UM PAPO COM O VELHO

2006 Words
A noite havia chegado e com ela o frio de gelar os dedos. Slayer caminhava a um passo largo ao lado do seu velho amigo que decidira desaparecer, mesmo mentindo dizendo que a culpa era do destino. Joaquim não acreditava em palavras assim tão fracas para alguém convencer, pois para ele o Homem é que cria o seu próprio destino, pois é liberdade em pessoa. O frio que fazia no bairro era um que parecia uma invocação para desgraçar a todo aquele que não tem uma manta, camisola ou cobertor para se proteger da fúria gelada. O velho ao lado do médico não economizava palavras para falar de tudo que não pôde falar por ter estado por muito tempo desaparecido. E a coisa mais interessante nele era a grande calma para explicar devagar sem perder o seu fio de pensamento, mesmo que alguém o interrompesse. Quanto mais os dois alargavam o passo e a velocidade, o destino de ambos parecia inalcançável, no entanto o outro, o com a idade avançada além da sua calma, tinha uma paciência de invejar e as suas pausas durante a narração eram estranhamente interessantes, porém muitos não sabiam porquê, a resposta era simplesmente macabra e a única pessoa a quem foi revelada a verdade, simplesmente morrera de uma causa excêntrica, não fora uma doença, mas sim algo muito bizarro. Finamente chegaram em casa do senhor Slayer. — Pode entrar. — disse o dono da casa no momento que chegaram e tinham muita coisa por conversar depois que passou muito tempo sem os dois nada falarem. — Obrigado! — o velho homem agradeceu entrando no interior da casa. Matilde não estava havia saído ao encontro das amigas para poder espairecer e relaxar um pouco, eliminando por algum tempo as preocupações e problemas que lhe assolam. — Sinta-se em casa. Na silenciosa noite a casa inteira estava nas escuras, mas Joaquim ligou as lâmpadas e guiou o velho homem até a sala de estar. Os dois se conheceram anos atrás, pois o velho homem era grande amigo do senhor Afuzal, pai do Slayer. Na época quando Joaquim queria notícias do seu pai, quem lhe trazia era o amigo do pai. — Já me sinto em casa, meu filho. E uma coisa me chamou para vir ter contigo. — o velho homem disse e as suas palavras tinham a mania de todas soarem de uma forma assombrosa, mas Joaquim tentava lhes escutar com um outro tom e peso para não sentir um arrepio deslizando pelas suas costas. — Como assim, senhor Zaveni? — espantado ele perguntou e em seguida ligou a TV plasma, mesmo sabendo que os dois estavam numa conversa importante e excêntrica em simultâneo, já era um hábito seu ligar o aparelho mesmo se não para assistir. — Quando comecei a trabalhar com a magia alternativa lá no país amaldiçoado, senti uma forte energia me chamando e a mesma não tem nada de católico, pois trata-se de um problema grave que requer um certo cuidado muito redobrado. Por "país amaldiçoado", o velho referia-se a Moamba lugar que recebeu esse apelido por conta de muita coisa bizarra que ocorreu por lá que envolve, guerras e o uso exagerado da magia da mão esquerda. Ouvir as palavras preocupantes daquele homem tirava o sossego do senhor Joaquim que atento nas palavras do outro sentia-se estranho, como se ele não fosse a pessoa que ele era. — Aceita um copo de uísque? — o dono da casa perguntou ao outro se dirigindo na cristaleira que exibia uma grande quantidade do líquido que queima os caminhos da garganta, em garrafas transparentes. — Claro. — o velho respondeu. De imediato, sem levar muito tempo, Slayer veio com o líquido na garrafa e dois copos para fazer o combustível continuar com a conversa. — Meu filho, não era exatamente o meu desejo aqui estar, vou confessar, no entanto tive que chegar aqui por conta da forte energia negativa que exalas. — o velho disse em seguida deu um gole demorado do uísque fazendo uma careta horrível. — Assim que já está aqui, o que fará com essa energia negativa que exalo, que foi capaz de te tirar de onde estavas para cá? — depois de ter pousado o seu copo na mesa o dono da casa colocou a questão para o outro que olhou para ele em silêncio a espera que continuasse com as suas palavras. — Bem, o que eu posso fazer por ti neste momento que pode te tirar desta maldição é fazer uma oração, mas para a mesma funcionar tu tens que me permitir que eu faça isso, caso não, será em vão. Depois das palavras pronunciadas pelo Zaveni um frio palpável circulou na sala onde estavam e causou um pouco de desconforto ao Joaquim que como forma de trazer calor deu um gole demorado no seu copo de uísque e as suas feições ganharam contornos que eram assombrosos. O velho homem que estava ali era bem excêntrico, mesmo que fosse o homem que conheceu anos atrás, amigo do seu pai. Algo entre eles havia mudado. Slayer em silencio levantou e olhou para outro homem como se não acreditasse que estivesse com ele, conversando na sua própria casa numa troca de palavras tao rara e memorável. — O que foi rapaz? — o velho homem perguntou tirando do seu bolso um cigarro. — Não foi nada, só preciso de uma água para molhar a minha garganta. — ele disse mentindo para si mesmo e para o outro. Um silêncio seguiu no espaço e os dois tomavam o uísque um de cada vez, empurrando um ao outro a responsabilidade de deixar as palavras deslizar deixando uma dúzia de verdades relevantes que possam encerrar a conversa que parecia longa. Um dos dois respirou fundo e passou o seu dedo indicador nos contornos do recipiente que enviava o líquido quente que queimava o peito e fervia na garganta. Quem mais estava interessado em ouvir o outro era o médico, mas da forma como o outro se expressava fazia com que um suspense