Início de tudo: Sol e Lua I

2961 Words
Já havia se passado uma semana desde a última vez que eu e meu irmão conseguimos alimento. Depois disso não conseguimos mais nada, pois Chris acabou adoecendo. Uma gripe forte o atingiu. Há dois dias não comíamos. Tentei procurar algo na floresta ou no rio, mas nada encontrei e não podia ficar muito tempo fora. O desespero tomava conta de mim. Eu tinha que cuidar dele que estava ficando cada vez pior. Estava entrando em casa depois de uma caçada com as mãos vazias, novamente. Foi quando vi horrorizada meu irmão caído no chão suando e tremendo. Na mesma hora corri até ele desesperada agachando-me ao lado de seu corpo. - Chris... Por Deus como estás? O que acontecestes? - Toquei sua testa encharcada e me desesperei com a temperatura alta do seu corpo. -Mila, irmã não te preocupes – Tossiu umas vezes antes e deu um sorrisinho fraco. - És só mais um resfriado. Olhei perplexa para ele. - Só um resfriado? Tu nem te aguentastes em pé. Não é hora para brincadeiras. – Falei brava enquanto pegava em seus braços. – Venha vamos para o quarto e te ajudarei a colocar-lhe em tua cama. Após deitá-lo e cobrir com um lençol fui até a cozinha molhar um pano para colocar em sua testa. O dia se passou e nada dele melhorar não tinha nenhuma erva para fazer chá. Ao entardecer decidi que iria pedir ao meu tio pelo menos isso, obviamente não contaria nada a Christopher. Fui para meu quarto trocar meu vestido sujo de terra por um mais limpo. Mais algumas horas e anoiteceria então teria que ser rápida. Saí de casa e caminhei até o outro lado do vilarejo cumprimentando a todos que vi, algumas mulheres, minhas amigas, me mandavam sorrisos e acenavam quando passava, enquanto alguns homens insistiam em vir falar comigo. Não dei atenção para eles se meu irmão soubesse que eles conversaram comigo ficaria enfurecido e todos sabiam como meu irmão era ciumento. Despedi-me tentando ser simpática e continuei meu trajeto. Em apenas alguns minutos de caminhada estava em frente a uma casa tão simples quanto a minha. As casas de quatro dos meus seis tios também resistiram. Um deles morreu junto com família quando a casa desabou em cima de suas cabeças. Foi muito triste a notícia chorei pela perda deles, todos foram importantes para mim, restando apenas dois tios e uma tia irmã do meu pai e dois irmãos de minha mãe. Bati na porta esperando alguém aparecer. Assim que a porta é aberta vejo duas criaturinhas sorridentes na minha frente. Uma menininha de cabelos castanho-escuros compridos e olhos azuis tão intensos quanto o céu. O garotinho tinha a mesma cor dos cabelos só que curtos e a mesma cor dos olhos eram bem parecidos. Claro, se eram gêmeos tem que ser parecidos, não? Seus rostos são delicados e iguais a dois anjinhos uma beleza extremamente invejada por muitos do vilarejo. Tinham apenas 5 anos, mesmo a diferença de idade eu amava brincar muito com eles. - prima Mila. – Os dois gritaram correndo em minha direção. Eu me agachei para dar um abraço apertado neles, distribuindo beijos por seus rostinhos. - Que saudadi de ti, prima. Fazia um tempão que não aparecia por aqui. – Falou a garotinha sorrindo toda feliz. - Desculpe querida, estava ocupada nesses últimos dias, mas prometo vir mais vezes para vê-los. - E tu brinca com nós prima? – Os olhos do menininho brilharam ansiosos. - Mais é claro. Brincaremos até cansarmos. Eles pularam em cima de mim e começaram a discutir quem iria brincar primeiro eu só ria daqueles dois. - Naia, Noah! Deixem sua prima respirar. – Ouvi a voz de meu tio logo mais a frente. - Tudo bem tio Simon, estava com saudades desses dois encrenqueiros. Ele apenas se aproximou de mim e me ajudou a levantar. - Mila há quanto tempo! Andas sumida. Teu irmão ainda proíbe-lhe de sair de casa sozinha? – Fiz careta quando disse isso e ele apenas sorriu – Nunca vi alguém ser tão ciumento quanto ele! - As coisas andam mudando em casa. – Suspirei e abaixei a cabeça. - São tempos difíceis, querida. – Disse solidário. – O que acontecestes querida? – Perguntou preocupado. – Tu estás mais magra. Anda se alimentando? Olhei para ele com um semblante preocupa antes de pedir qualquer coisa. As palavras de meu irmão ecoaram na minha cabeça “Tios, deixem de alimentar teus filhos para nos alimentarem” , realmente não poderia pedir nada mais além do necessário. Pensei em falar rapidamente sobre o estado meu irmão para desviar desse assunto. - Bem... – Respirei fundo meus olhos enchendo de água. – Chris estás doente tio e eu... eu não consegui