A VIAGEM E DOIS OLHOS NEGROS

2263 Words
Finalmente, havia chegado o dia da viagem e os dois estavam arrumando para poder viajar para poder esfriar a cabeça em conjunto e ficar um pouco longe da cidade. – Está pronta para irmos? – perguntou Joaquim por saber que a sua esposa sempre quando se organizava para alguma coisa leva muito tempo e agora também fez a mesma coisa. O homem colocava perguntas daquele gênero mesmo sabendo que quase sempre a resposta era a mesma, pois a esposa não se fazia, ela era daquele jeito, era a sua personalidade. – Ainda não estou pronta, amor ainda falta um pouco. – ela disse ainda tentando escolher o melhor vestido para a viagem. Joaquim olhou para ela e se recordou de tempos em que os dois ainda eram recém namorados, perambulando por aí como quem não tem rumo e fazendo safadezas que ficaram gravadas na memória permanente. – Não se demore. Ou quer que eu te ajude a escolher a melhor roupa para a viagem? – Até que seria muito bom, pois eu sei que você tem bom gosto. Verdade era sim, Slayer tinha um bom gosto em termos de roupa, sabia escolher peças que combinavam e por onde passava fazia com que as pessoas lhe olhassem mais que uma vez por conta de estarem impressionados. Fazia um bom tempo que os dois não visitavam a enorme fazenda que era cuidada por um trabalhador com uma idade inferior, no entanto com uma mente madura que nem merecia pertencer ao homenzinho. Fazer aquela viagem seria uma oportunidade para verem o pequeno homem que tinha grandes habilidades para cuidar de tudo que os donos deixaram com ele. Matilde já estava pronta, então os dois viajaram até ao lugar, numa viagem que não levou mais que uma hora de tempo. Quando chegaram perceberam que tudo lá perdera o brilho que eles estavam acostumados a ver como nos outros anos, então não gostaram nada. Tudo estava com uma palidez palpável e não estavam a espera que encontrassem aquela situação. O trabalhador não estava e mesmo que quisessem perguntar aos vizinhos, os dois sentiam que algo não estava nada bom, e também sabiam sobre o comportamento dos vizinhos, ou melhor, das pessoas que consideravam vizinhos, pois uma distância considerável separava uma casa da outra, numa espécie de isolamento que chegava a assustar. O medo de interagir com os moradores vizinhos do trabalhador, pequeno homem, tinha a ver com prevenção de sofrer algum tipo de ataque espiritual por meio da magia do satã que por eles era praticada. – Senhora Matilde e senhor Joaquim. – disse uma voz entusiasmada antes do casal virar e se deparar com o rapaz que mesmo depois de muitos anos continuava com mesmo estilo e com as mesmas vestimentas, no entanto limpos e cheirosos, felizmente era um rapaz que se cuidava e que se estivesse na cidade se cuidaria mais, assim caprichando na sua indumentária. – Oi, Allan! Tudo bem? – disse Matilde com suavidade nas suas palavras que foram respondidas logo em seguida com um sorriso no rosto do menino que não via a face dos patrões havia algum tempo, longo tempo na verdade. – Estou bem patroa. A quanto tempo? – Faz muito tempo mesmo, mas nós estamos aqui para te visitar e ver como o seu trabalho está indo. – falando um pouco baixo, mas com uma voz forte e de autoridade disse Matilde. – Aqui está bem estranho o que houve? – perguntou Slayer ao rapaz que logo de imediato. O rapaz era sempre assim, muito rápido para responder, no entanto mesmo assim respondia frequentemente com acerto, coisa que Slayer apreciava nele. – Parece que novamente usaram a magia n***a para algo fazerem, mas o que eu consegui ver foi um animal estranho que, infelizmente comeu dois bois no cural e só deixou as cabeças. A visita deles alí era para descansar e relaxar, passar alguns dias conversando, sem internet e nem luz. Seria uma experiência maravilhosa para duas pessoas que já estavam enjoados pela mesmice alí na vila de Moamba, as vezes eram mais interessante ver o outro lado da vida para mais aprender. – Assim que começaram novamente com essas coisa que referiste, o que pensavas em fazer? – Slayer colocou a pergunta que soou um pouco forte para o rapaz, no entanto, com calma o jovem respondeu ao seu patrão. – Honestamente, não queria fazer nada, mas eu sei que foi um