Entrei junto com a Manuela tentando parecer calma, mas eu tava super sem jeito. Me sentindo uma penetra.
Assim que pisei ali dentro, vi um grupo de homens espalhados pelas cadeiras, rindo alto e com varias garrafas abertas na mesa.
Entre eles, reconheci o marido da Manu e o da Agatha. Os outros... apenas de vista, talvez eu já tivesse visto uns dois. O resto, tudo cara nova.
Fingi costume, mas por dentro só pensava: o que é que eu tô fazendo aqui, meu Deus?
A Manu, continuava me puxando pela mão.
— Vem, menina — disse, rindo. — Eles tão sempre aqui, ignora.
Atravessamos até a parte dos fundos da casa, e o barulho foi ficando mais abafado. A água da piscina brilhava com o reflexo do sol indo embora, e um vento leve batia, levantando o cabelo que eu tinha demorado tanto pra arrumar.
O clima ali era outro, mais leve, calmo, quase íntimo.Tinha uma mesa comprida de madeira, copos, bebidas, petiscos, e, no meio das duas mulheres que conversavam animadas, reconheci a Agatha.
Sorri na hora, aliviada de ver um rosto conhecido.
Ela me viu e abriu um sorrisão.
— Olha quem apareceu… a Maria Clara. — a Manu me anunciou toda animada pras meninas. — Lembra que eu falei dela?
— Então é você! — a moça de cabelo cacheado sorriu largo, se levantando da mesa. — Nossa, mas você é ainda mais bonita do que eu imaginei!
Ela me puxou pra um abraço apertado, cheiroso, e eu ri.
— Que isso… você que é linda. — falei, meio sem jeito. Eu sempre fico assim quando recebo um elogio.
— E é linda mesmo — disse outra moça que eu ainda não conhecia, se levantando pra me cumprimentar. — Prazer, viu? Sou a Tatiany, mas todo mundo me chama de Any. Sou cunhada da Agatha e amiga da Manu.
Nos abraçamos também.
— Já ouvi falar de você pela Manu.
— Bem ou m*l? — a Any perguntou, rindo, cruzando os braços e com um olhar curioso que me fez rir.
— Bem. — confirmei. — Disse que você é como uma irmã pra ela.
— Mentira que ela disse isso? — ela arqueou a sobrancelha, rindo com deboche. — Não acredito, ela só sabe meter o p*u em mim!
— Que mentira, cara — Manu disse sorridente.
— Ouvi só coisa boa sobre você — comentei.
— Ah, então vou confiar em você, porque aquela sem-vergonha ali é falsa pra c*****o. — ela debochou, rindo. — Vivia dizendo que sentia saudades de mim, mas nunca apareceu na minha casa.
— É muito sonsa gente! — Manu gargalhou, e as meninas cairam na risada. — Ela que some pro fim do mundo e ainda bota a culpa em mim? Cria vergonha, Tatiany! — disse entre risos.
A Any levantou o dedo pra ela de um jeito tão engraçado que eu não aguentei e comecei a rir.
— Tu é muito cara de p*u, Manuela! — reclamou entre risadas, apontando pra ela.
A Manu pegou um copo descartável da mesa e jogou nela.
— Tá maluca, p***a?! — a Any gritou rindo, se abaixando toda pra se proteger, achando que o copo tava cheio. Mas, pra sorte dela, tava vazio.
A gente caiu na risada quando ela pegou outro copo da mesa e tacou de volta.
As duas começaram uma guerra de brincadeiras, se xingando entre risadas, parecendo duas adolescentes.
— Nem liga pra essas doidas — disse a Agatha, rindo enquanto me puxava pra um abraço. — Elas são sempre assim.
— A gente divide o mesmo neurônio, é por isso. — Any brincou, e eu ri.
— Assim que é bom..
A Agatha virou pra mim logo em seguida.
— Por que não chegou mais cedo?
— Eu só vim pra deixar um dinheiro com a Manu. — respondi. — Nem ia ficar, só que a Manu me arrastou pra dentro.
— Arrastei mesmo. — a Manuela se meteu, rindo.
— Pois é, agora tô aqui, me sentindo uma penetra. — confessei, mexendo no cabelo.
— Penetra nada — rebateu de imediato. — Se eu te arrastei, é porque tu é minha convidada.
— Na minha casa só entra quem eu quero, e se tu tá aqui é porque é bem-vinda demais — disse, sorrindo, e ainda me deu uma piscadinha simpática.
— Senta aqui com a gente — a Agatha puxou uma cadeira e eu sentei.
— Até perguntei pra Manu se tu tinha sumido do morro, acredita? Faz mó tempão que não te vejo.