encontrar nenhuma erva para medicá-lo. – Solucei alto, as lágrimas aparecendo nos meus olhos. Eu não sabia mais o que fazer, muito menos como cuidar do meu irmão. Tio Simon angustiado me puxou para um abraço forte. - E por que não viestes antes? Tu sabes que sempre precisar de algo podes pedir. Eu o abracei mais forte e lágrimas desciam pelo meu rosto. Meu tio era um homem bom, sempre se preocupando conosco. - Obrigada tio. Não sei como lhe agradecer. – Me afastei dele e fiz mais uma careta antes de continuar. – Será que tens como não comentar isso com Chris? Ele ficaria muito bravo e não aceitaria. - Claro meu anjo será um segredo nosso. Já sei o que posso pegar para melhorar a febre dele. – Por sorte ele não voltou ao assunto de como estava as coisas. Enquanto ele não voltava fiquei brincando com os meus priminhos. Brincar com aqueles dois bateu uma saudade enorme das pessoas extremamente importante na minha vida as únicas que eu faria de tudo para seus bens-estar. Senti um aperto enorme no meu peito tão profunda que poderia jurar ser até mesmo física. Suspirei cansada, logo quando tiver condições irei atrás delas. Olhei para mim mesma, eu estava mais magra de costume, mas tentei não passar abatido diante da minha família. Minha tia Laura não estava em casa provavelmente estava no vilarejo. Além dela ser esposa de Simon, também era irmã mais nova de minha mãe. Os cabelos castanhos caramelados eram parecidos a diferença se encontrava nos olhos enquanto mamãe tinha os olhos castanhos profundos Laura tinha os olhos azuis cor do céu. Assim que tio Simon voltou. Trouxe algumas ervas para que eu pudesse fazer um chá para meu irmão e garanti a ele que devolveria o favor. - Não precisa Mila. Tu és minha sobrinha que amo muito. Meu irmão sempre cuidou de mim quando éramos jovens. Aprendi com ele que família vem em primeiro lugar. Farei tudo ao meu alcance por ti e teu irmão. Tio Simon era um homem maravilhoso tinha cabelos pretos e curtos. Os cabelos de Laura eram os cabelos mais lisos do vilarejo. Seus olhos também eram preto, diferente das crianças que puxaram a cor dos olhos da mãe e os cabelos de nossa família. Seu corpo era magro, mas com músculos definidos. Ele era bem mais jovem que meu pai sua idade era apenas alguns anos de diferença do meu irmão. Despedi-me de todos e voltei para casa contente com a ajuda de meu tio. Feliz, assim que cheguei em casa pus a água para esquentar e fui ver meu irmão dormindo. Passei o pano em sua testa limpando o suor que se encontrava ali. -Mila, és tu minha irmã? – Perguntou com os olhos ainda fechados. - Claro, irmão. Eu tenho ótima notícia consegui umas ervas para tu melhorares. Logo estarás todo bobo se vangloriando por aí. – Disse sorrindo. - Irmã, ainda sou invencível! Não é um resfriado de nada que acabará comigo. A única que tem potencial para isso és tu se deixastes aqueles porcos dos garotos chegarem perto de você enquanto estou de cama. - Não tens jeito mesmo Chris. – Revirei os olhos. - Tu sabes que és a mulher mais bela que já vi ou que qualquer um daqueles brutamontes também já viu. Não os deixe chegar perto de ti. - Tudo bem irmão. Não sei de onde tirastes essas ideias absurdas. Mas ficarei ao seu lado até melhorar. – Levantei e fui para cozinha. Terminei de preparar o chá e levei para Chris tomar. Não sei se era porque estava cansado, mas ele nem ao menos perguntou como consegui o medicamento. O que foi um alívio, pois não gostaria de mentir para ele. - Obrigado por cuidar de mim irmã. - De nada. Agora descanse bem para melhorar rápido. Depois que tomou o chá. Apoiei as costas na parede e me perdi nos pensamentos. Nós não comíamos há dias até meu irmão se recuperar duvido que teremos forças para sobreviveremos. Olhei mais uma vez para ele e decidi. Faria o que fosse preciso para salvar sua vida. Com esse pensamento peguei no sono decidida a falar com meu irmão amanhã. [...] -Mila, Mila... Acorde irmã. – Escutei uma voz bem longe. -humm. – Senti minha costa dolorida. - Vamos levante-te estas dormindo sentada. Senti me balançarem pelos ombros. Levantei a cabeça encostando-a em algo duro atrás de mim. Assim que abri os olhos vi meu irmão ajoelhado na minha frente com um semblante sério. - Tu passaste a noite assim? – Ele estava com o rosto nada agradável. - Talvez. – Respondi dando de ombros. Ele bufou e me ajudou a levantar. Gemi de dor ao levantar. - Nunca mais faça isso. - Não preocupe-te comigo irmão. – Olhei melhor para ele e vi que não estava mais suando, mas ainda estava abatido com a pele