— Eu odeio esse lugar, esse morro, odeio cada um de vocês! Eu nunca quis estar aqui, nunca quis nascer no meio dessa merda toda!
A Manu deu um passo à frente, e a Alicia levantou o queixo, desafiando.
— O que foi? Vai me bater de novo, é isso, mãezinha? — ela riu, sarcástica. — Você é patética! Olha pra você… toda certinha, pagando de mulher perfeita. Mas me conta, quantas mães já enterraram os filhos que o teu maridinho matou?
— Se liga no que tá dizendo, Alicia. — o Terror disse, como um aviso.
— Se ligar o caramba! — ela rebateu na hora, os olhos faiscando. — Tu quer me dar lição de moral? Mas eu nunca matei ninguém, nunca torturei ninguém. E você? Me diz aí, no que tu é melhor que eu?
Ele respirou fundo, o maxilar duro, as mãos fechadas. Mas ela nem piscou.
— HIPÓCRITA! — gritou, encarando ele com desdém. — Tú e teu filhinho aí... — virou pro Iago. — O queridinho da mamãe, o filhinho perfeito.
O Iago ficou em silêncio, o olhar serio.
Mas eu vi o maxilar dele se mexendo.
— Tudo de r**m que aconteceu na nossa família foi culpa tua — ela apontava o dedo na direção dele.
— Cala tua boca! — Terror falou olhando pra ela.
— Eu não vou calar porcaria nenhuma! — gritou rebatendo, a voz já falhando de tanto ódio. — Tu lembra, Iago? Aquele aniversário i****a lá na fazenda que tú fez questão de ter. Se não fosse aquela merda, a polícia nunca teria chegado lá! — ela respirava rápido, o rosto todo vermelho. — E eu teria crescido com meu pai, mas por tua CULPA, por causa do TEU EGOÍSMO, eu cresci sendo a filha do bandido preso.
As lágrimas começaram a escorrer no rosto dela e a Manu, destruída, balançava a cabeça negando.
— Ninguém aqui vai sentir pena de você, não. Acorda. — Agatha falou cruzando os braços. — Ele não tem culpa do teu m*l caratismo.
— Eu não quero que tenham pena de mim mesmo não. — ela gritou de volta. — Na verdade sou eu que tenho pena de ti. Aliás, tu deveria cuidar melhor do teu homem, pra ele não tá comendo p**a na rua! — falou rindo. — Porque ele tá, viu? Tá comendo várias!
— Sua... — Agatha tentou avançar nela, mas a Any a segurou.
A Alicia riu outra vez.
— Vocês são todos ridículos. Um pior que o outro. O sujo falando do m*l lavado.
O Iago ergueu o queixo, impassível e ela andou com dificuldade até ele.
— Eu sei que meu fim tá logo ali — falou devagar, o sangue escorrendo no supercílio dela. — Mas antes quero ter o prazer de olhar bem na tua cara, maninho, e dizer com gosto... Que fui eu. — apontou pra si mesma, o riso crescendo no rosto.
— Fui eu que confirmei a denúncia pro delegado, foi por minha causa que você ficou mofando mais tempo naquela cadeia. — deu mais uma risadinha curta, debochada, os olhos ardendo. — E quer saber? Fiquei até triste quando disseram que tu tinha saído. Porque eu queria ver você apodrecendo lá dentro.
A Manu levou a mão à boca.
— Eu queria que tu sentisse o mesmo que eu senti. — a voz da Alicia tremia, mas o olhar era puro ódio. — Queria tirar tudo de você, Iago. Igual tu tirou.
— Ah, vai tomar no teu **, Alicia! — ele gritou, projetando o corpo pra frente. — Tu se alia com verme, trai tua própria família, esculacha geral aqui e ainda vem pagar de coitada? Vai te fuder, c*****o! TU É TRAÍRA MESMO, p***a! TRAÍRA FILHA DA p**a!
— E quer saber? Já deu dessa p***a — diz, fazendo um sinal rápido pros caras que estavam atrás dela. — Leva essa p***a lá pra cima.
— Deixa que eu resolvo isso, Iago — o marido da Agatha tentou interferir, mas o Iago negou.
— Não, vai ser bom pra descontar o ódio que tu tô — falou, desviando o olhar dele pra mim por um instante antes de voltar a olhar ele de novo. — Eu resolvo essa porra
— Então eu vou contigo — o Terror se adiantou, mas ele também cortou na hora.
— Fica aqui com a mãe. — respondeu, sem tirar os olhos dele. — Eu vou com os cria e resolvo essa p***a.
— Iago... — a Manu m*l conseguiu falar, a voz baixinha. As meninas se juntaram nela, abraçando e chorando junto.
Ele olhava tudo, como se nada daquilo o tocasse.
— Essa p***a sabia bem onde tava se enfiando… — disse, com o olhar gelado. — Fica na moral, tu fez o que tinha que fazer. Agora é comigo.
Os caras pegaram a Alicia pelos braços e a colocaram no meio deles na moto.
Ela não gritou.
Não reagiu.
Ela só foi com eles, sem olhar pra trás.
Fui até a Manu e encostei a mão no ombro dela, tentando passar um pouco de calma, mas eu nem sabia o que dizer. O Terror me olhou rápido e gritou pro outro lado da rua.
— O Juninho leva a mina em casa e depois sobe lá no Iago — falou, dando uma ordem.
Olhei ao redor, meio perdida, e só aí percebi que o Iago já não tava mais ali. Senti uma coisa r**m.
Assenti devagar, tentando disfarçar a inquietação.
— Fica bem, Manu... vou indo.
Me despedi de todos e saí dali, com a sensação de que talvez eu tenha feito a coisa errada entregando a Alicia pra eles.