— Pois é… — ri de leve — Tô na correria com a clínica. — dei um suspiro, ajeitando o cabelo atrás da orelha. — Vou ter que mudar de lugar, acredita? O contrato tava no nome do meu pai, e ele, por birra, resolveu cancelar. — baixei o olhar, meio constrangida, antes de encarar as três de novo.
— Peraí... teu pai fez isso contigo? — a Any arregalou os olhos, visivelmente chocada.
— Fez. — dei um meio sorriso sem graça, tentando mostrar que eu estava bem.
— Mas não dava pra tu conversar com o dono? — a Mel se inclinou pra frente, curiosa. — Vai que ele deixava tu ficar e passava o contrato pro teu nome.
Balancei a cabeça devagar, soltando o ar.
— Eu tentei... mas o lugar é bom demais, e o preço também. Quando fui ver, já tava alugado pra outra pessoa. — brinquei com o anel no dedo, meio sem graça. — Meu pai fez de propósito, disso eu tenho certeza. Nem me deu tempo de correr atrás e fazer isso que tu disse. Só fiquei sabendo porque o dono me ligou perguntando se eu já tinha saido.
— Puts... — a Agatha balançou a cabeça devagar, fazendo uma careta. — Que s*******m, viu.
— Pois é... — forcei um sorrisinho só pra não deixar o clima estranho.
— Então faz o seguinte, traz a clínica pra cá. — disse a Agatha, animada de repente.
— Verdade! — completou a Manu, empolgada. — Seria ótimo pra você, e pra gente também.
— É uma opção... — respondi.
— Se quiser, eu desenrolo um ponto com o Bernardo pra tu. — Manu sugeriu, e eu assenti com a cabeça, meio rindo.
— Vou pensar direitinho e depois te falo, pode ser?
— Claro, meu amor. — ela apoiou o cotovelo na mesa, levantando o copo. — Mas sabe o que mais me deixa de cara nessa tua história? — apontou pra mim com o copo. — Tu é uma menina boa, direita, estudiosa, uma filha que nunca deu trabalho... e olha o que teu pai te fez. Agora a Alicia... aquela desgraçada...
As meninas começaram a rir, mas o tom dela não era de brincadeira.
— Tô falando sério! — insistiu, virando o resto da bebida. — Minha boca até seca de raiva quando falo dela. Aquela menina teve de tudo. Um paizão e uma mãezona... e olha o que ela fez com a gente.
— Eu já te falei várias vezes. — a Any cruzou os braços. — O problema da Alicia é que faltou uma boa surra. Ficavam passando a mão na cabeça dela aí deu nisso. Ela cresceu achando que podia fazer o que quisesse. Eu apanhei de chinelo até ficar marcada, e olha pra mim… tô viva. — deu um gole na cerveja, fazendo careta. — Talvez fosse o que ela precisava pra aprender a viver.
A Agatha soltou um suspiro.
— Sinceramente... acho que o problema dela não é só falta de surra. Ela é r**m mesmo. r**m de essência, sabe? Desde criança era assim.
A Mel ajeitou o corpo na cadeira, olhando curiosa.
— E ela tá onde agora? Sumiu de vez?
A Manu deu um risinho curto e deu de ombros.
— Nem ideia. — fez uma pausa curta. — Dizem que tava por aqui, mas não vejo ela. Nem quando o Iago foi preso ela apareceu e olha que ficou sabendo.
— É muito triste... — murmurou, com a voz embargada. — A gente criou ela com tanto carinho, e no fim... fez tudo aquilo.
Um silêncio estranho tomou conta da mesa. Ninguém disse nada por alguns segundos, até que a Manu resolveu quebrar o clima.
— Ah não, chega de falar da Alicia. — balançou a mão, rindo. — Vamos falar de coisa boa. Adivinha o que o Terror me deu de presente?
— O quê? — a gente perguntou quase em coro.
— Uma máquina de lavar louça! — anunciou, toda feliz.
— Mentira! — a Agatha arregalou os olhos. — Caraca, Terror representou, hein?
A Manu caiu na risada.
— Pois é! Disse que era presente de aniversário de casamento .
— Ele arrasou, fala sério. — comentou a Any, rindo.
— Vem cá, que eu vou mostrar pra vocês. — Manu já foi levantando animada, chamando a gente com um aceno.
Seguimos atrás dela até a cozinha, e ela começou a abrir a tampa da máquina, explicando cada botão.
Eu e as meninas ríamos da empolgação dela, até que ouvimos umas vozes misturadas e vários gritos vindo lá de fora.
A nossa risada morreu na hora.
Manu parou, a mão ainda na tampa da máquina, o semblante mudando.
— Ué… que barulho foi esse?