✍️ Narrado por Rey Dona Inês largou a colher na pia, enxugou as mãos no avental e fez aquele gesto que eu conhecia desde moleque: puxou meu braço, como quem não aceita discussão. — “Vem cá, menino.” Me levou até o sofá da sala. O pano tava meio gasto, mas o cheiro era o mesmo de sempre, misto de sabão em pó barato e casa limpa. Eu sentei primeiro, mas ela empurrou meu ombro de leve até minha cabeça encostar no colo dela. — “Deita. Até patrão de morro precisa descansar, sabia? Nem ferro aguenta tanto peso sem rachar.” Fechei os olhos, respirando o cheiro de sabão do avental de dona Inês. Minha cabeça no colo dela era um lugar que eu não admitia pra ninguém, mas que me lembrava que, no fundo, ainda tinha uma parte de mim que era só aquele moleque de 12 anos largado na calçada depois do

