― Ahh ― suspirei, caindo de costas na minha cama. ― Que dia... ― Eu disse, esticando as minhas mãos, e então, deslizei o olhar para o meu anel de casamento. Irritada, usei a minha outra mão para tirá-lo. ― Pelo menos nos meus sonhos eu mereço ser livre ― falei, puxando o anel, porém, quando estava o tirando, alguém bateu em minha porta.
― Oh, não pode ser ― suspirei, devolvendo o anel ao seu lugar. ― Pode entrar, Fred ― respondi, reconhecendo as suas três batidas habituais na porta.
― Dona Lia, trouxe o seu chá com três colheres de açúcar, do jeito que você gosta.
― Obrigada, Fred, eu realmente precisava disso ― eu disse, levantando-me e ele esperou por mim com a sua calma habitual de sempre.
― Irei deixá-la sozinha, para que possa desfrutar do seu chá.
― Ok ― sorri para ele, pegando a xícara e trazendo-a aos meus lábios, mas um segundo depois eu o parei, impedindo-o de ir embora. ― Fred, posso te fazer uma pergunta?
Ele se virou e assentiu educadamente.
― Bem ― eu olhei um pouco nervosa para a minha xícara de chá, mas eu precisava saber de algo. ― Você conhece o Jacob de muito tempo atrás, certo?
― Muitos anos, senhora.
Eu não tinha uma ideia exata de há quanto tempo eles se conheciam, mas não precisava ser um gênio para saber que Jacob confiava firmemente em Fred, e isso só podia ter uma explicação, longos anos de lealdade.
― E você também sabe que entre ele e eu não existe nenhum tipo de empatia, nem nada que outros casais têm.
― Não acho certo me envolver nesses assuntos.
― Vamos Fred, todo mundo aqui sabe.
Com seus mais de cinquenta anos, Fred passou as mãos sobre os seus cabelos escuros, perfeitamente penteados, tendo apenas alguns fios grisalhos quase imperceptíveis. Alto e delgado, se mostrava como alguém de confiança e discreto.
― O que exatamente quer saber, senhora?
― Você verá ― eu olhei para cima. ― Você sabe o que realmente acontece com o Jacob? Quero dizer, por que ele está sempre m*l-humorado, especialmente comigo? Desde o primeiro dia ele foi muito arrogante e sem falar no trabalho que com os seus milhões acredita ser o dono do mundo.
― O Sr. Jureck tem uma personalidade forte e complicada, mas a senhora não fica muito atrás.
― Eu tenho fortes motivos, inclusive, quando cheguei à esta casa, eu vim com a minha bandeira branca da paz, porém, ele começou essa guerra.
― É assim que você vê o seu casamento, senhora?
― Não, pior ― respondi, tomando outro gole do meu chá. ― Eu gostaria de poder voltar no tempo ― murmurei com o erro pesando em minha consciência.
― Tem certeza, senhora? O passado era realmente melhor do que agora?
― Do que você está falando?
― A senhora, mais do que ninguém, sabe do que estou falando, me desculpe ― abandonando aquela incógnita comigo, Fred sai do quarto, deixando-me sozinha com o chá nas mãos.
Terminei de beber a minha bebida quente e depois de pensar no que se passou, percebi que, mais uma vez, Fred havia fugido do assunto, eu ia perguntar a ele sobre Jacob, mas novamente ele fugiu, sem respostas, porém, sendo honesto comigo. Foi muito melhor assim.
Eu já sou uma mulher feita e que fez um imenso esforço para se destacar neste mundo que é majoritariamente de homens. Não tenho nada a invejar do intransigente e implacável homem que tenho como marido.
Qualquer um diria que o meu casamento era feliz e que o meu marido estava orgulhoso de minhas conquistas, todos presumiam que estávamos no nosso melhor momento. Ou o momento perfeito para ter um bebê. O que fugia completamente da realidade e, francamente, essa ideia de formar uma família em algum momento; estava longe de acontecer. Sou jovem, eu sei, na verdade tenho vinte e três anos, com uma vida inteira pela frente, mas depois dessas duas grandes decepções, só consigo ver o mundo com olhos voltados para os negócios. Não me vejo como mãe, nem como esposa dedicada.
