📓 NARRADO POR SIMONE O pano já tava encharcado de sangue quando eu respirei fundo e perguntei, a voz meio trêmula mas firme: — “Como foi que isso aconteceu?” Ele abriu um sorriso de canto, debochado até na dor, e respondeu sem rodeio: — “Entrei na frente da bala que era pro chefe.” Arregalei os olhos, choque e incredulidade na mesma medida. — “E tu é burro mesmo, né?” Por um segundo, achei que ele ia rebater sério. Mas a risada dele veio rouca, dolorida, e eu acabei rindo junto, nervosa, como se a tensão tivesse rompido uma represa dentro de mim. O silêncio que ficou depois foi diferente. Mais pesado, mais íntimo. Eu encarei ele por alguns segundos, e vi ali um brilho que não era só deboche. Alguma coisa estranha mexeu dentro de mim. Algo nascendo devagar, perigoso, e eu desviei o

