IAGO
O pagode tava comendo solto.
Geral comemorando a minha liberdade, uma gritaria do c*****o.
Mas enquanto todo mundo tava super de boa, eu me mantinha sentado na mesa ao lado da piscina, um fininho pendurado no canto da boca e um copo de refri na mão.
Porque nem meter álcool pra dentro eu posso ainda, por causa dos remédios que tô tomando.
Uma desgraça só.
Tava na minha.
Só de canto, vendo o movimento, sem dizer nada.
Os cara rindo, o som rolando, geral curtindo... e eu ali, parado, só batendo neurose.
O RD até tentou puxar uma ideia, mas o papo nem andou.
Eu tava sem clima pra p***a nenhuma.
Dei uma olhada pro coroa rindo alto com a minha mãe no colo, na vibe dele, tranquilo.
Cena bonita até. Família reunida, geral bem.
Mas por dentro, o bagulho tava atravessado.
Essa fita entre eu e a Maria tava me deixando virado no c*****o.
A mina passou o dia todo desviando de mim, fingindo que nem existo.
Puta que pariu, que raiva.
A cabeça até dói tentando entender o motivo.
Era pra ser eu o bolado nessa história, vendo ela desfilar com aquele cagão do PM colado nela pra todo canto.
Peguei o copo, dei um gole no refri e soltei o ar puto.
É isso, né… o jeito vai ser eu pagar de o****o.
O grupo mandava a ver no pagode, e eu ali, de cara fechada, só marcando presença mesmo.
Porque a mente… tava em outro canto.
Presa num ponto específico da casa.
Eu fingia que tava curtindo, olhando pro povo batendo palma, pro batuque, pras risadas.
Mas era mentira.
Meu olhar só fazia o mesmo caminho o tempo todo.
Ia, voltava e batia de novo naquela p***a daquela porta.
Esperando ela dar as caras.
Dei outro gole, puxei o fininho mais uma vez, mas parecia que nem batia.
A mente rodando igual disco riscado, sempre voltando pra ela.
Tentei trocar ideia com os cria, rir das piadas, mas nem rolava.
O bagulho tava foda... quando o assunto é ela, nada segura minha atenção.
Tava olhando pro pagodeiro tocando e vi quando o olhar dele fugiu do nada, desviando pra trás de mim.
Virei o pescoço na hora — e, porra...
Era cena pra deixar qualquer um sem reação.
A Maria veio vindo devagar, cabelo solto batendo no ombro e descendo até o meio das costas.
Vestido preto colado no corpo, tomara que caia, marcando cada curva.
O tecido desenhava tudo, irmão.
Do jeito mais filha da mãe possível.
Nem curto era, mas também não precisava ser pra ser indecente.
O pagode virou só barulho longe, abafado.
Os cria tudo olhando a minha mina.
Um bando de punheteiro cobiçando um bagulho que era só meu.
O cavaquinista errou até a batida da música, e até um “c*****o” baixinho eu escutei.
Eu fiquei puto, mano.
O punho fechou na hora.
Fiquei só acompanhando o passo dela, cada movimento, serena, andando calmante.
Cumprimentou geral, com um sorriso educado no rosto, e foi parar do lado dos meus coroa.
E eu juro que tentei disfarçar o incômodo, mas não dava.
— c*****o, olha isso! — minha mãe berrou, batendo palma. — Menina, esse vestido te veste feito luva! Fica pra tu, a Alicia nunca curtiu.
A Maria riu meio sem graça, ajeitando o pano no quadril.
E pronto.
Bastou essa p***a desse gesto simples pra me tirar irado.
Fechei a cara na hora, joguei o fininho lá na p**a que pariu.
Baixei a aba do boné, cruzei os braços e fiquei só olhando.
Quando bati o olho de novo, vi meu coroa me fitando com aquele olhar de quem tava ligado em mim.
Mas f**a-se, irmão.
Vai tomar no olho do cu todo mundo.
A sorte dela é que eu ainda tô quebrado, porque se eu tivesse inteiro, já tinha jogado ela nas minhas costas e saído vazado daqui sem olhar pra trás.
Ninguém ia ficar secando minha mulher desse jeito, não.
Nem morto.
— Tá bonita pra caraca, hein? — a Any falou, rindo, e ela só agradeceu, toda envergonhada.
— Tá mesmo. — a Mel completou, dando risadinha sentada do meu lado. — E não foi só a gente que achou não… — apontou com a cabeça pro maluco do cavaquinho, que tava com o olhar cravado nela.
Bati a língua no dente, sem paciência nenhuma.
Levei a mão pra cintura por impulso, mas lembrei que tava desarmado.
