Serpente Narrando A porta do escritório bateu atrás de mim, e eu travei a tranca quase sem pensar. A adrenalina ainda queimava, a música lá fora batendo devagar como se fosse outra vida. Tava püto, daquele tipo que faz a visão estreitar. — O que cê tá fazendo comigo, Key? — falei, no sussurro que corta mais que faca. — Por que cê nem atende e nem responde minhas mensagem? Ela me encarou com a cara inchada de quem chorou demais, os olhos secos tentando manter a pose. — Não se faça de bësta, Leandro — soltou, com a voz curta. — Você sabe muito bem. — Eu sei, e também sei que tu não me deu chance de me explicar. Tu já foi embora fingindo que eu não existia. Eu senti meus punhos formigando. A raiva misturava medo, vergonha, orgulho. Eu não queria humilhar, mas também não ia ser pisado.

