Posse

725 Words
Aurora No carro o clima foi de tensão e segurança ao mesmo tempo. Por mais difícil que fosse, preciso admitir que estar com ele bem ao me lado me deixava segura. Meus lábios ainda doíam pelo beijo. Eu ainda era capaz de sentir a firmeza de seus lábios nos meus. E merda, como eu queria mais. Precisava lembrar quem ele era. E talvez, essa fosse minha única fonte de sanidade. Ele podia dizer que me queria por perto, e talvez, eu tenha vacilado com suas ultimas palavras. Ele disse que eu era valiosa e não conseguiria largar. Digo a mim mesma que o meu valor estava no que eu podia oferecer a ele, aos seus negócios. Não posso me deixar enganar, me iludir achando que sou mais do que isso. Ainda assim, ouvi-lo dizer que meu lugar era ao seu lado, me fazia desejar que suas palavras fossem mais do que negócios. Céus. Onde estou com a cabeça? Eu estava voltando para a jaula, e ainda assim, me sentia bem com isso. O carro de Lorenzo não era um veículo, mas um cofre blindado que me devolveu ao luxo sufocante da mansão. A diferença, agora, é que eu não era mais a sobrevivente grata. — Seu quarto está limpo. Tome um banho, vou fazer o mesmo. Precisa de um médico para ver as feridas? — sua voz voltou ao tom habitual de chefe. — Não, mas você deveria ver um. Sua cabeça ainda sangre — falo caminhando com cuidado. — Vou cuidar disso depois do banho. Não digo mais nada. Subo as escadas, em direção a minha própria fortaleza. Precisa de espaço. Precisa respirara longe dele antes de que cometesse uma loucura. Quando bati a porta atrás de mim, olhei o espaço me sentindo em casa. Minhas coisas estavam aqui, e o cheiro, agora tão familiar me colocava de volta aos eixos. O passado ainda era assustador, mas o presente? Esse me deixa ainda mais confusa. Peguei roupas limpas e segui até o banheiro. Me despi, olhando minha imagem no espelho. Eu estava horrível, machucada e suja. Os hematomas começaram já se mostravam presentes e tenho certeza de que depois que a água levasse toda a sujeira impregnada em minha pele, os roxos se tornariam ainda mais presentes. E eu estava certa. O sabão e água tinham feito seu trabalho e quando o banho acabou, vi que o estrago agora se apresentava mais limpo, mas ainda aqui, ainda presente. Deitei na cama, mas não fui capaz de fechar os olhos. As cenas das ultimas horas me consumiam. Eu só conseguia pensar no quanto tudo isso poderia ter dado errado. Se ele não tivesse chegado, se não tivesse me achado, eu não estaria mais aqui. As horas foram passando, a noite se tornou insuportável. Eu estava limpa, vestida com roupas confortáveis, mas o cheiro de sangue dos homens dos Vescovi e o gosto daquele beijo urgente ainda estavam na minha pele. Eu não conseguia dormir. Cada ruído na casa era uma ameaça, mas a maior ameaça era a memória do seu toque, da sua fúria, da sua vulnerabilidade confessional. A inquietação me fez levantar. A dor no meu estomago também. Com calma, sentindo cada musculo do meu corpo doer, caminhei até a cozinha. Aquela da qual eu sabia que o pertencia. Ele não estava aqui. Acendi apenas a luz de centro, amarela e que pouco iluminava. Era o suficiente para me ajudar na busca. Precisava comer algo e mesmo sabendo que eu não deveria estar aqui, não me importava. Achei alguns pão próximo ao balcão. Abri a geladeira e havia tantos queijos, que foi difícil escolher qual comer. Peguei tudo o que queria, estava montando o primeiro lanche quando escutei o barulho. Olhei para frente, em direção a porta de entrada, que agora estava sendo fechada atrás de Lorenzo. Ele se encostou no batente, cruzou os braços e me olhou. — Você não deveria estar aqui — sua voz não era de revolta, ou de alguém prestes a enforcar outra pessoa. — Senti fome. — respondo como se não fosse nada demais. — Sabe que eu não gosto de entrem na minha cozinha. Segurei seus olhos nos meus e um pequeno sorriso em desafio surgia em meus lábios. — Eu sei — disse petulante — Quer um lanche? — ofereci, sem dar importância para suas palavras.
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