minha amiga desde o décimo ano, ela é um ano mais nova, então, não está no último ano como eu. Ela tem um corpão e aparece ser mais velha que eu por conta do físico maravilhoso. Na mentalidade não porque parece uma criança na maior parte do tempo, é conhecida por ser brincalhona e se dar bem com todos. Fico admirada por não ter vários seguidores em nossa mesa ou mesmo ela não ter me deixado ainda. Maya não é capaz disso, somos amigas mesmo (foi só drama meu). — Por que está com essa cara de m***a? Ela é bem direta também, se acostume. — Um garoto bobo piscou para mim e não é só isso, Becker quer que eu saia com o capitão do time de futebol. — Ian. — Maya diz e sorri maliciosa. — Ele não é nada m*l. — Você já pegou? Meu Deus, você é impossível! — Eu peguei? — Ela riu e jogou os cabelos para o lado para contar vantagem. — A gente se pegou, menina, durante uma noite inteira. Já falei que minha mente é fértil? Não? Pois ela é e odeio imaginar essas coisas... Heterossexuais. Fiz uma careta, das que nem mesmo consegui disfarçar. E sou boa em disfarce, aqui estou eu me escondendo no armário a vida toda. — Eca. — Eu recomendo. — Maya piscou e não entrou em detalhes porque sabia que eu não ia querer escutar, ela sabe quantas vezes já lhe cortei de contar os detalhes (na minha opinião bem sórdidos). — Estou fora. — Falei e peguei meu sanduíche. Maya me empurrou uma garrafinha de água, ela sempre me traz uma porque não bebo refrigerante. — Isso não é coisa para mim. — Sei... Maya ergue as sobrancelhas num movimento rápido, como se não fosse nada, mas sei que significa algo. Ela parece até chateada por alguns segundos, o que me deixa nervosa. E se ela desconfia da minha sexualidade e acha que não confio nela para contar deve estar chateada. Mas eu só não consigo falar isso com ela, não é por falta de tentar, já tive muitas crises de ansiedade só se pensar em contar para ela.
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