2- Ana Clara

3185 Words
— Está tudo bem filha? Aconteceu alguma coisa...? Você nem me ouviu quando eu te chamei, parecia tão aérea, eu diria até mesmo triste. — Pergunta me estendendo a mão para eu me sentar ao seu lado, e assim eu faço. — Eu não aguento mais ter que ficar escondendo Joshua do papai, mamãe, todo santo dia é a mesma coisa, eu preciso ficar mentindo, inventando situações para conseguir ver o meu namorado fora da sala de aula... Joshua já está impaciente com isso e está ameaça enfrentar o papai por mim outra vez, eu não sei mais o que fazer, não sei até quando ele vai aguentar ficar nessa situação. — Me deito no seu colo e ela acaricia os meus cabelos com aquele seu jeitinho amoroso. — Eu sei filha, eu entendo vocês, mas infelizmente o seu pai não entende que você precisa viver a sua vida, ele não entende que você já cresceu e virou essa mulher linda e inteligente... O seu pai é muito ciumento com as mulheres dessa família e você sabe disso, mas depois que ele descobriu que mentimos para ele esse homem ficou ainda mais desconfiado... Não vamos mais conseguir esconder o seu namorado por muito mais tempo filha, eu não sei mais o que fazer para te ajudar meu amor. — Diz pensativa então me sento a encarando apreensiva com essa situação. — Mamãe...? Você sabe que eu e Joshua já estamos juntos há um tempo, você acha que eu já deveria ter me entregado a ele? Acha que estou adiando muito esse passo no nosso relacionamento? — Pergunto meio sem graça e ela me encara preocupada. — Não filha! Eu não acho que você está adiando esse passo no relacionamento de vocês, você precisa se sentir pronta para fazer isso, e se você não estiver então não faça! Se Joshua te ama de verdade ele vai entender e saber esperar, não se entregue a ele apenas para agradá-lo ou porque as suas amigas já não são mais virgens, faça isso apenas se você se sentir segura para fazer, apenas se você se sentir pronta está me ouvindo? — Rebate me encarando atenta e eu respiro fundo. — Eu já tive muitas oportunidades de me entregar a ele mas não o fiz, eu ainda não me sinto pronta mas ele já está impaciente com isso... Hoje ele fez algo que me assustou mas ele pediu desculpas, prometeu ser mais paciente comigo. — Conto pensativa e ela me encara ainda mais preocupada que antes. — Como assim filha? O que ele fez com você? Ele te desrespeitou, foi isso...? Ana Clara me diz o que houve? O que o Joshua fez filha? — Pergunta no seu tom sério me encarando aflita, e mesmo não querendo preocupá-la eu preciso contar o que houve, eu nunca escondi nada da minha mãe. — Ele tentou me agarrar no banheiro da faculdade... Ele queria t*****r comigo mesmo contra a minha vontade e a abordagem dele me assustou. — Conto envergonhada e ela se levanta me encarando com os olhos arregalados. — Como ele foi capaz de fazer isso Ana Clara? Esse garoto disse que te ama e te trata dessa maneira filha...? Eu sinto muito mas o seu pai tem razão, você não pode mais continuar vendo esse rapaz, ele fez com você a única coisa que eu não esperava dele, mas agora eu tenho as minhas dúvidas sobre esse namoro... Pode acontecer uma tragédia se o seu pai ficar sabendo disso, você tem noção filha? — Diz angustiada andando de um lado para o outro e pela primeira vez eu não me exalto com a ideia de me afastar do Joshua. — Eu não quero nem pensar numa coisa dessas, mamãe, o papai pode matá-lo se desconfiar que estamos juntos, imagina se souber do que ele fez...? Mas eu gosto dele, gosto de ficar com ele e gosto de tê-lo me agradando a todo momento, mas... Como eu sei se o amo de verdade? Quando eu vou saber se estou pronta para me entregar a ele...? Eu o amo mas, as atitudes dele tem me assustado. — Também me levanto indo para o meu closet e ela vem atrás. — Me desculpe pela sinceridade filha, mas você não o ama... Você gosta dele sim mas não é amor! — Diz entrando no closet atrás de mim e eu a encaro surpresa. — Quando você me contou que estavam se envolvendo, e que você estava apaixonada por esse rapaz, eu vi a paixão nos seus olhos, mas hoje eu não vejo nos seus olhos esse amor que você diz sentir por ele, você pode estar apaixonada por ele mas não o ama, por isso