Mel me puxou pro canto e saiu me levando.
— Vamo, guerreiro. Vai desabar se ficar plantado aí.
Ela foi me guiando pra dentro, passo por passo.
— Devagar.
— Tô de boa. — soltei, só pra disfarçar. Mentira. Cada passada parecia que rasgava por dentro, o bagulho latejando pra c*****o.
O caminho até o sofá parecia nunca acabar, cada metro um castigo diferente.
Mel me soltou, foi na frente, ajeitou a almofada, deu dois tapinhas e voltou pra me buscar.
— Pronto. Encosta aqui, vai com calma. — fui sentando devagar, com a ajuda dela.
Respirei fundo, tentando esconder a dor.
— Tô de boa, Mel. — falei baixo, mesmo sentindo o bagulho repuxando lá dentro.
Ela me olhou torto.
— Sei… tá de boa p***a nenhuma. Encosta as costas aí.
Tentei dar um sorriso, mas virou careta na hora.
O quadril afundou no sofá e senti a fisgada no lugar da cirurgia. Travei o maxilar pra não deixar escapar o gemido.
— É só um bagulhinho chato — mandei, ajeitando o braço no encosto. — Já passei por parada pior, pô.
— Tu é todo durão. Daqui a pouco abre os ponto — Sei… tá de boa p***a nenhuma. Encosta devagar aí, visão.
Tentei dar um sorriso, mas virou careta na hora.
O quadril afundou no sofá e senti a fisgada no corte. Travei o maxilar pra não deixar escapar o gemido.
— É só um bagulhinho chato — mandei, ajeitando o braço no encosto. — Já passei por parada pior, pô.
— Tu é f**a mesmo, né? Sempre pagando de durão. Daqui a pouco da r**m e aí eu vou querer ver essa marra toda.
Dei um risinho sem graça e desviei o olhar, jogando a visão pra morena do outro lado da sala.
e vai botar culpa em quem?
Dei um risinho sem graça e desviei o olhar, jogando a visão pra morena do outro lado da sala.
— Se quiser eu te ajudo a deitar lá em cima…
— Não precisa, Mel. Aqui tá bom. — tentei rir. — Já vi cama demais esses dias.
Ela riu junto, me ajudando a me ajeitar.
— Teimoso. — se abaixou na minha frente. — Tá tudo bem?
— Tá. Só dói quando respiro. — respondi, meio rindo.
Ela balançou a cabeça.
— Então não respira, ué.
— Boa ideia. — retruquei, rindo baixo.
Ela começou a tirar o tênis do meu pé e, do nada, olhou pra trás.
— Maria Clara, vem cá um instante. Me dá uma ajuda aqui.
Demorou pra vir, mas veio.
E cada passo dela até mim foi tipo gatilho — meu corpo inteiro reagindo sem eu mandar.
Se abaixou na minha frente, bem pertinho, o braço raspando no meu, e o perfume dela subiu,.
Me deixando meio aéreo, chapado só de sentir.
Fiquei na miúda, só vendo o que ela ia fazer.
Ela ajeitou minhas pernas com cuidado, com o olhar baixo, concentrada.
As mãos pequenas tremiam de leve quando encostaram na minha pele, e eu tive que respirar fundo pra não vacilar.
Quando ela levantou o rosto por um segundo, nossos olhos se trombaram.
Meu olhar desceu na maldade, do pescoço até o decote...
E f**a-se disfarçar, nem tentei.
Nem sei se a Mel percebeu, só sei que logo a Maria levantou toda atrapalhada.
Eu conheço esse corpo de longe, pô.
Dava pra ver que tava toda mexida, o olhar correndo de mim igual toda hora.
Mel ajeitou a almofada atrás de mim.
— Assim que eu soube o que tinha rolado contigo, vim na hora. — disse, me ajudando a me ajeitar no sofá.
— Minha mãe te contou? — soltei, de canto.
— Contou sim. Disse que foi tenso pra caramba. Fiquei preocupada, achei que tu não ia aguentar.
— Até eu achei. — falei, encarando o teto. — Meio quebrado, sem um rim, mas respirando.
Ela riu de canto.
— Tu fala como se tivesse escapado por sorte.
— Mas foi isso mesmo. — respondi.
Minha mãe entrou e perguntou se queria alguma coisa e eu neguei. Logo a Any e a Agatha entrou na sala e foram todas lá pra dentro.
— Foi Deus e nós que mandamos energia positiva pra você.
Minha mente vagou até às três.
Porque será que a Maria tá aqui em casa?
Até outro dia meu pai não queria a mina nem aqui no morro e agora ela tá dentro da casa dele?
