Capítulo 00 - Um mundo injusto.

2884 Words
Meridia Mesmo que eu estivesse com falta de ar e minhas pernas não pudessem dar mais um passo, continuei correndo, porque eu tinha que me afastar daquele alfa bêbado que estava me perseguindo. Uma das coisas que sempre gostei em mim foi a minha boa forma física, que resultava ou do meu instinto de sobrevivência que estava sempre no máximo, ou porque eu era muito boa em esportes, não sei ao certo, mas o importante era que naquele instante consegui me esconder, escapando daquele homem que me assediava. No entanto, tive que esperar vários minutos até sentir que não estava mais em perigo para poder sair. Em completo silêncio naquele beco escuro e frio, eu me escondia atrás de uma lata de lixo, esperando o momento em que eu pudesse me sentir segura; a única coisa que eu ouvia naquele instante era a minha respiração agitada, e o meu coração batia tão forte por causa da agitação e do medo, que tive que levar uma das mãos ao peito para tentar me acalmar. Gotas de suor caíram pesadas da minha testa, eu até as senti pingando do meu queixo, mas eu estava tão assustada que nem me importei. Eram dez horas da noite, duas horas atrás eu tinha acabado de sair do meu trabalho, e quando desci do ônibus tive a infelicidade de acontecer isso comigo, o que era comum acontecer, lobisomens perseguindo garotas elfas sozinhas na rua para abusar delas. Já havia acontecido comigo em outras ocasiões, por isso que eu estava com medo. Depois de alguns minutos, percebo que já estou fora de perigo, então decido sair do esconderijo com muito cuidado, quando de repente vejo que o homem de quem eu estava fugindo durante todo aquele tempo, estava lá esperando por mim, como um predador perseguindo a sua presa. Eu nem o ouvi! Mas ele esteve sempre ali, esperando que eu saísse, e quando me viu, me empurrou contra a parede dizendo: ― Finalmente você saiu, orelhuda ― aquele homem diz em sua voz grave e aterrorizante. Como posso, tento escapar dele, mas aquele alfa era muito forte, e com uma incrível facilidade ele me levanta, segurando-me pelos antebraços e trazendo o seu terrível rosto para mais perto de mim. Estando muito próxima dele, consigo sentir o seu hálito fedido a álcool contra a minha face. Sem poder evitar, formo uma expressão de nojo no rosto, que aparentemente ofende aquele animal, pois sem qualquer tipo de contemplação ele me solta, apenas para me dar um forte tapa, que consegue me derrubar no piso molhado cheio de sujeira e lixo. O golpe me atordoa, mas não me importo, porque vejo uma garrafa no chão, e o mais rápido que posso me levanto em um salto apenas para jogá-la na cabeça dele. O lobisomem cambaleia com o impacto, que eu aproveito, pois me ocorre atingi-lo na virilha, o que foi suficiente para fazê-lo se ajoelhar, e agora, quando finalmente estamos na mesma altura, com toda a minha força eu golpeio a sua cara duas vezes com a minha bolsa, aproveitando o fato de que ele ainda estava reclamando da dor na cabeça e nas partes íntimas. Quando acho que é o suficiente, começo a fugir dali o mais rápido que consigo, e sempre olhando para trás com medo de que aquele animal estivesse atrás de mim pronto para me m*tar. Contudo, por estar correndo sem olhar por onde eu estava indo, não percebi que alguém estava vindo em minha direção, e quase como se tivesse colidido com uma parede, acabei me chocando com outro homem, fazendo-me mais uma vez cair no chão. Mas apesar disso, como posso, levanto-me imediatamente, aproveitando essa distração para sair correndo com todas as forças que me restaram para que nenhum dos dois conseguisse me alcançar. Trinta minutos depois... Quando já estou no ônibus voltando para casa, me sinto mais segura, porque o transporte público que eu usava era exclusivo para elfos, a maioria eram jovens como eu que trabalhavam na cidade; eu tinha acabado de fazer dezenove anos e todos ao meu redor pareciam da mesma idade. De vez em quando eu me virava para ver os poucos elfos que restavam no ônibus, e todos eles tinham rostos cansados e tristes como o meu. Muito provavelmente, eles