erro meu, eu tinha que informá-los. – Querido, calma. É complicado sair daqui para lá, nós sabemos que há problemas de transporte. – disse Matilde. – Mas também porquê que não deu o recado aos colegas que trabalham para fazer a informação chegar? – perguntou Slayer, mas a sua pergunta tornou-se numa retórica. Os dois outros nada disseram como resposta e olharam um para o outro até que Allan decidiu dizer: – Peço perdão senhor Slayer. Joaquim, gostava daquele rapaz, pois quando o mesmo errava reconhecia e isso era muitíssimo bom para ele, e poderia dizer que tinha um bom trabalhador. – Está perdoado e que isso não se repita nunca mais. – o ex médico disse. As malas do casal estavam prontas pois já se havia decidido que ficariam além por alguns dias. Ainda não sabiam exatamente quantos dias, porém só queriam alí estar para relaxar, só que não sabiam que alí não era lugar para relaxar, mas sim para assistir espetáculos tenebrosos obra das mãos do d***o. Tiraram do carro e meteram na casa grande. A fazenda tinha uma grande casa, era onde a mãe gostava de dormir, mesmo tendo uma outra mais menor, no entanto bem equipada. A fazenda pertencia a mãe do Slayer e um dia pertenceria a ele. O ex médico sabia disso, mas não se acomodava por ter essa informação certa na sua mente. Matilde ajudou ao rapaz a procurar lenha para cozinhar , e também quando começou a cozinhar o ajudou. Foi bem fácil, pois encontrar lenha era uma tarefa bem fácil, visto que tudo estava bem alí organizado. Parecia uma obra feita de Deus que servia como presente para os que estavam na fazenda. Slayer tirou um livro que havia levado consigo na pasta para ler, o título do mesmo era Ashlem - A Raíz, livro escrito pelo grande autor Moçambicano James Nungo. Joaquim gostava de ler livros de ação e ter escolhido aquela obra era um grande acerto, um gênero exato para ele segundo as suas preferências. – O que está lendo amor? – perguntou Matilde quando se aproximava dele com uma faca e folhas de abóbora para preparar. Slayer antes de responder ligou uma lanterna e focou na capa do livro: – Estou lendo Ashlem - A Raíz, o primeiro livro da saga Os Skitoyers. – É uma grande obra de arte. Eu também pude ler um pouco quando estava na nossa gaveta lá em casa. – Então você lia escondida hein? – Eu? – ela disse dramatizando apontando para sí mesma. – Não, dona Matilde. – disse e os dois entraram na onda dos risos. A comida foi confeccionada e já estava pronta e antes que comecem Slayer pôde ver as estrelas brilhando no céu. Passava muito tempo que ele não via aquele cenário por conta de estar numa cidade em que Moamba se transformou. Muitos não acreditariam se alguem dissesse que um dia lá era possível ter no campo de visão as estrelas fazendo espetáculo nos céus. A noite havia caído e já estava na hora de dormir. – Vamos. – disse Allan. – Não, vamos dormir aqui fora. – disse Matilde cumprindo o que havia combinado com o seu marido. – Não podem. – disse o rapaz. – Porquê que não podemos dormir aqui fora? – Porque é muito perigoso. Há coisas que circulam por aqui durante a noite, é melhor a gente dormir lá dentro. Vamos vos ajudo a levar as coisas para dentro. Matilde não quis negar e nem cogitou em fazer isso, pois sabia que com coisas sobrenaturais não se brinca então logo seguiu o rapaz até a casa grande. Slayer depois de alguns segundos cogitando hesitar seguiu aqueles dois e seguros entraram na casa. O calor ainda era insuportável lá na casa, mas o lado de fora era bem fresco, bem tentador para qualquer um que fosse. – Por favor não saiam durante a noite, mesmo se for para fazer necessidades. Aqui tem dois baldes para vocês fazerem as necessidades. Eu sei que é difícil, mas é para a vossa segurança. Slayer ainda estava com uma pequena descrença, queria acreditar vendo, então durante a noite ele havia idealizado sair para ver o que aconteceria. Má verdade era uma atitude infantil, mas ele achava interessante para ele, talvez por conta das alucinações que lhe assolavam de uma forma absurda. Aí já estavam a dormir quando Slayer acordou para fazer fazer urinar, no entanto ele quando olhou para aquilo sentiu-se numa prisão e disso ele não gostava de sentir, então antes de sair para fora