― Duas decepções... ― Eu murmurei. ― Erro após erro.
Houve quem disse que quem tem sorte no dinheiro não tem sorte no amor. E isso se aplicava perfeitamente a mim.
― Chega, Lia. ― Eu me deitei. ― Os homens são apenas id*otas, cada um pior que o outro.
Fechando os meus olhos, desta vez eu recordei de quando eu era uma garota de vinte anos que estava sendo pedida em casamento. Pura felicidade, vibração, pulos de alegria para todos os lados e um abraço carregado de ternura de quem acreditei ser o amor da minha vida, Dereck, o meu amado futuro marido que trabalhou na empresa "Lazzari" e que não hesitou em subir de cargo após o nosso noivado.
Eu estava prestes a sair da universidade e ele; exercendo a mais alta posição na empresa "Lazzari" que criava fragrâncias femininas. Teríamos um futuro seguro, ou assim pensei... Ele muito infeliz, esperou até o dia do nosso casamento para chegar de mãos dadas com a sua amante e me humilhar na frente de todos, e ainda não satisfeito com isso, ele foi embora, nos deixando falidos, e logo, a nosso negócio não tinha mais recursos para sobreviver. Eu cometi um erro quando me casei para salvar a empresa, mas quem iria me dizer que esse cara era pior que o anterior!?
Jureck, o homem impecável, cobiçado pelas mulheres e até pelos homens, é meu marido, mas ninguém o conhece de verdade. Por que eu tinha que confiar nele? Deixei-me cativar por aquele tratamento amável e terno, quando ele era pior que o d*abo... Como ele fingia bem! Sr. Jureck, amável? Não, um ser detestável.
― Enfim... Nada do que ele faça poderá me interessar ― eu disse em voz baixa, me levantando para trocar de roupa, e então me olhei no espelho. Ali tinha uma mulher forte, que foi ridicularizada pela mídia por ter sido abandonada no altar, e agora ela era uma mulher brilhante e inteligente que havia conseguido as melhores campanhas publicitárias para a empresa "Lazzari". ― Você se saiu bem, Lia, você se saiu muito bem ― eu disse a mim mesma, enquanto tirava o vestido.
(...)
No dia seguinte, saí muito apressada de casa, estava a apenas alguns minutos de iniciar a reunião da diretoria. O que você irá anunciar, Jacob? Seja o que for, tenho certeza de que ele teve muito tempo para pensar. Devo dá-lo o mérito de que, apesar da sua arrogância, ele é um homem especialista em negociações. Enfim, algo de bom tinha aquele sujeito.
Saí do carro, deixando-o no estacionamento. Acomodando a minha bolsa no meu ombro, caminhei com a total segurança que me caracterizava, porém, ao ir caminhando, descobri que Jacob também estava chegando.
Não demorou muito para ele me alcançar, embora que eu tivesse acelerado os meus passos.
― Achei que já estivesse na sala ― comentei zombeteiramente por ter chegado antes dele.
― Ainda é cedo ― respondeu com uma voz seca.
― De qualquer forma, o meu carro é mais rápido que o seu.
― Você saiu vinte minutos antes de mim, isso não o torna rápido, ao contrário, o torna lento, porque cheguei quase na mesma hora que você.
Irritada, ajeitei o meu braço para que a bolsa não escorregasse do meu ombro e corri apressadamente para a entrada do prédio.
― O que está fazendo? Isso não é uma competição.
― Isso é o que você diz agora! Mas eu sei que se você chegar lá antes de mim, irá tirar sarro da minha cara.
Qualquer um diria que eu estava exagerando, mas não. Isso era verdade, e tinha acontecido mais de uma vez.
E eu estava tão focada em chegar antes dele, que não notei que outro carro estava vindo pela minha direita, e então, continuei, já era tarde demais quando o motorista buzinou e tudo que eu pensei foi: "Vai doer".
De repente, a minha bolsa, feito uma maleta com papéis, caiu no chão, as folhas rapidamente se rasgaram e a minha respiração acelerada se agitou no peito forte de um homem que me abraçou com força pela cintura.
Quem era esse cara? O homem que com os olhos me dizia "m*rra", mas que com as mãos me protegeu como um cristal prestes a quebrar. Isso mesmo, estou falando de Jacob.