também vieram de seus empregos na cidade, onde os lobisomens os exploravam até a exaustão por salários miseráveis, e sem terem o direito de reclamar, até porque, como eles iriam comer? Então era mais provável que todos como eu odiassem suas vidas, era fácil deduzir apenas olhando para os seus rostos. Então, quando finalmente chego ao meu bairro, que ficava na parte mais afastada da cidade, tudo fica escuro, porque o lugar onde eu morava não tinha eletricidade há dois anos. Todos na comunidade lutaram e lutaram para nos ajudar nessa questão, mas no final a luta foi em vão, então, atualmente vivíamos no escuro à noite, nos iluminando com velas ou lanternas, como se estivéssemos no século passado. Mas não me importava mais, eu já estava acostumada com a minha vida r**m. Peguei o meu celular modelo antigo para acender a lanterna, caso contrário não conseguiria abrir a porta da minha casa. Mas antes de entrar, suspiro profundamente e coloco o meu melhor sorriso ao adentrar a minha casa para cumprimentar a minha mãe. ― Olá mamãe, cheguei! ― exclamo me aproximando dela, para lhe dar um abraço e um beijo no rosto. ― Meridia, filha. Você chegou super tarde, eu estava muito preocupada. Deixei o seu jantar pronto. ― Mamãe, você não precisava ter feito nada para mim, você tem que descansar! ― exclamei, levando-a de volta para a cama. A minha mãe estava doente. Ela tinha uma doença rara que só afetava elfos com habilidades de cura, pois depois de usar a sua magia natural por muito tempo, ela parecia se voltar contra o elfo que a tinha, destruindo lentamente o seu corpo com diferentes doenças todos os dias. A sua condição era incurável, mas a única maneira de controlar a sua doença era com remédios muito caros, que eu comprava toda semana quando me pagavam o meu salário, e assim ela podia viver mais. A minha mãe era a única coisa que havia me sobrado, eu não tinha mais ninguém no mundo, então eu m*rria de medo de perdê-la, porque eu não queria ficar sozinha. Mas, além disso, não era segredo para ninguém que eu amava a minha mãe mais do que a mim mesma. ― Você deve estar com fome e exausta, filha. Você trabalha o dia todo limpando a casa daqueles alfas ricos, indo duas horas por dia para aquele bairro milionário. Então, é claro que irei cuidar de você quando chegar! Agora, não perca mais tempo e vá tomar banho, vou esquentar a sopa que fiz para você. ― Não se preocupe mamãe, você não deve fazer esforços, estou bem! Olhe para mim, nem estou cansada. Se eu estivesse cansada, acha que eu conseguiria fazer isso? ― digo pulando e começando a dançar, fazendo a minha mãe rir. Isso me enche de alegria. ― Isso é porque você é jovem. Deixa você chegar na minha idade para ver que não vai pular e dançar da mesma forma. Bem, então eu vou para a cama. Vou esperar você acordada para que possa me contar sobre o seu dia, ok? ― Sim, vá para a cama, mamãe. Vou tomar um banho rápido para jantar, e enquanto como, conto como foi o meu dia. Dito isso, levo a lanterna para o meu pequeno banheiro para me iluminar, quando entro paro de sorrir e começo a tirar a roupa lentamente. O meu corpo inteiro doía, mas fiz o possível para não reclamar, então comecei a cantarolar uma música para que a minha mãe não me ouvisse gemer. Quando tiro as minhas roupas velhas, me olho no espelho, as minhas costas inteiras estavam cheias de hematomas, e parte dos meus braços. Tenho que ser forte. ― Digo em meus pensamentos, enquanto, com muito cuidado, entro na pequena área do banheiro para limpar o meu corpo com a água gelada que estava em um grande recipiente e com um recipiente menor, começo a me molhar. Agradeço pela água estar muito fria, porque assim me ajudou a aliviar a dor dos meus hematomas. No dia seguinte... Como todos os dias, acordo às três da manhã para preparar a refeição da minha mãe para o dia e também para limpar a casa o mais rápido possível. Eu tinha dormido apenas três horas, mas já estava acostumada, então, ainda com os olhos pesados de sono, preparei o almoço da mamãe e o café da manhã. Enquanto a comida cozinhava no fogão, limpei o chão e