Acalmando o belo

1058 Words
– Não! Recuso-me a casar. – Kanji, reconsidere. É pelo bem do nosso clã. – Não vou me casar com uma humana imunda. – Nem mesmo que esse casamento lhe renda o trono de um rico reino no ocidente? Ele fez silêncio. Por um segundo pensou um pouco nas palavras de seu pai, tentadoras palavras. Era o mais jovem de dois irmãos, não herdaria o reino de seu pai e, por se tratar de um mestiço, dificilmente, algum Clã Youkai oferecer-lhe-ia uma princesa. Não havia muitas escolhas para Kanji, mas seu orgulho o impedia de admitir isso. Takeo, com sua habitual firmeza, perguntou: – O que me diz? Kanji responde emburrado olhando para Takara, que observava a conversa sem maiores intromissões. A mulher apenas lhe lançou um olhar cúmplice, que apenas o filho perceberia: – Não sei... Takara, mãe de Kanji e segunda esposa de Takeo, assistia a conversa em silêncio com seu rosto impassível. Quase sempre, a rainha preferia não tomar parte nas discussões do pai com os filhos e, raramente, emitia opinião. A não ser quando o marido, já impaciente com a teimosia de sua prole, exigia a opinião dela. Shuji, o irmão mais velho de Kanji, filho do primeiro casamento do rei, um Inu youkai completo e poderoso, ouvia a conversa atentamente, mesmo parecendo um tanto alheio à discussão, como se isso fosse possível a qualquer ser naquele castelo. Permanecia apenas sentado com seus olhos fechados e o rosto baixo, quando sentenciou para a surpresa de todos: – Eu me caso com a princesa humana. Todos o olharam, estavam surpresos, sem entender a reação do príncipe herdeiro do reino do Oeste. A verdade era que o ambicioso príncipe via um futuro muito mais promissor para si nas terras ocidentais do que no reino que herdaria naturalmente. O reino, o qual falavam no oriente, era muito maior que o do Clã Inu Youkai, famoso pelos produtos que exportava e temido por seu poderio militar. Como no ocidente não havia youkai, apenas humanos, o príncipe observou uma ótima oportunidade de conquistar grande poder e domínio com tal casamento arranjado, assim deixaria o reino do Oeste para seu irmão caçula, que poderia fazer o que desejasse.  Ao ouvir aquela frase do enteado, o qual sempre tratou com o mesmo carinho que seu próprio filho, a rainha questionou, incrédula: – Você tem certeza, meu querido? Você é o herdeiro de seu pai, não necessita dessa atitude. – Eu sei. – Então, Shuji? O que pretende? Perguntou Takeo, começando a se impacientar com a atitude de ambos os filhos, o príncipe falou com sua habitual frieza: – Apenas será melhor se eu assumir o trono do reino do ocidente. – Por que você, e não eu? Pergunta Kanji, aos gritos, já imaginando a lógica do irmão, que se achava superior por ser um youkai de sangue puro: – Kanji, você acabou de dizer que não se casaria com uma humana imunda. – Ele detesta os humanos mais do que eu. Retruca o garoto ao ouvir a afirmação do pai, que se intromete no assunto. O mais velho apenas observa a reação do irmão sem dizer uma palavra, levantando-se da poltrona onde estava sentado próximo à madrasta e reafirma antes de sair da sala: – Estou disposto a aceitar o casamento com a humana. – Volte aqui, maldito... Grita Kanji, enquanto o irmão desaparecia da sala de reunião. Takeo ficou surpreso com a atitude do filho mais velho, enquanto observava Kanji esbravejando em direção à porta. Entendeu perfeitamente a decisão de Shuji, realmente ele era o mais indicado para assumir o trono daquele reino longínquo, e se ele desposasse a princesa humana, acabaria por fim os problemas do Clã Inu e, no futuro, seriam o maior e mais poderoso Clã Youkai que existiria. Takara aproximou-se de Kanji, tentando acalmá-lo com sua habitual docilidade: – Filho, acalme se. Você não desejava se casar com a princesa. – Mas, mãe... – Mudou de ideia? – Não! Não sei... – Então deixemos que seu pai decida. Disse ela, olhando para o marido que estava de pé parado, no meio da sala, com o olhar pensativo. A verdade é que ele concordava com seu primogênito e ainda achava Kanji muito imaturo para assumir tamanha responsabilidade, ele sempre preferiu que o mais jovem de seus filhos reinasse sobre o Oeste, apenas não podia fazer isso por respeito a seu primogênito. Vendo a atual situação, disse: – Muito bem, se essa é a vontade de Shuji, não me oponho. Nem você, Kanji, se oporás. Não queria se casar e não vai. Vamos, minha rainha. – Pai??? – Já decidi. Disse Takeo enquanto saia, conduzindo sua esposa pelo braço, com um sorriso que apenas ela percebeu. Iria com certeza contar o que estava planejando para o futuro dos filhos e essa o apoiaria como sempre fizera. Não andaram muito pelo castelo até chegar a suntuosa varanda principal, com sua vista do jardim. Vendo-se sozinha com o marido, Takara questiona: – Quando a comitiva real chega? – Em dois dias, meu velho amigo deve vir trazendo as princesas. – São duas? – Sim, mas ele só pretende casar a mais nova, pelo que me disse. Porém, eu tenho algo em mente. – Esse Clã, por acaso, seria o dos dragões? – Exatamente, minha rainha. – Já posso até imaginar o que me dirá. Takeo riu com a expressão da mulher, que já sabia que as princesas não eram simples humanas como haviam dito. Ele falava com toda a certeza das filhas do Lorde Hideki Higurashi, seu antigo companheiro de batalhas. Certa vez, o marido havia contado sobre a estranha origem daquele guerreiro impiedoso de olhos azuis. Dizia a lenda que o guerreiro invencível era descente de um temível Dragão, chamado de Shooting Star, o qual lhe rendera poderes comparáveis apenas aos grandes Dai-youkai, mesmo esse sendo um humano. Depois de passar muitos anos no Japão, lutando ao lado de Takeo e dos Inu Youkai, voltou para o reino de sua família, onde assumiu o trono e suas responsabilidades. Takara podia prever que seu marido não desejava apenas as terras daquele próspero reino, mas também desejava ter em sua linhagem, o lendário poder dos descentes de tão famoso ser. Claro que nada garantiria que a princesa tivesse os poderes de seu pai, mas o rei Inu youkai queria ver pessoalmente.
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