Eu a encarei no carro depois daquela reunião, o cheiro de couro e vitória preenchendo o ar.
— Eu não te salvei. Eu salvei a única pessoa que tem as chaves para a minha verdade.
A mentira dela era óbvia, mas eu a aceitei.
Ela me protegeu, era o que importava. A sagacidade dela em desmascarar o Dr. Almeida foi brilhante, e o orgulho que senti por ela me incomodou profundamente.
No dia seguinte, o Dr. Almeida tentou retaliar, mas eu o esmaguei. Homens assim não tinham segundas chances. Ele se tornou um exemplo de por que ninguém deve desafiar o que é meu.
Aurora assistiu a tudo, e eu vi o horror em seus olhos, mas também a compreensão. Talvez agora ela entendesse melhor como as coisas funcionavam.
— Os Vescovi vão revidar — estávamos no escritório. Deslizei um mapa da cidade pela mesa. Olhávamos juntos. — Eles sabem que você é meu ponto fraco, o que é ridículo, já que você ainda me odeia. — fui sarcástico e ela sabia disso.
Quando me deu conta ela se inclinou sobre o mapa, respirei fundo e engoli seco. A atração pelo poder e pelo risco estava a puxando. Era lindo de observar.
— O que você quer? — perguntou olhando por todo o mapa.
— Quero você — respondi, a voz grave.
Seus olhos saíram do mapa e me fitavam. Uma mistura de incompreensão e susto. Sorri, sabendo que sai atenção era só minha.
— Quero que você use essa sua mente para ler a mente deles. Eles atacaram você no beco. Eles vão atacar o que eu mais valorizo, que é a minha ordem. Como eles vão fazer isso?
Ela mordeu o lábio, a concentração a tornando ainda mais bela. Ela era uma estrategista nata.
— Eles não vão atacar seu dinheiro diretamente. Eles vão atacar a sua reputação. Vão plantar informações, usar a mídia. Eles vão tentar fazer a Máfia Valente parecer fraca para que seus próprios homens duvidem de você.
Eu sorri. Um sorriso genuíno que raramente dou.
— Exatamente. Você pensa como eu, Aurora. Você vê o xadrez. Muito bem.
Ela se afastou do mapa, a fúria em seus olhos renovada.
— Deveria tomar cuidado. Sou uma arma importante para você, mas também eu sou a única que pode te matar. Não se esqueça disso.
— Não se preocupe — murmurei, me aproximando. — Eu não esqueço nada que diga respeito a você.
Naquele momento, meu celular vibrou. Era um relatório urgente de Marco. Meus olhos escanearam a mensagem, e meu sangue gelou.
Não era sobre os Vescovi atacando um de meus armazéns. Era pessoal. Os Vescovi haviam encontrado o elo fraco dela. O nome estava ali: “Francisco, testemunha do Beco da Fênix".
Eles sabiam que ela estava ligada ao incêndio e estavam indo atrás da única testemunha que poderia ligá-la ao passado.
Eu olhei para Aurora, e o medo que senti não era pela minha segurança, mas pela dela. Eu a havia exposto a tudo. E agora, os Vescovi tinham as ferramentas para arruiná-la. A guerra havia acabado de se tornar pessoal.