Fiquei de olho no filha da p**a do pagodeiro, já imaginando a hora que eu ia dar um jeito nele.
O maluco cantando e encarando ela sem nem disfarçar, p***a.
Quando olhei pra Maria, vi o rubor subindo no rosto dela e aí já era.
A p***a toda azedou.
— Tá tudo certo aí, Iago? — minha mãe perguntou, rindo do meu jeito.
— Tá não. — respondi seco, ignorante mesmo.
Porque se esse o****o tava me talaricando, a culpa era dela que não deixou a Maria Clara meter o pé pra casa dela.
Ela deu uma risada alta na mesa, quase cuspindo a bebida.
— Quer que eu te leve lá pra dentro? — perguntou, arqueando a sobrancelha e tentando segurar o riso.
— Não, p***a. — retruquei, levantando devagar, com aquela dor me lembrando que ainda não tô cem por cento. — A Maria vai me ajudar a ir no banheiro.
— Eu te ajudo! — a Mel se adiantou, toda prestativa.
Estiquei a mão na hora, cortando o papo.
— A Maria Clara vai ajudar. Bora. — falei sério, e comecei a andar, devagar, mas firme.
— Deixa os moleque te dar uma força aí, Iago — meu coroa falou, meio rindo.
— A gente ajuda, Iaguin! — um dos cria gritou do canto.
— Vai ajudar a balançar também, c*****o? — soltei, sem olhar pra trás. — Quem vai comigo é ela e pronto. Morreu a nota.
A Maria olhou pra mim meio sem jeito, como se quisesse recusar, mas não tivesse coragem.
Ficou parada um segundo, depois veio vindo, devagarinho, passo curto, as mãos juntinhas na frente do corpo.
O cheiro dela chegou primeiro.
Leve, gostoso, do jeito que eu ainda tinha na memória.
— Vamos? — falou baixo, quase num sussurro, o rosto perto do meu.
— Bora. — respondi, passando o braço no pescoço dela.
O toque dela me arrepiou.
A pele fria encostando na minha, o cabelo batendo no meu braço, e aquele cheirinho me deixando tonto.
O corpo dela encaixava certinho no meu.
— Vou devagar, tá? — murmurou, ajeitando o passo, olhando pra frente.
— Suave. — falei rouco, tentando disfarçar o arrepio que me subiu junto com a vontade de agarrar ela.
A gente foi andando devagar, o som do pagode foi ficando pra trás, as risadas também.
Só o barulho dos nossos passos no chão e a mão dela firme na minha cintura, guiando devagar.
Cada passo dela me lembrava o porquê dessa mulher nunca ter saído da minha cabeça.
Quando chegamos perto da escada, ela parou.
— Quer usar o banheiro de baixo? — perguntou, num tom meio cuidadoso. — Fica mais fácil pra tu.
— Quero subir. — falei, olhando direto pra aqueles olhos claros dela, sem piscar.
Ela ficou toda sem jeito, as bochechas pegando cor na hora.
— Mas... — tentou continuar.
— Quero tomar um banho. — cortei, sem desviar o olhar da boca dela.
Vi quando ela apertou os lábios, nervosa.
Filha da mãe tinha uma boca gostosa pra c*****o, e eu tava louco pra morder aquela p***a.
Ela desviou o olhar, e antes que inventasse desculpa, mandei:
— Vai me deixar na mão, é?
Ela soltou uma risadinha abafada e olhou pro chão, rindo com vergonha.
Depois levantou o olhar de novo, e quando nossos olhos se bateram, ela só assentiu, vermelha, mas com aquele brilho no olhar que eu acho f**a pra c*****o.
Apoiei a mão no corrimão e fui subindo devagar, degrau por degrau.
Lá fora o barulho rolava solto, mas ali dentro só dava pra ouvir o som dos nossos passos e a respiração dela, bem perto.
Olhei pro decote do tomara que caia e perdi até o rumo por uns segundos.
A p***a do foco foi com Deus.
No meio da escada, travei.
Uma fisgada na barriga me fez parar.
Ela virou rápido, os olhos preocupados.
— Tá doendo?
— Um pouco. — falei, disfarçando a careta. — Mas tá tranquilo.
— Tá vendo? Podia ter deixado os meninos te ajudar. Agora tá aí, se fazendo de forte. — reclamou.
— Eu preciso é de tu, p***a. — mandei, sem piscar.
Ela ficou muda, o rosto todo corado, e desviou o olhar.
Dei um sorrisinho torto, vendo como ela ficou.
Subimos o resto dos degraus.
Quando empurrei a porta do quarto, a luz do corredor cortou o escuro de dentro.
Nada tinha mudado, tudo do mesmo jeito de antes.