CAPÍTULO 3

1542 Words
LEONARDO SANTORINI Hoje foi a inauguração da nossa nova loja de vinhos, o que foi um sucesso. É sempre um sucesso. Todos os nossos amigos estavam presentes, muitos convidados da alta sociedade carioca, alguns membros do governo também. Meu pai m*l conseguia conter seu orgulho ao ouvir os elogios, esse negócio em questão foi feito totalmente por mim, ele não deu nenhuma opinião sequer. Eu curti muito o meu momento, foi bom receber os meus amigos e também ouvir de todos o quanto eu estou me destacando, é bom ser reconhecido, e eu gosto muito disso. Hoje também, recebi a visita da Lucy, ela está de volta ao Brasil e dessa vez é para ficar. A Lucy é a irmã do Lucas, o meu amigo que morreu naquele maldito acidente que até hoje me atormenta. Quando éramos adolescentes, eu e a Lucy tivemos um envolvimento, era incrível, só que depois de toda a confusão ela foi embora e passamos um tempo sem nos falar. O acidente muito recente, o julgamento e tudo mais, eu achei melhor me afastar, mas ela nunca parou de me ligar e também não aceitou o afastamento, mesmo que os pais dela me odiassem na época, ela ainda não desistiu de mim. Nosso reencontro foi ótimo, foi bom vê-la tão bem, falamos sobre tudo das nossas vidas, principalmente nossos projetos recentes. Mas, minha noite não foi perfeita, e por causa da Marina, aquela i****a sempre me tira do sério e hoje não foi diferente, além de estar com aquele vestido vulgar, bebendo todas, ainda ficou de papo com aquele desgraçado do Gustavo. Resumindo, minha noite começou ótima e terminou péssima, e pelo jeito ainda não acabou. Avalio a mulher completamente bêbada na minha frente e minha vontade é apertar aquele pescoço até ela parar de me irritar. — Eu não posso ir dormir sem falar o que tá entalado aqui ó — aponta para a própria garganta, enquanto solta um soluço de tão bêbada que está. — Eu não quero te ouvir. Me. Deixa. Em. Paz! — falo pausadamente as palavras, mas ela, ao invés de sair, se aproxima mais. — Léo, por que você me trata assim? Eu gosto tanto de você, você não pode falar comigo desse jeito, não pode! — balança a cabeça de um lado para o outro e quase cai. — Ai! Doeu — Reclama ao bater o quadril na mesa. Ela se equilibra e dá mais um passo em minha direção. — Léo, eu vim aqui para te dizer que eu gosto de você. Eu amo você, Leo. — Afirma com os olhos fixos nos meus. Ela dá mais um passo, ergue a mão e toca o meu rosto. Sua respiração está acelerada, suas pupilas trêmulas, mas mesmo assim seu olhar, suas palavras, mesmo sob efeito do álcool, mostram firmeza. — Léo, você não sabe como é horrível ver você com aquelas mulheres, dói, sabia! Desde o começo, eu não gosto. — Faz um muxoxo de desgosto e continua: — Eu queria estar no lugar delas, eu queria tá lá nos seus braços, beijando você. — Fala sem nenhuma dúvida. — Vai dormir, p***a! — Afasto sua mão do meu rosto. Essa mulher só pode estar querendo ferrar com o meu juízo, e nem tenho muito. — Tá vendo. É só assim que você me trata, isso machuca. — Marina, não teste a minha paciência, c*****o. Sai daqui! — falei entredentes. — Viu, você não faz nem questão de tentar me entender. Léo, eu não tenho culpa de gostar de você, ninguém manda no coração. Por que você não me dá uma chance? — segura meu rosto com as duas mãos — talvez você goste de mim também. Antes que eu tenha tempo de responder ou afastá-la, a filha da p**a me beija. Eu não deveria reagir, com certeza tinha que parar imediatamente sua ação, mas eu faço exatamente o contrário, retribuo o beijo no impulso e, para piorar a situação, a infeliz passa os braços em volta do meu pescoço e me puxa para a mesa. Eu tenho muitas qualidades nas quais me destaco e me orgulho, mas autocontrole não é uma delas. No calor do momento, eu acabei tomando o controle, segurei firme sua nuca e intensifiquei o beijo, minha boca toma a dela com necessidade, desejo, e p***a… seu beijo é gostoso pra c*****o. Quando paramos o beijo por falta de ar, minha consciência finalmente volta a funcionar e eu me afasto. — Que p***a! — chuto a cadeira ao meu lado. Que merda eu acabei de fazer? Olho a mulher na minha frente, que tem uma mistura de surpresa, susto e um desejo fodido que