organizei tudo o que não estava no lugar. Fiz tudo rápido, pois tinha que chegar no trabalho às nove da manhã, com no máximo dez minutos de atraso, porque senão a minha chefe ficaria brava comigo, e isso era o mínimo que eu queria, porque senão, o meu castigo seria pior... Então, quando termino tudo em tempo recorde, tomo um banho rápido, me vestindo com a primeira coisa que encontro no meu armário praticamente vazio, e em apenas seis minutos estou pronta. Despeço-me de minha mãe com um beijo e mesmo no meio da escuridão saio de casa. Quando estou no transporte público aproveito para dormir um pouco até chegar na cidade, essa viagem durava em torno de uma hora, então eu costumava descansar. E assim, quando finalmente chego ao meu destino, desço calmamente do ônibus para pegar o próximo transporte, que me levaria àquela área luxuosa onde moravam os meus patrões. Tudo estava acontecendo perfeitamente normal, quando vejo de longe uma motocicleta vir a toda velocidade, dirigindo de forma muito imprudente. Eu fico um pouco assustada, porque com certeza era um lobo alfa bêbado que estava dirigindo, e então o meu medo aumenta quando vejo como a moto perde o controle e acaba colidindo com um poste de luz, fazendo com que o piloto seja jogado para longe da motocicleta destruída pelo forte impacto. Sem poder evitar, cubro a boca com as mãos, gritando por causa do medo que senti, quando vi como o piloto caiu no chão rolando vários metros até acabar batendo na parede. Naquela hora, eram apenas cinco da manhã, ainda não havia amanhecido e tudo ao meu redor estava deserto, restando apenas o homem que sofreu o acidente e eu. E é por isso que corro em direção a ele, porque vejo que uma poça de sangue já estava se formando sob o seu corpo inconsciente. Eu tinha que me apressar! Aquele homem morreria mesmo sendo um lobo. Quando cheguei onde ele estava, percebi que ele era enorme, talvez mais de dois metros de altura, porque o seu corpo parecia bem grande deitado no chão, enfim, parei de pensar nessas futilidades e me coloquei de joelhos, vendo que a principal ferida vinha de sua perna direita. Como a minha mãe tinha sido uma curandeira a vida toda, ela me ensinou certas coisas, e embora que eu não tivesse poderes de cura como ela tinha, eu sabia o que deveria ser feito em caso de hemorragia, sendo assim, sem me importar com nada, r***o a barra do meu vestido. O tecido velho era fraco, o que facilitou a minha tarefa. O mais rápido que pude, tirei da bolsa a faca que decidi levar comigo hoje para me defender em emergências, e com ela rasguei a calça onde estava o ferimento. Por todos os deuses élficos! Aquele lobisomem estava sangrando muito, se eu não me apressasse ele poderia morrer na hora, faço rapidamente um torniquete para estancar o sangramento, logo minhas mãos estão cobertas com o sangue dele, e quando amarro a sua enorme perna com força, o mais rápido que posso, tiro da minha bolsa algumas ervas curandeiras que eu sempre carregava comigo, para o meu próprio uso em emergências. Eu estava sempre preparada, porque nunca se sabia quando um lobisomem poderia me atacar e me machucar, contudo, dessa vez, usei as minhas ervas nele. Alguns minutos depois, respirei fundo, porque o sangramento principal estava sob controle, no entanto, o homem ainda estava inconsciente. Eu medi o seu pulso e ele ainda estava vivo; como eu nunca tinha estado tão perto de um lobisomem tão grande, aproveitei para retirar o seu capacete, e ao fazer isso, percebi que ele tinha longos cabelos castanhos e na testa uma ferida que sangrava muito. Então, também passei pomada nessa área, e em seguida liguei para o pronto-socorro para que eles o tratassem da forma devida. Após o terceiro toque, eles me atendem. ― Olá, bom dia, houve um acidente de moto na avenida Wilshire, entre a terceira e a segunda rua, por favor, venha rápido! ― eu digo em um tom de voz desesperado, ainda observando o lobisomem. ― O cidadão ferido é um lobo ou um elfo? Quando ouço aquela pergunta, franzo os lábios, porque sabia que, se aquele homem fosse um elfo, eu nem me daria ao