Paixão de uma lutadora

III – Conversa

Valentina estava exausta, como esperado o seu treinador pegou pesado, mas ela entendia, não perderia aquele cinturão por nada, era seu há dois anos e pretendia deixá-lo onde estar por mais algum tempo, na parede da sala do seu apartamento e as vezes na parede da academia.

- Preciso da minha cama. _ A lutadora disse ao pegar sua mochila e o celular antes de virar para a empresária.

- Tudo bem, eu também preciso ir para casa, tenho alguns documentos para rever, mas não esqueça que na quarta você tem uma entrevista.

- Não vou esquecer, vamos logo.

- Eu vou... _ A n***a fica sem jeito. – Vou dar uma carona para Bruna.

- Uou, uou, uou, quando isso aconteceu?

- Olha, não me venha com essa, não mandou eu falar com ela? Pois eu fui. É só uma carona.

            Juliana tentava se convencer disso também, pois já foi bem difícil para ela oferecer essa carona, em uma tentativa h******l de falar com a garota, Bruna com certeza era mais tímida do que ela mesma queria ser.

- Não vou me meter mais nisso, vai lá tigresa, pega aquela mulher de jeito.

- Valentina, sua doida.

            A morena sai da sala, sorrindo, logo estava dentro do seu carro, em direção a seu apartamento, apenas parou em um lugar para comprar comida e não demorou em estar em seu sofá, apenas de calça de moletom e top, comendo a comida mexicana que tanto ama. Só então depois de tanto tempo resolve dar uma olhada em seu celular, sorrindo bobamente ao ver que tinha uma mensagem da atriz.

- Ah, ruiva, não me dê motivos para correr atrás de você. _ Disse isso e leu a mensagem, achou algo simples, mas logo respondeu.

“Obrigada por não me achar uma escrota por aquela mensagem i****a. Não sou desagradável o tempo todo” (Emoji sorrindo com a língua de fora).

            Letícia acabou sorrindo ao receber a mensagem, estava assistindo a um filme em sua cama, mas sua atenção foi para o celular assim que ouviu o alerta de notificação.

- Responder ou não responder? Eis a questão.

            A ruiva analisa, mas parece que ela estava agindo com o impulso do t***o evidente que sentiu por aquela mulher.

“Prefiro acreditar que não seja desagradável, mas devo admirá-la por ter “comido” a mulher tão bem? Com certeza isso é uma coisa surpreendente”.

            Valentina se senta no sofá logo que recebe a mensagem.

- O que você está querendo, ruiva? Letícia, eu só preciso de uma pequena brecha.

“Eu tenho um grande nível de satisfação nesse quesito, porém não precisamos falar disso (ainda), sei que já deve ter escutando muito isso, porém eu sou clichê e insistente, mas... você é linda”.

            Letícia suspira, se ela a achava linda, o que dizer dela mesma? Valentina Duarte é de uma beleza que palavras são incapazes de descrever, apenas olhando para ter a ideia dessa imensidão.

“Hum... interessante. Mas fique ciente que você não fica atrás, apesar de eu ter certeza que você também já escutou muito isso, a mulher “comida” deve ter falado isso a você”.

            Valentina arqueia a sobrancelha, percebeu que aquele fato seria algo ainda muito falado por elas, pois Letícia se mostrava muito interessada nesse tópico, a lutadora só precisava descobrir o que aquilo significava.

“Ok, agora eu estou preocupada, você se interessou pela parte da “garota comida”, apesar de que eu confesso que não lembro de muitos detalhes, mas posso te garantir, a beleza dela nem chega aos pés da sua. Mas se não for pedir muito, podemos mudar de assunto? Quer dizer, podemos falar da minha f**a, mas preferiria falar de você”.

            Letícia acaba sorrindo, se acomodando melhor no sofá.

- Apenas conversar não tira pedaço de ninguém. _ Falou para si mesma.

“Certo, vamos lá, o que quer saber?”

            A lutadora também sorriu, mas se ela deu a brecha, aproveitaria o momento.

“Fale-me de você, o que quiser e puder”.

