Capítulo 4 - O segundo lado da moeda

3024 Words
- Oi Vivi, o que faz aqui? - pergunto com um sorriso no rosto. - Eu estava em casa sozinha, aí fiz biscoitos com gotas de chocolate e lembrei que você falou que gosta. - Ela pega uma vasilha cheia de biscoitos que estava no sofá e me dá. - Você é maravilhosa. - retiro a tampa que os cobre e como um. - Que delícia. Vamos pro meu quarto. - subimos as escadas e entramos em meu santuário. - Seu quarto é lindo. Quem fez esse retrato? -ela olha para o meu auto retrato, na parede azul clara. - Eu! - digo ao comer mais um biscoito. - Você sabe pintar muito bem. - seus olhos vão para os outros dois quadros em preto e branco, um é uma floresta e o outro um banco no meio da floresta. - Só tenho que achar inspirações mais alegres. - A arte não precisa ser feliz para ser arte. - Ela me olha com um sorriso. - Pensando bem, você está certa. Agora o que vamos fazer? - eu olho pelo meu quarto. Minha estante marrom com livros do chão ao teto, minha tevê grande na parede ao meu lado direito e as portas do meu closet e banheiro na lateral do quarto. - Que tal um filme ou série? - Vivi se jogou em minha cama. - Quais você tem? - peguei o controle da televisão, fui para minha lista de séries e filmes. - Vamos assistir Dr House, já estou na metade da série. - Vivi fala. Começamos a ver a série que já vi um milhão de vezes. Ficamos na cama vendo a terceira temporada até que dá a hora do almoço. Descemos e pegamos duas lasanhas, eu peguei uma de presunto e queijo, Vivi quatro queijos, sabor que não aprecio muito. Assim que o relógio marca oito horas da noite, Vivi vai para casa. E eu para o estúdio. Começo a pintar um céu estrelado, e um gramado com pessoas em formas geométricas. Meu quadro seguinte é uma mão que tem em sua palma pessoas, e alguns objetos luxuosos. Acho que esse retrata o que Carter quer. Deixo o quadro no estúdio e volto para meu quarto. Amanhã tenho aula, e à tarde vou ao banco. Ao sentar na cama percebo o quão cansada estou. Em segundos caio em um sono pesado. ____________________________ - Minha querida, não tenha medo do amor, pois ele irá te reerguer. - minha bela mãe está com seu vestido branco de casamento. Ela toca levemente em minha mão, antes de sumir em meio à uma luz forte que cobre o jardim. _________________________________ Acordo atordoada, sei que sonhei com minha mãe, mas por quê ela me disse isso? Olho para o relógio ao lado de minha cama, são 5:45, resolvo levantar e tomar meu banho. Saio do banheiro sem a toalha, entro em meu closet e pego uma lingerie rosa de renda, uma camisa do Pink Floyd e uma blusa de frio moletom aberta preta, e minha calça skinny azul escura. Desço as escadas. Vejo meu pai e minha irmã na cozinha. Passo por eles sem olhar para suas caras. - Bom dia Samira. - Cintia me cumprimenta. - Bom dia. - Pego meu suco de sempre, uma maçã e um pedaço de bolo de milho. - Tchau Cintia. - Saio da cozinha, sem olhar para Paul. Começo meu dia na escola como os outros de antes das férias, piadinhas sem graça e aulas entediantes. ________________ Paul narrando (Pai de Samira) Fico encarando a foto da minha doce Elisa. Por que os anjos tinham que te levar meu amor? Passamos por tantas coisas. Eu era de uma família pobre e Elisa de uma família rica e tradicional, seus conceitos de casamento não envolviam amor, mas sim dinheiro. A família dela era de agricultores e meus pais eram médicos. Não tinham moradia fixa por serem ciganos. Que engraçado médicos ciganos, nunca entendi esse amor pela medicina e pela liberdade. Nunca gostei de biologia na escola e nem das ciências do corpo humano, eu adorava os cálculos e me perdia em livros de álgebra. Conheci Elisa quando estava em uma nova escola para fazer o ensino médio. Foi aqui em Nova York que conheci a mulher mais linda que meus olhos podiam ver. Seus cabelos castanhos compridos, olhos na cor castanha, sua voz doce e tímida, e para complementar seu corpo curvilíneo desenhado à mão por Deus. Por sorte éramos da mesma sala, sempre fui