você ainda não se entregou a ele... Você não o ama o suficiente para dar esse passo no seu relacionamento e depois do que ele fez hoje... — Ela tenta parecer tranquila mas sei que não está, ela tenta explicar mas meu pai aparece na porta do closet a interrompendo. — Quem fez o quê? De que relacionamento vocês estão falando...? Você não voltou a ver aquele garoto, não é Ana Clara? — Pergunta me encarando sério, me fazendo engolir a seco e minha mãe tenta disfarçar um sorriso. Eu estou ferrada, se o meu pai souber o que houve ele me mata depois de matar o Joshua, e com certeza minha mãe também vai se dar m*l por minha culpa. — Não estou mais me encontrando com Joshua papai, e era sobre isso que a mamãe estava conversando comigo, sobre o relacionamento que eu tive com ele mas vocês têm razão... Joshua não é o homem certo para mim e eu vou saber esperar... Vou esperar o homem perfeito aparecer não se preocupe. — Evito encará-lo pois ele sabe quando estou mentindo, papai parece o polígrafo do FBI e não conseguimos mentir se olharmos nos olhos dele. — Finalmente ela entendeu meu Deus! Eu pensei que você iria esperar acontecer algo de errado com esse garoto para perceber que eu só quero o seu bem, filha... Eu te amo Ana Clara, mesmo que você não aceite e não entenda o meu excesso de proteção, eu só faço isso porque eu te amo e quero te ver segura filha. — Ele se aproxima me abraçando com carinho, me dá um beijo no alto da cabeça e ergue o meu queixo me fazendo encará-lo. — Eu já te decepcionei muito papai, me desculpa...? Eu também te amo e não quero que se magoe comigo, mas você também precisa enxergar que eu não sou mais uma criança, já tenho 21 anos e você me envergonha colocando seguranças atrás de mim como se eu fosse uma criminosa, você não confia em mim, não me deixar tomar as minhas próprias decisões e não me deixa viver a minha vida como eu quero... O que o senhor quer que eu seja papai? Quer que eu seja como você? Mas eu não quero ser como você ou como a mamãe, eu quero ter a chance de ser eu mesma mas você não deixa! — Digo ainda abraçada a ele mas me solto o encarando decepcionada. — Você me colocou de castigo como se eu fosse uma criança, as suas atitudes comigo me fizeram mentir pra você e eu não queria isso... Eu queria poder confiar em te contar o que acontece comigo, assim como eu conto pra mamãe, mas eu tenho medo de fazer isso porque sei que você não vai reagir bem, você tem ciúmes até a minha própria sombra papai... Isso não é justo, você devia ser mais compreensivo e me aconselhar como a mamãe faz, mas ao invés disso me dá bronca e me coloca de castigo como se eu ainda fosse uma criança de sete anos... Eu já sou uma mulher papai! E preciso que você me enxergue como tal! — Digo em um tom firme deixando algumas lágrimas caírem, me sentindo sufocada com tudo que vem acontecendo comigo. Saio do closet correndo e me tranco no banheiro querendo ficar sozinha. — Filha espera...! Ana Clara! Meu amor não faz isso? Fala comigo querida...? Mas que droga Christian! Eu te avisei que isso iria acontecer mas você não quis me ouvir! Você vai acabar perdendo o carinho da nossa filha e eu estou tentando evitar isso, mas você só complica...! Não quero ver pai e filha magoados um com o outro isso não é certo, acho bom você consertar essa situação porque eu não quero ver a minha filha chorando pelos cantos, porque você não controla os seus ciúmes! Está fazendo da nossa filha uma prisioneira. — Ouço a voz alterada da minha mãe mas não ouço o meu pai até a porta do quarto bater. — Espera Carolina! Amor volta aqui...? Mas que merda! Era só o que me faltava! — Ouço sua voz rouca também alterada mas logo ele se cala. Me sento ali no tapete do banheiro abraçada ao meu corpo chorando, angustiada por essa situação pois não queria mentir para o meu pai, mas ele não está me dando escolha, eu quero viver a minha vida e tomar as minhas decisões por mim mesma, quero aprender com os meus erros e não errar com as ideias que o meu pai acha que é o certo para mim, não quero perder a confiança dele e não quero ele magoado comigo ao descobrir que ainda estou mentindo para ele, mas eu não sei mais o que fazer quanto