quase me faz perder a cabeça de novo. Passo as mãos nos cabelos e respiro fundo tentando controlar, seja lá o que for que estou sentindo. — Que merda você está pensando, c*****o? — questionei, ainda recuperando o fôlego. — Eu… eu só… — gagueja enquanto tenta me tocar. — Não encosta em mim! Marina, eu não sei qual merda você bebeu naquele evento para vir aqui fazer uma p***a dessas, mas eu vou te avisar só uma vez — fixo meus olhos nos seus — Não. Faça. Mais. Isso! — falo pausadamente cada palavra. — Não esqueça que nessa situação aqui, nós somos irmãos, ou você esqueceu que meus pais adotaram você? Hein, c*****o! Você esqueceu como veio parar aqui? — Não! Eu sou muito grata por tudo, mas… — Não tem “mas”, Marina, você e eu somos irmãos e ponto. — Mas não é de verdade, não temos o mesmo sangue, então não é errado. Você também gostou de me beijar, eu senti isso. Eu rio de nervoso depois de ouvir sua resposta, principalmente porque ela tem razão, eu gostei sim, é isso me dá ainda mais raiva. — Eu sou homem, Marina, um homem que não é reconhecido pelo excelente controle de suas reações, então se uma mulher se oferece de bandeja e me agarra, claramente essa seria minha primeira reação, é natural, mas isso não significa que eu gosto de você. Eu não tenho interesse s****l em você! Nunca mais faça uma merda dessa ou você vai se ver comigo! — Dito isso, eu virei as costas e saí em direção ao meu quarto, estou com tanta raiva que se continuar perto dela ouvindo sua voz, vou acabar piorando essa situação toda. Mesmo depois de um banho gelado, meu corpo ainda não voltou ao normal, é f**a reconhecer que eu também senti desejo por ela, que eu realmente gostei e retribui o beijo, mesmo não sendo certo. A verdade é que eu não sou indiferente, mesmo reprimindo o máximo que posso, eu ainda tenho pensamentos atravessados quando vejo a Marina naquelas roupas curtas que ela usa, quando a vejo dançar, sorrir... sempre foi assim, desde o início, por isso eu mantenho distância e não dou muito papo, não quero dar espaço para essas sensações, isso não vai agradar nossos pais e eu também não concordo, é… estranho. Eu m*l consegui pregar os olhos direito o resto da noite, minha madrugada foi fodida e o resultado disso é o aumento considerável do meu mau humor, felizmente hoje é domingo, então estou de folga. Saí de casa antes mesmo do café da manhã, assim evito encontrar com a Marina, como não tenho que ir para a empresa, decidi dar uma volta de carro e depois correr na praia, faz muito tempo que não faço isso. Anos atrás meu pai adquiriu uma pequena ilha em um negócio, ele construiu nela e fez um projeto de arborização, ficou parecendo um verdadeiro castelo, com jardins, pomar, animais, era para ser nossa casa de campo para as férias, mas acabou se tornando um refúgio só meu, meus pais não gostam daqui, já eu adoro a paz desse lugar, principalmente porque foi aqui que eu fiquei isolado alguns meses para fugir do circo da mídia, na época do acidente, e é para cá que eu venho quando quero pensar. — Quanto tempo, senhor Leonardo — o Silva, o caseiro que cuida de tudo aqui, vem me receber assim que desço da lancha. — Eu estou trabalhando muito ultimamente, quase não tenho tempo para curtir. Como andam as coisas por aqui? — Tudo indo perfeitamente bem... — Ele faz um pequeno resumo de algumas reformas que eu pedi e seguimos conversando. Depois de tomar um café da manhã reforçado, preparado pela Neuza, esposa do Silva, eu fui correr na praia, corri por mais de uma hora, também nadei e depois fiquei na academia, no final do dia meu corpo estava exausto e eu acabei conseguindo ter algumas horas de sono. Quando eu voltei para casa, já estavam todos dormindo, então segui direto para o meu quarto e fui olhar alguns e-mails e adiantar alguns contratos até o sono resolver dar as caras novamente. — Bom dia, meu filho. Onde você se enfiou ontem, que nem café da manhã tomou? — Minha mãe perguntou assim que me viu passar pela porta da sala de jantar. A Marina, que está sentada lá ao lado dela, me encara, parece ansiosa e apreensiva com a resposta. E ela também não parece que dormiu bem, sua cara está péssima.
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