trabalho de fazer essa ligação, pois certamente ninguém viria para ajudá-lo. Mais uma vez, quando me lembro de como a sociedade era injusta conosco, sinto um nó no coração, mas decido deixar de lado os meus sentimentos tolos para responder dizendo: ― Ele é um lobisomem ― respondo em um tom de voz sério. ― Categoria do cidadão, por favor. Na sociedade em que vivíamos, apenas os lobisomens eram regidos por categorias: haviam os lobos beta, ômegas, e os mais importantes que eram os alfas. Os alfas atuais caracterizavam-se por terem um anel azul no dedo anelar esquerdo, o que indicava o seu status para o restante da população, porém, também havia subcategorias para os alfas, pois, se o anel tivesse um rubi, significava que o alfa era renomado. Imediatamente verifico a mão esquerda do homem, percebendo que ele era um alfa distinto! Eu instantaneamente engulo em seco, dizendo: ― Ele é um alfa de alto escalão, senhor! O anel dele tem um rubi! ― exclamei, olhando atentamente para aquele homem que sofreu o acidente, ao mesmo tempo em que ouvia a resposta da chamada de emergência que dizia: ― Estamos indo imediatamente! Se tiver prestado um falso testemunho, será presa por mentir para uma entidade pública, uma ambulância estará aí em cinco minutos. Depois de dizer essas palavras, a pessoa que me atendeu desliga a ligação, e eu fico lá, esperando que eles venham ajudar, olhando para aquele alfa de alto escalão. Por que a moto dele havia batido? Foi muito estranho, mas apesar disso, eu preferia não pensar muito e aproveito o fato de estar bem perto dele para segurar a sua mão, era enorme! Eu parecia muito pequena ao lado dele. E assim, enquanto ainda estou esperando a ambulância chegar, verifico a hora no meu celular, percebendo que eu ainda estava dentro do meu horário, mas enquanto eu estava pensando nas minhas coisas, vejo o distinto alfa começar a se mexer. Ele estava recuperando a consciência! Aparentemente, as minhas ervas e os meus cuidados funcionaram. O homem abre os olhos lentamente, fico na frente dele, olhando-o com cuidado, percebendo que ele tinha enormes olhos verdes. ― Eles virão te ajudar, senhor, não se mova, você pode ter uma fratura! Depois de dizer essas palavras para ele, tento formar um sorriso nos lábios, mas que nunca consegue sair, porque agora que aquele alfa estava acordado, comecei a sentir o clássico medo que eu tinha daqueles homens. Porém, com os olhos apertados ele diz: ― Você é um anjo, eu estou m*rto? Quando ele diz isso, eu formo uma expressão de espanto no meu rosto, pois mesmo que os olhos do lobo estivessem meio abertos, ele ainda não estava totalmente consciente, é por isso que com humor acabo dizendo: ― S-Sim... eu sou um anjo, você está fora de perigo agora. ― Respondo timidamente, assim que a ambulância e os paramédicos chegam. A primeira coisa que eles fazem é me empurrar violentamente para o lado, para examinar os sinais vitais do lobo, e como se eu não existisse, me levanto do chão, deixando que eles o levassem enquanto o colocavam em uma maca. Quando os paramédicos olharam para o anel de rubi no dedo daquele homem, todos começaram a se mover mais rápido. Quando os vejo levá-lo, formo um pequeno sorriso no rosto, porque pelo menos fiz uma boa ação, mesmo sabendo que não me faria bem ajudar um alfa, muito menos um alfa de classe alta, mas apesar de tudo, me senti bem comigo mesma. Desço o olhar para as minhas mãos e elas estavam com sangue seco do alfa, e parte da minha saia também estava suja. Com a água que eu tinha para o meu consumo, limpei as mãos e as zonas da pele que ficaram manchadas. ― Ainda tenho tempo, espero que o ônibus não fique muito cheio... ― Comento, começando a andar rápido, observando como as pessoas começaram a encher a avenida, especialmente os carros dos lobos, eles já começavam a trafegar, dando a entender que o dia já havia iniciado. E assim, enquanto eu caminhava em um ritmo acelerado como o de costume, não fazia ideia de que aquele encontro com aquele homem mudaria a minha triste vida para sempre.
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