lembrou-se das palavras do pequeno homem que advertiu-lhe. Ele não quisera ouvir e queria fazer a mesma coisa que um personagem de um filme de terror faria, se esquecendo que aquilo se tratava da vida real e não um filme. Olhou para sua esposa que estava dormindo profundamente e constatou que não seria difícil dalí sair sem lhe despertar. Olhou para os seus chinelos e quando estava prestes a calçar os mesmos, pôde analisar e teve como conclusão que os mesmos provicariam barulho pelo espaço. Então, levou uma garrafa de uísque e saiu com ela, pois urinar não era o seu objetivo principal, mas o seu, era escapar dos pesadelos que lhe trazia sempre um medo grande no seu interior. Saiu e já estando na parte de fora sentou na cadeira que haviam esquecido de tirar. Encostou e abriu a sua garrafa, estava apertado, então levou a garrafa e deixou perto da sua cadeira, numa pedra grande que servia como suporto em seguida foi urinar. Voltou para a sua cadeira e com toda vontade descansou as suas costas e engoliu o líquido que queimava o seu peito. – É muito delicioso. – ele disse para sí mesmo. Mas na verdade ele não sentia o que dizia sentir, mas tomava aquele tipo de bebida para poder relaxar um pouco a sua mente com perturbações. Mas não parecia que o líquido lhe ajudava, mas parecia o contrário, ela estava acabando com ele. Respirou fundo quando o líquido novamente escorregou pelos caminhos da garganta e lhe queimou. De repente um assobio soou, mas era baixinho e mesmo assim o homem conseguiu ouvir. Virou para a direção de onde o som vinha e nada viu. – Porcaria dias alucinações já começaram e acham que eu vou me importar. Vá a merda não tenho medo. – disse para ninguém e na última parte da sua fala meio que gritou. Ele deu mais um gole no gargalo da garrafa e novamente conseguiu ouvir um assobio. De novo o homem olhou na direção de ondo o som vinha e desta vez conseguiu ver olhos brilhando no escuro. – Venha seu desgraçado. Eu sei que você não é real p***a nenhuma. – O ex médico disse com uma voz bem audível para direção de onde duas pequenas bolas brilhavam como olho de algum tipo de criatura. Aos poucos os mesmos olhou se aproximavam até que o homem viu que era uma criatura com o formato de um cão porém ele ficava cada vez mais grande a medida que chegava perto do homem que já não conseguia continuar a ignorar e assim levantou aos poucos para ver a coisa que lhe encarava. Quando a criatura viu que o homem havia se levantado parou os seus passos e encarou o outra sem piscar nem sequer uma vez, como se estivesse a espera que ele reagisse, no entanto Slayer continuou parado e imóvel para ver qual seria o próximo passo da coisa. O cena que estava se observando era de dois seres que se encaravam com pensamentos idênticos e assim ficariam toda noite. Joaquim viu que não era uma boa ideia continuar alí competindo com uma criatura que desconhecia e a ficha já havia caído e o medo começava a escalar os caminhos da espinha e a garganta. Deu um passo para trás lentamente e a criatura logo deu um passo lento para frente. Slayer deu o segundo passo da mesma forma que o primeiro e a criatura fez o mesmo, porém no caso dela, deu para frente. A respiração do homem começou a ficar ofegante quando percebeu que a situação era séria. Ele tinha que calcular e muito bem como ia correr até a casa e entrar antes que fosse devirrada pela criatura que só podia ser a que anda a devorar manadas de bois. – Senhor Slayer!! – o rapaz gritou chamando pelo ex médico. Ele ficou petrificado quando viu a coisa num piscar de olhos se movimentar agilmente até perto dele revelando a sua aparência horrenda com uma pele totalmente vermelha e olhos negros que as vezes brilhavam. O médico sentiu o seu respirar perto dele e não chegou de se mover com o seu corpo imóvel, congelado por conta do medo que havia lhe congelado. A mesma criatura tirou a sua enorme língua e quando estava prestes a lamber o ex médico foi interrompido com um tiro na sua direção, esta de imediato deu um golpe ao Slayer com as suas enormes garras e em seguida correr para longe dele. Foi aí que Joaquim Slayer passou a levar a sério coisas daquele gênero.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD