Capítulo 1 — Sangue e Gasolina

977 Words
No passado… POV: Hannah Beatriz Montenegro O vento cortava o rosto, o sal do mar grudando na pele. O carro avançava pela estrada costeira como um animal ferido, urrando entre curvas e o barulho distante das sirenes. Hannah olhava pra trás a cada segundo, o coração socando o peito. — Eles vão nos alcançar, Jonah! — gritou, a voz embargada de medo. Jonah apertou o volante, o maxilar travado, o corpo inteiro tenso. — Não vão. Eu despistei eles lá atrás! — respondeu, mas o suor escorrendo pela têmpora o desmentia. O motor gemeu ao fazer a curva. O carro roubado era rápido, mas o pânico era mais. — O Sam disse que ia nos esperar no posto! — ela apontou à frente. — Lá! Ele tá ali! A visão de Samael Blackwolf surgiu como um sopro de esperança. Encostado em seu Mercedes-AMG azul magno, ele parecia calmo demais pra todo aquele caos. A frentista abastecia o V8 enquanto o sol refletia na pintura metálica e nos músculos tensionados sob a camisa preta. Os olhos dele, escondidos pelos óculos escuros, pareciam observar tudo — calculando. Jonah freou bruscamente, o carro deslizando no asfalto. O cheiro de borracha queimada e gasolina se misturou ao desespero. Eles desceram às pressas. Samael tirou os óculos. Olhos azuis como o oceano os fitaram, e o ar entre eles pareceu pesar. — Vocês demoraram. Hannah m*l podia respirar. Sangue escorria de um corte no braço e na sobrancelha , o rosto marcado por hematomas, sangue seco pelos machucados. Samael viu e sentiu o estômago revirar — ele já tinha visto os machucados antigos , resultado das surras do pai dela, mas aquilo era diferente… era brutal. — Você tá machucada, Honey Bee… precisa ir pro hospital. — murmurou, puxando-a pra um abraço. Ela tremia inteira. — Eu tô bem. — sussurrou, a voz trêmula. — A gente só precisa fugir. Jonah, ofegante, olhava para trás, esperando o som das sirenes. Samael puxou a chave do carro e entregou pra ele. — Já enchi o tanque. Pode levar. Tenho mais como esse e a placa é fria, não será rastreado! Jonah bufou, nervoso. — Claro que tem, playboy. Já vi tua garagem luxuosa. Valeu pela ajuda irmão, mas eu pago depois. — Não quero nada. Só quero vocês dois vivos e bem. — respondeu Samael. — E quando estiverem a salvo… me mandem notícias. Ele tirou um maço grosso de notas da carteira e estendeu para Jonah. — Para os primeiros dias. Tem mais no carro. Mando mais quando for seguro. Jonah hesitou, mas pegou o dinheiro. Hannah observava, confusa, dividida entre gratidão e medo. Samael respirou fundo, os olhos presos nela. Ele se aproxima dela e fala: — Hannah… Antes que ela respondesse, ele a puxou, encurvando-se pra alcançá-la. O beijo aconteceu num segundo suspenso — intenso, desesperado. O gosto de sangue e sal misturados. O toque das mãos dele no rosto dela, firme, protetor. Quando se afastaram, os olhos dela estavam marejados. — Nosso último momento juntos… — Eu vou te encontrar de novo, Honey Bee. Juro por tudo. Mas as sirenes rasgaram o ar. Jonah se virou, pálido. — Merda! Eles nos acharam! Luzes azuis e vermelhas refletiram no capô da Mercedes. Em segundos, mais de dez viaturas cercaram o posto. — VOCÊS ESTÃO CERCADOS! — a voz ecoou no megafone. — JONAH KALEB MONTENEGRO, ENTREGUE-SE IMEDIATAMENTE! O som da ordem reverberou pelo ar quente. Samael ergueu as mãos. — Calma! Não atirem! Hannah e Jonah se entreolharam, o pânico estampado no olhar. Ela agarrou a mão dele, os dedos manchados de sangue. — PARADOS! NÃO SE MOVAM! — gritaram os policiais. Jonah respirava com dificuldade, os olhos varrendo os arredores. E então viu a frentista — imóvel, apavorada, com as mãos no ar. Num impulso insano, ele a puxou, encostando o braço no pescoço dela e sacando a Glock 19 da cintura. — EU VOU MATAR ELA, p***a! NÃO CHEGUEM PERTO! — gritou, a voz tomada pelo desespero. A frentista chorava, os policiais apontaram armas. — SOLTA A MOÇA! Hannah gritou o nome do irmão, mas ele já estava tomado pela adrenalina. O tempo pareceu parar. E então O tiro veio. Alto. Seco. Rasgando o ar. Dois gritos se fundiram: — NÃOOOO! — Hannah e Samael. Samael girou, procurando o atirador — e congelou ao ver seu irmão gêmeo Nathanael Blackwolf , destemido e implacável , o fuzil ainda apontado para o inimigo. Jonah cambaleou, uma mancha vermelha se espalhando pela camisa. — p***a, NATHE! NÃO ATIRA! — rugiu Samael, a voz quebrando. Mas Jonah ainda se movia — arrastando-se, mancando, até a loja de conveniência. Hannah correu atrás dele, cega de medo. Samael os seguiu. Dentro da loja, Jonah caiu se recostando na parede, as forças indo embora. Ela o amparou, o sangue cobrindo suas mãos. — Meu Deus… Jonah… não… — ela tremia, soluçando. Ele a olhou pela última vez, um meio sorriso rasgando a dor. — Eu sinto muito, abelhinha… o irmão te ama… Os olhos dele se fecharam. — Não! Jonah! Fica comigo! — ela gritou, sacudindo o corpo dele. Samael puxou a camisa e tentou estancar o sangue, mais percebeu que Jonah não reagia mais. — Hannah, ele já foi! A gente precisa sair daqui! — ME SOLTA, SEU TRAIDOR! FOI VOCÊ! — ela gritou, empurrando-o. Os Policiais invadiram, armas erguidas. Samael tentou segurá-la e afastá-la, mas Hannah se debatia, os gritos dela dilacerando o ar. — JONAAAH! ACORDA, PELO AMOR DE DEUS! Os Paramédicos correram, colocando o corpo de Jonah na maca, correndo em direção a ambulância a postos. Samael a segurava por trás, num abraço de urso , enquanto ela gritava e se desfazia em lágrimas, suja de sangue e desespero. Do lado de fora, as sirenes misturavam-se ao barulho do mar e ao cheiro agridoce de sangue , pólvora e gasolina.
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