Japona Narrando O problema de ser frente de morro… É que tua cabeça nunca tá cem por cento ali no que tu tá fazendo. Tava eu ali, sentado na sala da boca com o Coroa. A gente fazia a contagem da semana. Pilha de dinheiro na mesa, rádio estourando no canto, caderno aberto com anotação de tudo. O Coroa puxava o dinheiro devagar, conferindo um por um, olho sempre atento. Eu puxava outro maço e ia botando no canto. Era grana que não acabava mais. Mas naquele dia… minha cabeça tava em outro canto. Tava na minha filha. Tava na Manu. O Coroa percebeu. Me olhou de lado, riu. — Tá voado hoje, hein, Japona… que que foi? — ele soltou, acendendo um cigarro. Respirei fundo, passei a mão no rosto. — É a Manu, p***a… tá indo pra São Paulo. Ele assentiu. — Fiquei sabendo. Primeira da turma, né?

