ANTES

973 Words
A noite estava silenciosa. A lua grande e brilhante no céu escuro e limpo era uma clara evidência do clima agradavelmente quente que a atmosfera continha. As estrelas formavam uma linha torta e deslumbrante nas entrelinhas manchadas de cinza a cima das nuvens, lembrando ás pagina rabiscadas de um caderno. Desorganizado, mas incrível. A cidade flutuava em um longo silêncio etéreo traduzido apenas pelo trânsito intenso e abafado que desembocava em todos os pontos da cidade. Pessoas voltavam- se para a atração central da cidade, onde o novo Parque de Atrações Vienna havia sido inaugurado, onde o núcleo de habitantes havia se reunido, o único ponto barulhento do local. A diversão havia impressionado a todos numa constante nuvem de sorrisos e gritos. A música alta abafava qualquer sinal frustrado de comunicação. Os convites, A Caminho das Estrelas 1 FALANGE Christyenne JottaA [10] avisos e folders da nova atração principal da cidade voavam em todas as direções, perdidos entre as pessoas que corriam de um lado para o outro entre os mecanismos vibrantes e luminosos espalhados por todos os cantos do enorme parque. O cheiro de algodão doce e pipoca com manteiga carregava o ambiente, transformando o aglomerado de pessoas em uma massa grudenta de açúcar e gargalhadas. A cidade estava completamente atraída pelo som da diversão. A ponto de ninguém notar o que estava acontecendo. Ninguém percebeu quando um clarão estranho fez com que as nuvens claras recuassem com um estrondo macio, como se uma tempestade estivesse se aproximando aos poucos. Mas então, alguma coisa mais foi abalada. Os céus tremeram de uma forma estranha, como se blocos de gelo cristalizados estivessem se quebrando, e os rabiscos estrelados passaram a mudar de forma, como se estivessem sendo reescritos, e então... tudo aconteceu. Todos começaram a notar quando as construções começaram a se abalar sob seus pés, como se um terremoto estivesse se aproximando. Mas era tarde demais. Gritos começaram a soar quando a Roda Gigante começou a dançar de um lado para o outro, ameaçando se deslocar de suas engrenagens. Então a correria começou, quando todos tentavam escapar do desastre eminente. Mas não havia nada que pudesse impedir. Ninguém pode perceber ao certo o quê ou como aconteceu, mas de um momento para o outro, era como se o Parque inteiro estivesse desmoronando. As faíscas começaram a saltar em todas as direções, o barulho de engrenagens sendo esmagadas abalou o restante das estruturas, e aos poucos, as luzes começaram a se apagar, uma a uma. Mas em outro lugar, havia alguém acompanhando a situação com os olhos vidrados. ― d***a, aconteceu! A linda garota de cabelos brancos correu ao encontro de seus binóculos, que haviam caído em algum lugar do caminho que havia tracejado em cima de um dos maiores arranha-céus da cidade escura. Mas quando o encontrou, não o mirou para a confusão ao longe que se seguia no novo Parque de Diversões da cidade, mas sim para cima, em direção aos céus. O que havia acontecido era mais do que óbvio. Suas mãos Caminho das Estrelas 1 FALANGE Christyenne JottaA [11] congeladas tremeram ao contar que a barreira que havia criado a cima das nuvens havia se estraçalhado em milhões de pedaços. ― E então, Dublemore? O que houve? Vai me dizer ou não? ― outra voz feminina e hipoteticamente assustada soou ao seu lado. A segunda garota usava uma roupa escura, e seus cabelos vermelhos estavam desgrenhados. Em meio ao vento impetuoso que uivava de um lado para o outro, ela parecia não ser atingida, mesmo que estivesse com seus braços brancos e marcados descobertos. Seus olhos profundamente azuis recriavam a cor dos céus durante uma tempestade. ― O que você acha? ― a garota gelada a sua frente cuspiu entre dentes, arremessando o binóculos à frente com toda a as força ― Não funcionou, ela passou! A segunda garota tremeu momentaneamente. ― Como você tem tanta certeza? ― Dê uma olhada nas estrelas, Arbo! Elas estão completamente desalinhadas. E se isso não bastar, observe a pequena confusão no Parque. Arbo chacoalhou a cabeça enquanto dava voltas ao redor de si mesma, como se não soubesse direito o que fazer ou como agir. ― Isso não vai prestar. Isso não vai prestar mesmo. Qual foi a última vez que uma coisa dessas aconteceu? d***a. Isso nunca aconteceu. ― ela parou de repente, gritando enquanto olhava para cima ― Que confusão é essa agora? ― Não adianta ficar fora de mente agora... ― Dublemore xingou enquanto se levantava as pressas ― Temos que agir. Agora mesmo. ― E o que exatamente você pretende fazer? ― Encontrá-la. Arbo parou um segundo, e depois gargalhou de uma maneira sinistra, fazendo com que o vento assoviasse ainda mais forte, desgrenhando ainda mais seus cabelos vermelhos. Mas não havia nenhum humor no riso. Como uma boneca eletrônica. ― Encontra-la? Você acha que vai ser tão simples assim? ― Não, não acho. ― Então? Foi a vez de Dublemore parar por um instante, como se considerasse seriamente o que iria propor. Não havia nada em seus movimentos ou em sua expressão que pudesse delatar parte de seus pensamentos agora, e era assim que Dublemore era. Uma pedra de gelo sem emoções. Havia apenas o frio. ― Vamos ter que Despertá-lo. Caminho das Estrelas 1 FALANGE Christyenne JottaA [12] Os olhos azuis de Arbo se abrirão mais em direção a ela. ― Despertar quem? Mas Dublemore já estava refazendo seu caminho, incomodada com a pergunta, por que Arbo provavelmente já sabia a resposta. ― O único que pode detê-la. ― Mas, Dublemore, você não pode... ― É claro que eu não posso... _ela sentenciou enquanto seus olhos cor de gelo miravam o Parque em plena destruição pela última vez ―, mas não tenho escolha. ― ela baixou o tom de voz ― nenhum de nós tem.
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