            Letícia pensou no que falar, mas optou pelo básico, pelo menos o que qualquer pessoa poderia encontrar na internet.

“Bom, me chamo Letícia Castro, tenho vinte e um anos, quase vinte e dois. Atriz começando a carreira nas telinhas agora, apesar de já ter feito muitas peças. Sou paulista, acho que só isso”.

            Valentina percebeu a precaução da garota em falar o básico e gostou disso, mostra que ela é cautelosa.

“Ótimo, mas tenho que dizer que já sabia disso tudo. Desculpa, mas pesquisei seu nome, não sou uma psicopata assassina, mas uma beleza como a sua não poderia deixar passar sem saber quem era”.

            Letícia sorri, pois ela fez exatamente o mesmo.

“Oh, não se preocupe, eu fiz o mesmo, então, por favor, me dê uma informação que eu não possa encontrar em algum site de fofoca, isso é constrangedor, mas é a realidade do mundo da mídia, saber lidar com isso é uma profissão à parte da escolhida”.

            Valentina analisou as palavras da mulher.

- Oh, Deus, além de linda é inteligente.

“Estou impressionada com você, confesso que agora estou mais curiosa para te conhecer, mas bem, acredito de verdade que não tenha nada que eu possa falar que não esteja na mídia, sou lutadora de MMA, tenho vinte e quatro anos, sou mineira, mas moro em São Paulo há alguns anos, meu pai é podre de rico e amo o que faço. Se quiser saber algo específico pode perguntar, sou transparente”.

            Realmente apenas informações que Letícia encontrou na internet. Aquilo era um tanto decepcionante, mas aceitável.

“Então estamos quites, não tenho nada a esconder, assim como sou transparente, pode fazer qualquer pergunta”.

            Valentina nunca foi de enrolar, não seria agora que começaria.

“Você me deu essa liberdade. Você curte garotas?”

            O coração da ruiva disparou, aquilo com certeza foi uma surpresa, não só pela pergunta em si, mas porque nem ela saberia responder, pois ela nunca falou isso em voz alta. A atriz respirou fundo, ainda olhando para o celular, não sabia o que dizer, como dizer ou se deveria dizer algo. Ficou assim por minutos, sem saber o que fazer.

“Oh, m***a, eu peguei pesado? Desculpa, desculpa, esquece que eu perguntei isso, só pensei que... na verdade nem sei o que pensei. Mas se fez sua pesquisa, sabe que sou bem resolvida quanto a minha sexualidade, acredito que a mensagem tenha deixado isso bem claro também, mas não se sinta pressionado, eu tenho umas brincadeiras meio pesadas, mas é só me mandar parar que eu paro. Perdão, Letícia, só esquece isso”.

            A ruiva ainda olhava para o celular, sentiu-se m*l por fazer a outra achar que estava fazendo algo errado, porém, aquele era um assunto delicado para Letícia, não só por sua profissão, que poderia ser c***l e renegá-la, mas também por sua família, se já era difícil para os pais aceitar que a garota deixou a faculdade de direito para fazer teatro, imagina então assumir sua sexualidade, coisa que não faz nem intimamente, ela não estava preparada para aquilo.

Já teve relações com mulheres, mas fazia questão de ser coisa de apenas uma noite, foi o que pensou em ter com aquela mulher, mas Valentina é mais famosa que ela. Aquilo poderia ser um problema.

“Entendo se não quiser mais falar comigo, apesar de acreditar que não seja motivo para isso, porém respeito. Tenha uma boa noite, ruiva!”.

- m***a!

            Foi o que a atriz disse ao receber a última mensagem, precisava dizer algo, mesmo que seja uma idiotice.

“Podemos nos falar amanhã? Estou som sono e terei ensaio muito cedo”.

            Valentina respirou fundo, mesmo sem estar na presença da garota, sabe exatamente o que estava acontecendo, já viu muitas garotas passando por aquele tipo de negação ou aceitação, para ela a coisa mais certa a se fazer era se manter longe, aprendeu da pior forma possível aquela lição.

“Claro, boa noite”.

            Letícia suspirou, pois sabe que aquela situação foi uma grande m***a.