isso, não sei o que vai ser de mim quando ele descobrir que ainda estou namorando passando por cima das suas decisões. — Filha...? Querida por favor vamos conversar...? Eu não quero ver você triste chorando por minha culpa, eu sei que não sou o pai que você gostaria de ter mas... Eu sou assim porque amo você... Me perdoa filha mas eu não consigo mudar, é difícil pra mim deixar você desprotegida, eu tenho medo de te perder Ana Clara... A minha família é a minha vida e tudo que eu faço é por amar demais cada um de vocês. — Ouço sua voz embargada pela emoção e isso me corta o coração. Fico de joelhos no chão e abro a porta me deparando com meu pai também sentado no chão, de cabeça baixa e chorando assim como eu. Sinto o meu peito mais uma vez se apertar e uma dor terrível martelar dentro de mim por vê-lo assim. — Tirando esse seu ciúmes exagerado, você é o melhor pai do mundo... Eu te amo tanto papai... Te amo demais mesmo a gente discordando de tantas coisas... Eu sinto o seu amor, sei o quanto me ama mesmo a gente brigando por motivos bobos, e você nunca vai me perder Sr. Christian... Pra você eu sempre serei a sua garotinha, mas para o mundo lá fora eu já sou uma mulher adulta e preciso do seu apoio... Eu quero contar com você para o que eu precisar, não quero ter que me esconder ou mentir para você, então tentar me entender papai...? Por favor? — Me sento ao seu lado acariciando o seu rosto e ele me encara aflito, ele me puxa para os seus braços me apertando forte. — Não quero que deixe de confiar em mim, não quero que minta ou me esconda o que acontece com você, se abra comigo como você faz com a sua mãe...? Filha, nós sempre fomos amigos e sempre conversamos, mas depois que você entrou na faculdade você mudou e eu sei o porquê... Você estava namorando escondido contra a minha vontade e isso me preocupou... Eu não quero que se machuque querida, não quero que machuquem você porque isso acabaria comigo... Eu prometo tentar ser mais liberal com você, mas eu preciso que me prometa uma coisa Ana Clara... Promete não mentir mais pra mim? Promete não me esconder mais as coisas como você fez? Por favor não vamos quebrar a confiança que temos um no outro? Eu sou o seu pai e conheço a vida, conheço as maldades do mundo e só quero te proteger, eu quero o melhor para você porque você merece o melhor, querida... Precisamos ter paciência um com o outro. — Ele ainda me aperta em seus braços mas logo me solta encarando fixamente os meus olhos, me desarmando completamente. Abaixo a cabeça envergonhada por ainda mentir pra ele, mas eu não posso contar que ainda estou com Joshua, ele não vai me perdoar por isso e com certeza vai atrás do meu namorado, e isso não vai acabar bem. Ele ergue o meu queixo e passa o polegar pelo meu rosto secando as minhas lágrimas, o encaro com o coração na boca e o abraço novamente. — Me perdoa papai...? Eu odeio menti para você... Eu não gosto disso me perdoa...? Eu prometo não esconder mais nada de você, prometo não mentir mais se você prometer conversar numa boa com Joshua... A gente se gosta papai e eu queria muito poder ficar com ele sem ter que mentir para você, eu prometo só me encontrar com ele aqui em casa na sua presença e assim você vai poder conhecê-lo melhor. — O encaro apreensiva e ele respira fundo me encarando sério, meu pai se levanta do chão esfregando as mãos no rosto e eu me levanto junto. — Por favor papai? Eu só quero fazer as coisas direito como você quer, não quero mais mentir pra você e não quero ter que me encontrar as escondidas com ele por medo da sua reação... Só estou te pedindo para anos dar uma chance? — Me altero um pouco enquanto ele anda de um lado para o outro e sua expressão não me agrada. — Você anda se encontrando com aquele garoto Ana Clara...? Você ainda está namorando as escondidas com aquele delinquente? — Pergunta alterado me encarando furioso mas logo se acalma, ele se aproxima me olhando nos olhos, tento me esquivar dele mas ele me segura pelo braço. — Responde a minha pergunta Ana Clara! Você ainda está se encontrando com aquele moleque quando eu pedi para você se afastar dele...? Me responde Ana Clara? — Questiona ainda alterado e eu