CAPÍTULO 7 – ZONA DE FOGO

1177 Words
POV Jonah (O Cobra) A noite tinha cheiro de gasolina e pólvora antes mesmo do primeiro tiro. O ar vibrava, denso, pesado. O asfalto da Costa da Lua parecia um campo de guerra disfarçado de estrada deserta. A carga vinha pela rota que a gente sabia que ia passar. Um caminhão blindado, protegido por três SUVs pretos — cada um lotado de capangas do inglês Sebastian King. No ouvido, o zumbido do mini comunicador soava como um segundo coração. — Chacal, confirma a posição. A voz de Cauã veio firme, fria, sem emoção: — No túnel do quilômetro 7. Quando eles entrarem, a gente fecha o cerco. Eu olhei pro Alemão, o ex-policial que agora fazia parte da nossa equipe. Ele ajeitava o colete tático, checando o pente do fuzil. — Se der merda, você sabe o que fazer — murmurei. Ele respondeu com um aceno curto. Do tipo de quem já viu o inferno e sobreviveu. No outro ponto, Caveira montava a distração. Drone no ar. Câmeras térmicas. Tudo cronometrado. Era a nossa noite. A carga era grande — drogas e armas contrabandeadas vindas direto do porto clandestino do inglês. Armas suficientes pra uma guerra. Drogas suficientes pra comprar uma cidade. O relógio marcava 02:17 quando o comboio apareceu. Faróis cortando o breu. O som dos motores ecoando como trovão. — É agora — falei baixo, apertando o gatilho da adrenalina. Cauã acelerou. O carro dele rasgou o asfalto e bateu de frente com a SUV da frente. O impacto foi seco, violento. Vidro, metal e fumaça. O primeiro tiro veio logo depois. E o inferno se abriu. Luzes piscando. Tiros cruzando o ar. O som das balas batendo no metal. O rádio chiava entre gritos. — Cobertura no flanco esquerdo! — berrei. — Caveira, segura o alto! Alemão abriu fogo com precisão cirúrgica. Cada tiro, um alvo. Cauã — o Chacal — recarregava sem perder tempo, sangue no canto da testa, olhos de predador. — Esses filhos da p**a não vão sair vivos — rosnou, disparando outra rajada. Enquanto ele mantinha a distração, eu e minha equipe nos movíamos pelas sombras. A estrada estava tomada pelo caos, mas o nosso foco era um só: a carga. Dois homens do Sebastian caíram na lateral. O terceiro tentou reagir, mas foi neutralizado antes de entender o que estava acontecendo. — Cobra, acesso livre! — a voz do Caveira estourou no comunicador. — A porta tá aberta! Corri. O caminhão tremia com o tiroteio. O barulho do motor misturado com os gritos me deixava surdo, mas eu sentia o sangue pulsar em cada veia. Arrombei o compartimento e o cheiro de pólvora e óleo de arma me acertou como um soco. Caixas. Fileiras delas. Fuzis, munição, explosivos, pacotes de pó. A carga de Sebastian King. Agora, nossa. — Confirmado. Recolher e sair. — respirei fundo, tentando manter a calma. — Recolham tudo antes que os lobos cheguem. A resposta veio com o som distante das sirenes. Crescendo. Rápido. — Merda… os lobos estão vindo! — gritou Caveira. Lobos. Polícia. O nome que a gente usava quando o tempo acabava. Alemão pegou o rádio e respondeu: — Recuar! Recuar agora! Os homens de Sebastian começaram a fugir pela lateral, abandonando o caminhão. Mas o inglês não recuava. Ele observava. De cima de um prédio antigo, com vista panorâmica para o caos, Sebastian King fumava um charuto cubano. Terno alinhado, olhar calmo, quase divertido. O tipo de homem que não precisa sujar as mãos pra matar. Do lado dele, um segurança esperava ordens. — Quer que mandemos reforço, chefe? — perguntou. Sebastian deu uma tragada longa e respondeu sem pressa: — Não. Deixa eles pensarem que venceram esta noite. O olhar dele ficou duro, frio. — Esses sacos de sangue foram longe demais… Quero a cabeça deles. Todas. O vento levou a fumaça do charuto, junto com a promessa de retaliação. Quando o sol começou a nascer, a gente já estava longe. O carro balançava pelas ruas da Costa da Lua, o motor gemendo depois da fuga. Cauã dirigia com o braço enfaixado, o ombro latejando. — Pegou de raspão — eu disse, olhando o ferimento. Ele respondeu com um sorriso curto. — Raspão ainda sangra. O silêncio tomou o carro por alguns minutos. Só o som do motor e da respiração pesada. A gente tinha vencido a noite, mas ambos sabíamos que o preço ainda viria. Quando estacionamos na frente da casa, o portão estava entreaberto. E lá estava ela. Hannah. Adormecida sentada na soleira da porta, enrolada em um cobertor, como se o corpo tivesse esperado ele a noite inteira. O cabelo caía sobre o rosto, o peito subindo e descendo devagar. Cauã parou por um segundo, observando em silêncio. — Ela ficou te esperando — falei baixo, tirando o cigarro do bolso, mas sem acender. Ele não respondeu. Apenas desceu do carro, as botas fazendo barulho no chão de pedra. Ajoelhou-se, passou o braço por baixo dela e a levantou devagar. Ela acordou no mesmo instante. — Cauã? — a voz dela veio trêmula, sonolenta. — Você… Ela viu o sangue. O susto limpou o sono dos olhos. — Meu Deus! — gritou, tentando se soltar. — Shh… — ele pediu, a voz rouca. — Tô bem. Mas o chão da varanda dizia o contrário — pingos vermelhos marcavam o caminho que ele fazia até o quarto. Eu fiquei de fora, encostado no carro, observando a cena pela janela. O tipo de coisa que te desmonta por dentro, mesmo quando você jura que já tá acostumado com o inferno. Ela correu pra pegar uma toalha, as mãos trêmulas. Ele tentou afastá-la, mas Hannah ignorou. Fez o curativo em silêncio, os olhos cheios d’água. Quando terminou, ele já tinha adormecido. Exausto. Mas ela… não conseguia parar de olhar pro sangue seco no chão. Entrou no banheiro pra lavar as mãos, e o que viu fez o coração dela parar por um segundo. O box estava manchado de vermelho. A água ainda escorria no ralo, tingida de sangue. E foi ali, naquele instante silencioso, que Hannah entendeu: o homem que ela amava estava se afogando num mundo de violência que só sabia levar mais sangue pra casa. Do outro lado da cidade, em um prédio iluminado pelas luzes de neon, Sebastian King terminava o charuto e servia um copo de uísque caro. Assistia às filmagens do confronto pelos monitores — cada movimento gravado por suas próprias câmeras de segurança. — Armas e drogas… metade do meu império nas mãos daqueles desgraçados — murmurou, a mandíbula travada. Abaixou o copo devagar, o gelo tilintando. — Quero que descubram onde eles dormem, onde respiram, quem amam. — A voz dele soava calma, mas os olhos brilhavam de ódio. — Quero o Chacal de joelhos e o Cobra dentro de um caixão. O homem ao lado apenas assentiu. Sebastian virou-se pra janela e observou o nascer do sol sobre a Costa da Lua. O reflexo dourado iluminava o sorriso frio dele. — A guerra começou. E dessa vez, eu não vou perder.
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