CAPÍTULO — OS OITO CAMPEÕES DE ASTREON

1356 Words
O salão estava silenciado, como se todos esperassem um único comando para respirar. As bandeiras das Casas ondulavam, cada uma representando um estilo de guerra… e um pedaço da história do reino. Um arauto magro, pálido, com o uniforme azul prateado, deu dois passos à frente e ergueu a voz: — Povo de Astreon. Com a morte do rei e a ausência de herdeiros, o Torneio de Sangue será realizado. Apresentem… os campeões. A tensão caiu como uma corrente elétrica. CASA I — O COLOSSO DE FERRO: RAGNOR O chão tremeu quando ele avançou. Três metros de altura. Braços como vigas. Cicatrizes que mais pareciam mapas de guerra. Ele ergueu o martelo forjado com aço proibido e rugiu para o salão, como um animal marcado pela violência. A plateia vibrou. Kaela apenas ergueu um dos olhos felinos, avaliando. “Lento.” Foi tudo que ela pensou. CASA II — A DONZELA DE FERRO: LYRIA O som da armadura dela era como uma música ensaiada. A campeã da Casa II caminhava com disciplina, elegância militar e zero espaço para emoção. Cabia nela um mito de 120 vitórias seguidas. A máscara de ferro ocultava o rosto. Só os olhos — frios como gelo quebrado — encaravam Kaela. E Kaela encarou de volta. Duas predadoras reconhecendo uma à outra. CASA III — O SACERDOTE n***o: MALZAHAR Envuelto em mantos escuros, com símbolos proibidos pintados na pele, ele parecia mais espírito do que homem. Suas mãos carregavam lâminas curvas. — Eu vejo morte no ar — murmurou, CASA IV — O MERCENÁRIO REAL: KORVEN Arma nenhuma. Só as mãos nuas. Korven era famoso por matar com as próprias falanges e por rir enquanto fazia isso. O corpo dele era uma coleção de tatuagens de guerra. Ele encontrou o olhar de Kaela e inclinou a cabeça, curioso. — Você… não se dobra, não é? Ela respondeu apenas com um arqueio de sobrancelha. Provocação pura. CASA V — A SERPENTE DOURADA: NADIA A outra mulher entre os campeões. Alta, sinuosa, com movimentos que pareciam dança e veneno ao mesmo tempo. Ela era especialista em lâminas leves, rápidas e imperceptíveis. CASA VI — O GUERREIRO SILENCIOSO: YORAN Ele não falava desde os 14 anos. E dizem que ele matou quem tentou forçá-lo a falar. Sua armadura era leve, seu olhar era mortal. CASA VII — O PRÍNCIPE DE AÇO: AIDEN VALERIUS O salão inteiro vibrou quando ele avançou. Aiden andava como se o chão pertencesse a ele. Armadura sem excessos. Capa n***a. O rosto marcado por treinos, não luxos. Ele parou diante dos outros campeões… e quando seus olhos encontraram os de Kaela, o ar simplesmente sumiu do salão. Ele pensou: “Quem é ela?” CASA VIII — A FERA ENCAPIUZADA: KAELA Quando o arauto anunciou: — Casa VIII… Kaela da Ruína. Um murmúrio percorreu o salão. Alguns riram. Alguns xingaram. Outros sentiram arrepios. Kaela avançou devagar… felina… letal… O capuz ocultando quase tudo. Só aqueles olhos brilhando, capazes de cortar até ferro. A roupa simples, justa, feita para guerra, fez muitos nobres desviarem o olhar com desprezo. — Indecente — sussurrou uma duquesa. — Selvagem — cochichou um general. Mas os campeões…não tiraram os olhos dela. Como uma pessoa das ruínas imaginou que iria chegar a governar?. A postura, ombros firmes, O jeito que ela se movia como se já soubesse que poderia matar qualquer um ali. E Aiden… Aiden parecia hipnotizado. Quem diabos era aquela mulher? O DISCURSO DO CONSELHO O Grão-Chanceler subiu ao púlpito. Velho. Olhos vazios. A alma de alguém que já assinou muitas mortes sem piscar. Ele ergueu a voz: — Com a morte de nosso rei, o destino de Astreon será decidido pela força. O Torneio de Sangue começará ao amanhecer da lua de sangue. A multidão prendeu o fôlego. — Somente um campeão sobreviverá. — Somente um reino governará. — Três regras são imutáveis: Ele ergue um dedo. 1. Nenhum campeão pode recuar ou desistir. Segundo dedo. 2. Interferência externa resultará em execução imediata. Terceiro dedo. 3. O vencedor, e APENAS ele, assumirá o