levanto a cabeça para confrontá-lo. — Você me pediu para ser sincera e eu estou sendo, você me pediu para não mentir e eu não vou mais fazer isso porque não sou mais uma criança! Eu estou cansada de ter medo das suas reações papai, eu não quero viver assim eu já sou de maior e não é injusto o que você faz comigo...! Nem morar sozinha você não deixa, quer me manter grudada em você para me controlar... Meu Deus a gente já está brigando de novo! Isso não vai acabar nunca papai? — Também me irrito deixando as minhas lágrimas caírem e ele ameaça socar o abajur ao lado da cama, mas se controla. Ele respira fundo de olhos fechados ainda andando de um lado para o outro e para na minha frente, ele me encara sério e respira fundo mais uma vez antes de decidir falar. — Ok...! Meu Deus eu não acredito que vou fazer isso mas eu prometi tentar... Amanhã...! Amanhã sem falta eu quero conversar com esse garoto, mas se ele me desrespeitar como ele fez da última vez, eu juro por Deus Ana Clara! Eu quebro as pernas desse moleque você me ouviu...? Se eu não gostar do rumo da conversa você vai ter que esquecê-lo, e se você mentir pra mim mais uma vez, eu juro por Deus que tiro você dessa faculdade, estamos entendidos? — Diz naquele seu tom zangado mas ao invés de chorar mais eu abro o meu melhor sorriso me jogando em seus braços. — Obrigada papai... Obrigada eu prometi e vou cumprir, eu não vou mais mentir pra você eu prometo... Eu te amo! Eu te amo papai. — O abraço apertado e ele retribui mesmo ainda zangado com a situação. — Eu também te amo filha... Meu Deus porque você e sua mãe sempre fazem isso comigo? Vocês duas tem o dom de me fazer perder a cabeça sabia? — Ele me aperta em seus braços e deixa um beijo demorado no alto da minha cabeça. — A mamãe te ama demais papai, mas ela prometeu amar a mim e aos meus irmãos acima de tudo... Não fica bravo com ela por minha culpa? Vai lá conversar com ela por favor...? Me perdoe por tudo isso? Eu amo vocês e não quero vê-los brigando por minha causa. — Me solto dele e o mesmo acaricia o meu rosto respirando fundo. — Eu não sei com qual das duas é mais difícil conversar, se é com você ou com a sua mãe. — Diz ele se afastando já indo em direção a porta mas eu chamo por ele. — Papai...! Eu prometi não mentir mais para você, então será que eu posso ir na casa da Amber hoje? É aniversário do Adam o irmão dela e vai ter uma festa, eu quero muito ir e prometo não questionar a presença do segurança... Eu posso ir? Por favor? — Peço sentindo o meu coração acelerar pois sei que ele vai me negar como sempre. — Não abusa Ana Clara! Eu já estou me esforçando ao extremo para aceitar uma conversa com aquele garoto. — Diz ele parando na porta para me encarar e eu abaixo a cabeça. — Tudo bem, eu já sabia a sua resposta, mas não me custou nada tentar. — Me viro para ir até o meu closet mas paro ao ouvir novamente a sua voz. — Ok! Você pode ir, mas antes das onze eu quero você em casa, estamos entendidos mocinha...? E ao invés de um, irão dois seguranças com você, você prometeu não me questionar. — Dispara erguendo uma sobrancelha me surpreendendo ao me deixar sair. Corro mais uma vez para os seus braços. — Ahhh eu te amo papai... Obrigada eu te amo. — Grito pulando em seus braços e ele finalmente sorrir me dando um beijo demorado na testa. — Se cuida ouviu? E não me decepcione. — Ele me lança um olhar de quem diz, eu vou saber se mentir, então ele sai dando de cara com a minha mãe. — O que está acontecendo aqui? Porque esses gritos? Vocês não estão brigando não é? — Pergunta com um olhar de desconfiança e eu me apresso para abraçá-la. — O papai vai te contar o que houve mamãe, agora eu preciso me arrumar porque eu tenho uma festa para ir... Eu amo vocês. — Dou um beijo em cada um deles e corro para dentro do meu quarto novamente. — Amor, você deixou mesmo ela sair? Isso é sério? — Ouço o tom empolgado da minha mãe. — Precisamos conversar meu amor, eu não quero mais esse clima chato entre nós... Podemos falar da nossa filha depois? — Ouço a voz mansa do meu pai e quanto me viro ele está com a minha mãe no colo. Esses dois não tem jeito!
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