crescesse. – Poderia ser mais claro, – disse Joaquim tentando ser natural e nada agressivo, mas também a palavra "amigo" era tão peculiar para ele que chegava a arranhar a garganta causando feridas bem acentuadas – com toda, ah… essa informação, está me deixando um pouco ansioso. A ansiedade do médico não tinha nada de pouco, estava mais para um tipo de transtorno, no entanto ele mesmo entendendo essa parte, simplesmente não queria aceitar. Passara a infância lutando com o espírito chamado, transtorno de ansiedade. Uma vez acabara com as suas unhas como forma de combater a sua ansiedade, mas na verdade era a forma como manifestava a mesma. O velho Zaveni, meteu a mão na sua camisa branca, no seu bolso. A calma acompanhava cada movimento seu e as suas feições eram de quem prestava a inteira atenção. De lá tirou um cigarro, olhou para o dono da casa e em seguida disse: – Posso? – A vontade. – disse Joaquim mesmo se incomodando com o cheiro daquele tipo de estimulante. Slayer, levantou, dirigiu até a um espaço bem perto, fez a sua mão deslizar por baixo de um objeto preto e rígido e de lá tirou um isqueiro. Fazia o movimento com a ansiedade de ter a satisfação com toda história contada com todos os detalhes necessários. O velho homem sumira para buscar algo de causar uma curiosidade e uma ansiedade ao médico que está numa iminência de perder a sua sanidade. Já com o objeto que produz fogo, na mão, o médico caminha lentamente até ao seu amigo para lhe entregar como uma recompensa para a continuação da narração com todos detalhes necessários. – Obrigado. – logo ao receber o isqueiro o velho agradece, mas o outro não solta dizendo: – Espera, me ofereço. – Joaquim acende para o outro que aproxima o seu cigarro já na boca para começar, dando tragadas como iniciando o carro para em seguida dar partida a uma viagem longa e programada. Nada disse o velho Zaveni, continuou com as suas tragadas, suspirou e se organizou no sofá afim de se sentir confortável para continuar com o mistério que de certeza que para Joaquim não pode ficar incompleto, isto querendo dizer que de jeito nenhum dormiria e alcançaria o sono profundo em seguida o sonho antes de contar a inteira história que até então parecia um enigma. – Clara a história não estará mais, pois o começo foi de escuridão. Digo no sentido figurado e também literal. – o velho disse em seguida dando tragadas e segurando o seu cigarro com a mão direita usando o dedo médio e o indicador. Slayer olhou para o outro quando ainda este falava e na sua mente as ideias não fluíam da melhor forma, como se algo lhe estivesse obrigando a suportar aquela situação. Já não se lembrava mais se estava sentado ou em pé, apenas escutava cada palavra do homem esperando que o mesmo lhe trouxesse respostas e não historias sem sentido o que estava acontecendo de uma forma sequenciada. – Poderia me dar mais detalhes? – ele perguntou mesmo sentindo que as suas palavras fossem com repetição de algo que falara no passado quando ainda conversavam sobre o mesmo assunto. – Você vai perceber tudo quando a sua mente se abrir. – o homem deu uma tragada e em seguida disse e deixou um sorriso sinistro que deixou um arrepio deslizar pela espinha do Slayer. Aquela conversa não era significante naquele momento, mas no futuro faria alguém perceber o quão importante ela era, não só para os dois, mas também para a sua esposa, Matilde que não sabia sobre as conversas que o seu marido tinha com o velho Zaveni. A amizade do velho Zaveni e o pai do Slayer era tao forte que os dois ate pareciam dois irmãos inseparáveis e parecia que isso aconteceria novamente, sendo que agora o Slayer estava no lugar do seu pai. Slayer irritado calou e desejou que o homem na sua casa logo saísse e fosse embora sem prolongar com aquela conversa que não tinha nada de agradável alem de palavras que não faziam muito sentido para ninguém. Slayer nao soube como e que aconteceu, mas em seguida a conversa entre os dois não demorou cessar e os dois já não estavam juntos sendo que Slayer estava sozinho no quarto e o visitante, o velho Zaveni havia ido embora. O dono da casa agora tinha um copo de uísque e a sua mente em outro universo, mesmo com a sua cabeça doendo, coisa que normalmente faria com que os seus pensamentos não fluíssem da forma como o mesmo esperava por conta do incomodo causado pela dor. Todavia, sem saber ele conseguia pensar em mil coisas com quase precisão mesmo estando numa situação critica. Engolia a sua bebida enquanto em simultâneo recordava-se sobre o acidente que tirou a vida da sua paciente chamada Nilza, evento que lhe fez mudar de ideia, assim abandonando a sua função por algum tempo antes de ter sido convencido a voltar a fazer a mesma coisa. Ele olhou para o teto, quando de repente ouviu alguns toques na sua porta e logo pensou que fosse a sua esposa pedindo licença, no entanto algo que lhe fez desqualificar aquela possibilidade por conta de nunca ter acontecido que a Matilde voltasse para casa num horário daqueles. Levantou onde estava e caminhou na direção da porta para poder ver o que realmente era o produtor do som que soava na porta e quando chegou perto dela não viu absolutamente nada. Incrédulo continuou olhou para nada a espera de algo ver que pudesse culpar, dizendo que e o produtor do som que lhe fez levantar e caminhar ate a porta. Depois que não pode ver nada voltou para o seu quarto e fechou a porta para voltar aos seus pensamentos e beber o seu uísque com toda calma, como se fosse seu remedio para tudo que estava girando na sua mente. Continua...
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