comunicativo, então logo fiz amizade com a menina tímida que estava gostando. Então ficamos um ano mantendo nossa amizade, até que a festa de despedida do colégio chegou. Nesse dia ela estava linda, uma verdadeira mulher, com um vestido rosado com os ombros à mostra. Quando a levei para casa não resisti e a beijei. O susto que ela levou foi substituído por seus toques em meus cabelos, o toque de um anjo. Naquele dia nós nos amamos como se não houvesse um amanhã, esquecemos de seus pais e de nosso possível futuro separados. Depois de um mês, estávamos namorando em segredo, somente para os pais dela. Meus pais tinham resolvido se firmar em um hospital em NY e eu faria faculdade de contabilidade, Elisa faria artes, pelo menos nisso seus pais não se opuseram. Mas assim que aquele mês passou, algumas coisas em Elisa mudaram, como seu corpo e seus hábitos alimentares. Ela começou a se enjoar com alguns cheiros e ter desejos estranhos, logo suspeitamos de sua gravidez. Quando o exame deu positivo nossa alegria foi imensa, menos pela reação de seus pais que os expulsaram de casa. Meus pais deixaram com maior prazer ela morar conosco. Com o tempo eu me formei, enquanto Elisa se esforçava com boas notas para realizar seu sonho de uma bolsa de estudos. Sua gestação foi tranquila e quando os nove meses se completaram nossa Cintia nasceu. Com os cabelos pretos iguais aos meus, pele clara igual a da mãe e meus olhos cor de mel. Nosso pequeno anjinho cresceu forte e saudável, nos dando muito orgulho e amor. Depois de alguns anos descobrimos a vinda de Samira. A gestação foi ainda mais tranquila que a de Cintia. Elisa não tinha muitos enjoos e nem desejos malucos o tempo todo. Samira nasceu dois dias depois dos nove meses, ela era idêntica a Elisa e não tinha nada meu. Fiquei feliz em ter uma cópia do meu amor, até que recebemos a notícia de um nódulo no útero de Elisa. O médico disse que com os remédios tudo voltaria ao normal, mas nada não voltou ao normal mesmo com um tratamento de anos, tudo se agravou. A única saída era fazer retirada do útero, como algo tão pequeno pode ter se transformado em pouco tempo sem supervisão em um atestado de óbito? Ela estava tão bem, mas de uma hora para outra uma infecção pós cirurgia tirou toda a esperança de uma boa recuperação. Ela entrou em coma e em menos de uma semana, no dia do aniversário de Samira, Elisa nos deixou. Aquele dia marcou nossas vidas para sempre, mesmo que eu tente, não consigo fazer o que prometi para Elisa em seu leito de morte. - Paul quero que você proteja nossas filhas....cuide delas com sua vida. Se elas caírem levante as duas. Mesmo que elas estejam com medo e você também, as protejam de seus monstros. Cuide de nossas filhas com todo o amor que sempre tivemos um pelo outro. E assim Elisa foi me pedindo para proteger nossas filhas. Coisa que só estou fazendo com Cintia. Sei que não é culpa de Samira, só que por ter acontecido tudo depois do parto de Samira, passei há culpa-la. Não só pela perda, mas também por todos os erros cometidos antes de sua vinda. Essa é uma forma de sentir menos dor. Ver a copia perfeita do amor de nossas vidas que se foi, dói demais. Só que desde ontem, não tiro as palavras de Carter da minha mente "Só lhe digo uma coisa, ela nunca deixará de te amar; mas quando ela perceber que você não vale a pena, não vai querer mais você, sentirá tudo aquilo que você demonstra para ela, e aí meu amigo você vai se arrepender de seus atos." Mesmo eu vendo a angústia de Samira durante seu pesadelo, ainda não sinto vontade de mudar meus atos. Sei que erro, mas não posso mudar aquilo que me conforta. Samira narrando - Você e ele estão se pegando? -Vivi me pergunta assim que atravessamos a rua do colégio. - Sim. - falo com as bochechas coradas. A rua de nossa escola sempre fica lotada de carros estacionados, assim que chegamos na esquina do colégio, vejo o carro de Carter. - Não pode ser ele. - digo sem acreditar. Continuo a andar com Viviane falando sobre lingeries sexys e como enlouquecer