trono. Silêncio. Pesado. Mortal. Definitivo. O Chanceler concluiu: — Que Astreon veja quem é digno de viver… e quem deve cair. ALOJAMENTOS E OLHARES QUE CORTAM Após o discurso, guardas abriram as portas laterais do salão e começaram a conduzir os campeões pelos corredores internos do Palácio de Aço. O barulho dos passos ecoava nas paredes metálicas enquanto cada Casa era guiada a seus aposentos. As acomodações eram posicionadas de forma estratégica: Os mais temidos , mais perto da arena. Os nobres, mais perto das torres superiores. Os renegados… escondidos nos níveis mais baixos. Kaela obviamente foi levada para o último nível, escuro, úmido, frio, com paredes rachadas e cheiro de ferrugem. O corredor estreitou, e três campeões acabaram caminhando lado a lado: Kaela, Korven, o mercenário, E Aiden, o príncipe. Kaela sentiu os olhares dos dois homens nela. Korven abriu um sorriso torto, apreciativo, descarado: — Você anda como quem sabe o que faz, encapuzada. Esse seu olhar… parece que já matou reis ou se deitou com eles. Kaela virou só um pouco o rosto na direção dele. A boca oculta pelo capuz, mas os olhos… os olhos diziam “continue e eu arranco sua língua”. Aiden observou cada segundo. E algo queimou dentro dele. — Controle-se, Korven — disse o príncipe, a voz grave, baixa. — Ela não está aqui para suas brincadeiras. — E você está? — Korven riu, provocando. Aiden deu um passo à frente. Kaela já levou a mão lentamente ao cabo da arma. O ar ficou pesado. Cheio de violência… e outra coisa que ninguém ousava admitir. Foi o guarda-chefe que quebrou a tensão: — Campeões! Alojamentos! Agora! Korven foi arrastado para a ala oeste. Kaela e Aiden ainda ficaram frente a frente por três segundos perigosos. Ele olhou diretamente nos olhos dela. Profundos. Felinos. Hipnóticos. E disse, bem baixo, só pra ela: — Você não devia estar aqui… Kaela não respondeu. Só virou o rosto e seguiu o guarda, mostrando que não temia príncipe nenhum. Mas por dentro? O coração dela deu um golpe contra o peito. CAPÍTULO 5 — A PRIMEIRA NOITE DOS CAMPEÕES O Palácio se silenciou quando a noite caiu, e cada campeão encarou seus próprios demônios. KAELA — O QUARTO DE RUÍNAS Seu alojamento era um cubículo com cama dura, uma lâmina velha e uma janela estreita com vista para a fumaça para os fenos queimando.. Ela tirou o capuz devagar. Seu cabelo caiu nos ombros como uma sombra viva. E então, respirou. Fundo. Lento. Perigoso. Ela tirou o couro desgastado do peito, revelando as cicatrizes antigas, cada uma uma história de sobrevivência. Kaela não sentia medo. Só raiva. Raiva do mundo. Do reino. Das Casas. E do príncipe i****a que a olhou como se pudesse vê-la de verdade. Ela se deitou, mas o corpo ainda vibrava. Como se algo estivesse prestes a explodir. AIDEN — A TORRE DE AÇO Aiden estava em seus aposentos luxuosos, mas ele não se sentia confortável. Ele tirou a armadura, apoiando-a na mesa. Sentou na beirada da cama larga… mas só conseguia pensar nela. Na campeã encapuzada. No olhar selvagem. No jeito como ela parecia não temer ninguém. Nem ele. “Quem é você?” A pergunta latejava. Ele se levantou, praticou golpes com a espada no ar, mas a imagem dela não saía da cabeça. O príncipe estava acostumado a ser admirado. Temido. Respeitado. Mas Kaela? Kaela o olhou como se ele fosse só… mais um. E isso o inquietou. O provocou. O atiçou. Aiden nunca desejou perigo. Até agora. KORVEN — A ALA OESTE Korven não conseguiu dormir. Ele riu sozinho, lembrando da postura dela. Dos olhos dela. Do jeito que ela ignorou os dois homens mais fortes do salão como se fossem poeira. — Aquela mulher vai destruir alguém… — murmurou. — Talvez eu queira ver isso de perto. Ele afiou suas lâminas pensando nela. E esse pensamento o deixou ansioso. Excitado. Alertado. A cidade dormia. Mas dentro do Palácio de Aço? Algo acordava. Algo selvagem. Algo inevitável. O destino estava se movendo e Kaela era o centro dele.
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