Maria Clara
Hoje o dia foi tão puxado que, assim que cheguei da rua, apaguei.
Acordei com o corpo mole, meio grogue ainda de sono, e o olhar parado no teto.
Tava difícil encontrar motivação pra sair da cama.
E foi aí que o primeiro pensamento veio tipo um raio caindo sobre mim.
Se era motivação que eu precisava, então tava aí.
Eu tinha que levar um dinheiro lá na casa da Manuela pra ela.
Levantei espreguiçando, o cabelo todo desgrenhado, e peguei a xuxinha debaixo do travesseiro.
Amarrei num r**o de cavalo e fui direto pro banho.
Meu cabelo tava dando pra fritar uns dez ovos de tão oleoso.
Liguei o chuveiro, deixei a água quente cair nas costas e juro que senti a alma voltando pro corpo devagarzinho.
Lavei o cabelo e passei um creme de hidratação da Pantene que a vendedora insistiu que ia deixar meu cabelo maravilhoso — comprei, e num é que pra minha surpresa deu super certo mesmo?
Ficou macio, soltinho, cheiroso… brilhando.
Adorei o resultado, porque dependendo do que passo meu cabelo fica uma merda.
Mas dessa vez ficou maravilhoso mesmo.
Eu amei o resultado!
Saí do box enrolada na toalha, os pés descalços molhando o chão frio e leve com a sensação boa que o banho me trouxe.
Vesti uma lingerie e espalhei o hidratante corporal nas mãos, massageando a pele.
Depois sequei o cabelo com o secador, deixei ele solto, esticado, do jeito que eu gosto.
Vesti um shortinho de paninho verde, um cropped branco de alcinha e um casaquinho sem manga que faz conjunto com o short.
No pé, calcei uma sandália plataforma que me deixava uns dois dedinhos mais alta.
Coloquei um brinco pequeno, um anel e ajeitei a medalhinha de Santa Rita de Cássia que a vovó me deu no meu aniversário de quinze anos — bem na semana em que eu estava me preparando pra realizar o transplante de medula.
Guardo até hoje como uma proteção, sabe?
Tenho um apego tão bobo com ela... parece que quando eu tiro, alguma coisa na minha vida desanda.
Por isso, não gosto de sair de casa sem ela.
Peguei o dinheiro e antes de guardar no bolso da calça.
Contei tudo outra vez, porque vai que eu tivesse contado errado, né?
Me certifiquei de que tava tudo fechado e saí de casa.
Mas, claro, nada nunca é simples pra mim.
O portão resolveu agarrar, como sempre faz quando a gente tenta abrir por dentro.
Pisei firme e empurrei com força até que ele deu um estalo e abriu de vez.
Quase mandei um palavrão de raiva, mas ainda bem que não xinguei — os gritos de várias crianças invadiram meus ouvidos na mesma hora em que eles passaram por mim.
Acontece que eu moro em frente a uma escola, então imagina a confusão na hora da saída.
É criança pra todo lado: gritando, correndo, derrubando mochila, rindo alto.
Uns com a mãe, outros com a vó, e a maioria sozinhos mesmo.
Mas aqui é assim: a criançada já nasce esperta, conhece cada viela desse morro melhor que muito adulto.
Passei a chave no portão e dei uma olhada rápida pra rua.
A dona Sílvia, proprietária da casa onde eu moro, tava varrendo a frente do mercadinho dela, que fica embaixo da nossa casa.
Assim que me viu, abriu um sorrisão.
— Boa tarde, minha filha! — disse, animada.
Sorri de volta, ajeitando o cabelo.
— Boa tarde, dona Sílvia. — respondi, simpática.
Ela assentiu e voltou a varrer o chão, mas logo um cliente entrou e ela foi atender.
Botei a chave no bolso e comecei a subida até a casa da Manuela.
Daqui parece que é pertinho, mas é só ilusão — quando a gente começa a subir de verdade é que o bicho pega.
Segui, sentindo o sol fritar minhas costas e a cabeça girando de tanto pensar.
Era impossível não lembrar do dia que eu e minha mãe chegamos aqui.
Fazia o quê… umas duas semanas? Mas parecia bem mais.
Chegamos perdidas, com uma mala pequena, o coração na boca e aquela sensação horrível.
Tudo era novo, estranho, cheio de gente que a gente m*l conhecia.
Eu lembro de olhar pra minha mãe tentando fingir coragem, mas por dentro eu tava tão assustada quanto ela.
A gente não sabia pra onde ir, o que fazer, nem o que esperar.
A Manuela foi um anjo pra nós.