um homem, ela não consegue se conter depois de ver um filme francês. Estou rindo de suas palavras de conquista, passamos pelo carro que eu achava ser de Carter. Quando faço a menção de virar para a direita naquela esquina, meu corpo é abraçado por trás e eu dou um grito. - p***a. - grito nervosa. Vivi gargalha. - Oi pequena. - Carter morde o lóbulo da minha orelha, um arrepio gostoso me percorre. - Carter não me assuste assim. E você sua tapada está rindo do que? -Vivi ainda ri. - Você assustada é engraçado demais Sam. - olho para Vivi furiosa, ela levanta os braços em sinal de rendição. - Carter, o que faz aqui? - ele não me responde, somente ataca meus lábios. Carter tem o poder de me tirar de qualquer foco. - Eu vim te convidar para almoçar comigo. - ele fala com um sorriso contido. - Tudo bem. - Vivi começa a tossir. - Já que isso tá me dando ataque de diabetes, vou pra casa tomar insulina, vocês são muito melosos. - ela me dá um beijo na minha bochecha e acena para Carter. - Onde vamos? - pergunto assim que entro no seu carro preto. - Para minha casa, fiz algo para nós lá. - ficamos em silêncio somente escutando o som dos carros na rua e o rádio no car A música Ghost Town do Adam Lambert começa a tocar, parece-me definir alguns trechos. Começo a cantar alguns trechos que falam sobre um coração solitário. Quando Carter para seu carro no segundo semáforo ele aperta minha coxa carinhosamente. - Você tem uma voz maravilhosa, sempre me impressionando com sua beleza. - Carter me dá um selinho antes de tomar seu foco na direção. - Hum, obrigada. - digo envergonhada, eu nunca sei como reagir quando ele me elogia. ______________________________ Chegamos à garagem de seu prédio. Carter desce do carro para abrir minha porta. Pego minha mochila e coloco em minhas costas. - Eu sonho em fazer tantas coisas com você, mas não quero nos machucar por minha pressa. - Carter me prensa na porta de seu carro, posso sentir cada centímetro da parte frontal de seu lindo corpo. Seus lábios enlouquecem os meus, me deixando sem ar, mandando minha sanidade para o inferno. Sinto sua ereção em minha barriga, um gemido escapa de meus lábios fazendo Carter se juntar mais ao meu corpo. - Sam, Sam, Sam, o que vou fazer com você? - você poderia me querer como sua, me querer ao seu lado. Não vou dizer isso, pois sei que quando ele se cansar de mim vai encontrar outra, uma mais segura de si do que eu. Esse pensamento me deixa triste. - Vamos subir Carter. - ele me olha sem entender nada, mas se afasta de meu corpo e me guia até o elevador. Fico pensando em minha vida, nesse curto tempo que estou no elevador com Carter. Eu acho que vamos sempre continuar desse jeito, ou até o momento que eu parar de dar sempre um passo para trás. - O que está pensando Sam? - Em nada demais. - suspiro e saio junto a ele do elevador. Pensar nisso me entristece. Deixo minha mochila no sofá de Carter, vou até o banheiro e lavo minhas mãos. Sinto um cheiro maravilhoso vindo da cozinha. Tiro meu moletom e fico com minha blusa do Pink Floyd que mais parece um cropped, que deixa meu umbigo à mostra. - Que cheiro delicioso. - Sente aí que já te sirvo. - ele continua preparando sua comida de aroma inebriante. Começo a mexer no meu celular, meu cabelo que estava preso em um coque solta. - Sam. - levanto minha cabeça e olho para aquele homem lindo à minha frente. - O que foi Carter? - pergunto sorrindo. - Seu cabelo é lindo. - fico envergonhada por seu olhar sobre mim. - Obrigada. - sou servida com um prato de strogonoff. - Eu adoro strogonoff de frango. - olha na mesa e vejo batata palha, coloco um pouco no prato e começo a comer. - Já fiz o quadro que me pediu. - procuro a foto do quadro em meu celular. Lhe entrego o aparelho. - Nossa ficou incrível, minha mãe vai adorar. - Carter se entristece ao falar da mãe. - Está tudo bem Carter? - ele me olha e tenta voltar ao normal. - Você e sua mãe não se dão bem? - Ela não é um exemplo de mãe, pois me deixou em um colégio interno dos nove aos dezoito anos, mas eu ainda consigo amar ela como minha mãe. - Sei do que está falando, mas cada um tem seus motivos para ter tais ações. Vamos falar de outra coisa. - digo animada tentando animar Carter. - Vamos sim, como está seu retorno às aulas? - Mesma coisa de sempre, só que ainda não mexeram comigo, como é de costume. - Por que mexem com você? - rio sem humor. - Só porque sou tachada como a nerd da sala. Nunca mexo com ninguém, as únicas amizades que tenho são você e a Vivi. Filipe e sua turma adoram me atormentar, ele disse para mim algo no primeiro dia de aula, não gostei da ideia. - falo com nojo. - O que ele te disse? - Que se eu me arrumasse mais poderíamos fazer uma bela dupla. - Faço uma careta para essa frase. - Você gosta dele? - Carter pergunta com o olhar no meu. - Claro que não . Como iria gostar de alguém que destruiu meu suéter preferido ou já me empurrou e humilhou em frente há todos. Todo masoquista sabe até qual extremo chegar. - ele me encara sem reação. - Mas tem alguém que goste em sua escola? - sua pergunta me intriga. - Já passei dessa fase de paixonite, não gosto de ninguém em minha escola, claro que já gostei sim, mas que garota não tem aquele que se fascina? - lhe dou um pequeno sorriso. - Você está certa, e essa sua paixonite como era? - ele apoia os cotovelos na bancada. - Ele era o jogador principal do time de futebol e participava do clube de leitura. Viramos amigos por causa do clube de leitura. Toda semana ele me encontrava antes do começo dos encontros do clube. Seu jeito comunicativo construiu uma amizade que se seguiu por seis meses, nunca andamos juntos, não porque ele não queria, sim eu que tinha receio de suas amizades. Quando o primeiro ano do ensino médio estava acabando ele disse que ia para Portland morar com sua mãe. - Carter volta comer, enquanto presta atenção. - Chorei três dias seguidos por nossa despedida, você acredita que o i****a disse que me amava? Meu mundo foi ao chão com susto, eu sentia algo por ele, não era amor, mas eu sentia. Então ele se foi e eu fiquei pensando nele como uma pateta. Mas percebi que era só uma atração nada de paixão ou amor. - dou de ombros e apoio meus cotovelos na bancada. - Sua história de amor é fascinante. - ele fala sorrindo. - Não menospreze minha história. - rio de seu jeito sarcástico. - Tudo bem, não vou falar mais nada. - meu celular toca e vejo que é meu pai. - Alô. - Atendo com receio. - Onde você está? -ele grita. - Estou com um amigo. - Quero você em casa, e não na casa de um amiguinho dando. - meus olhos se arregalaram com sua frase. - Não fale assim comigo, e se eu estivesse, qual é o problema? - falo com raiva. - Não quero sustentar você e uma criança indesejada. - estou perplexa. - Eu não sou esse tipo de pessoa, por favor me respeite pai. - falo tentando me acalmar. - Não me chame de pai e volte para casa, não quero uma filha v*******a. - ele desliga em minha cara. Ainda estou perplexa, lágrimas querem sair de meus olhos, mas reprime o choro. Repouso o celular na bancada e fico olhando para minhas mãos. - O que houve Sam? -uma lágrima sai de meus olhos. - Ele só estava sendo ele. Tenho que ir Carter, se quiser eu trago seu quadro amanhã. - pego meu celular, coloco no bolso da minha calça e volto para a sala. - Me diz o que está acontecendo. - Ele insinuou que sou uma v*******a que durmo com meus "amiguinhos". - suspiro cansada. - Você não é nada do que ele disse. - Carter me abraça. - Eu sei, só que Paul não sabe disso, Paul acha que eu sou aquilo que ele imagina. - Não chame ele de Paul, ele é seu pai. - Ele disse para eu não chamá-lo de pai. - abraço a cintura de Carter. - Vai ficar tudo bem pequena. - sorri ao ouvir o apelido que ele me deu. - Vamos. - quando faço menção de sair de seus braços ele me beija, com tanto carinho e calma. - Vamos. - seu sorriso sexy me tira do sério. Carter pega minha mochila e eu coloco meu moletom. Chegar em casa vai ser a pior coisa que vou fazer hoje, eu sinto isso.
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