pálida e olheiras profundas. Coloquei minhas mãos em sua testa e vi que sua temperatura havia abaixado. Suspirei aliviada e sorri para ele. - Que ótimo! Estas melhor... O que sente? – Perguntei para confirmar minhas suspeitas. - Sim graças a ti. Estou um pouco cansado e com muita fome. – Ele fez uma careta quando sua barriga roncou. Eu nada consegui para comermos me senti uma inútil. Como ele iria melhorar sem se alimentar. Senti meus olhos arderem e abaixei a cabeça. - Desculpa. – Foi tudo o que consegui dizer. - Por que, Mila? – Vendo que eu não ia responder colocou suas mãos em meu queixo e levantou meu rosto para que eu o encarasse. – O que aconteceu? – Perguntou sério. - Eu... eu não consegui nada para comermos... eu tentei encontrar algo mais nada achei. – Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. – Sinto muito irmão eu tentei juro que tentei, mas não podia deixar-lhe aqui sozinho o tempo todo. Perdoa-me irmão? Meu irmão sorriu e me abraçou. - Tu não sabes o susto que me deu. Achei que tu tivesses aprontado algo. Absurda isso é o que tu és. – Escutei um suspiro em meu ouvido. Depois ele se afastou voltando a olhar em meus olhos. Ele passou seu dedo no meu rosto retirando a lágrima que havia escapado. – Tu não tens o porquê se culpar cuidou de mim este tempo todo. Agradeço-te por ficar ao meu lado. Tu és a pessoa mais maravilhosa que já conheci, graças a ti estou aqui forte igual a um touro. Não poderia ter feito melhor e outra não suportaria te ver no meio daquela floresta sabe-se lá o que poderias te acontecer! Não acredito que ainda saiu para tentar encontrar alguma coisa. Não se preocupa irmã daremos um jeito. O abracei mais uma vez e apoiei minha cabeça em seu ombro. Fiquei imensamente feliz com todas as suas palavras. Bem, quase todas. Que história é essa de absurda ou me proibir novamente de ir à floresta? Ele sim é um absurdo, mas deixei isso de lado, pois sua última palavra me fez lembrar algo importante para dizer a ele. - Irmão, precisamos conversar. – Peguei suas mãos e o levei até a mesinha da cozinha para se sentar. Peguei um pouco de água e estendi em sua direção. Sentei em sua frente olhando meus dedos tocando uns no outros esperando ele terminar de beber. - Então? – Ele perguntou. Suspirei decidida no que falar e encarei intensamente aqueles olhos castanhos para mostrar firmeza em minhas palavras. - Christopher, nós estamos há dias sem comer. Duvido que conseguiremos encontrar alguma comida por hora. Eu estou fraca para caçar e tu ainda estas doente não permitirei deixar tu sozinho por aí. Não é hora para machismo. – Falei séria. – Não permitirei nada de r**m aconteça a ti, por isso estou disposta a fazer o que for necessário. - Tu queres dizer que... – Ele arregalou os olhos. O interrompi. - Sim... usarei o livro de magia da mamãe para nos manter vivos, mas preciso de sua opinião antes de qualquer coisa. - Bem... – Seu sorriso alargou. – Eu também estava pensando em falar contigo há uns dias. Pensei bastante e quando decidi expor meus pensamentos peguei aquela gripe maldita. Eu o olhei chocada. Não acreditei que ele decidiu isso. - Então tu já havias pensado nisso antes? - Claro, fiquei com medo de tu me achares maluco pela ideia, mas vejo que não precisarei te convencer a isso... Tu sabes és a única que poderá fazer um feitiço, como mamãe deixou o livro para ti. Ninguém poderá utilizá-lo além de ti. - Sim, pegarei o livro agora mesmo e tu me ajudas a encontrar algo relacionado para nos ajudar. Levantei-me e fui para meu quarto que antes era de nossos pais. Eu dormia com meu irmão, mas como papai e mamãe morreram comecei a dormir aqui. Sentia-me bem ainda dava para sentir o cheiro deles. Segui até a cama e a empurrei mais para o lado. Com as mãos procurei a tabua solta do assoalho. Assim que encontrei enfiei minhas mãos dentro do buraco e peguei o livro que havia ali. O livro era grosso com uma capa escura de couro as páginas nas laterais estavam um pouco amareladas e havia um fecho de metal na lateral do livro que o mantinha trancado. Apenas com uma chave enfeitiçada poderia abri-lo. Essa mesma chave estava presa em uma corrente em volta do meu pescoço. Mamãe me disse que tenho que carregá-la sempre comigo. Esse é um livro de bruxaria. Ele é passado de geração a geração não sei ao certo qual é a idade dele, mas pelo seu estado deve ser muito velho. A pessoa que o livro pertencer o entregará para um dos seus filhos desde que ela seja mulher, e como eu era a única filha o livro seria meu. Apenas mulheres é quem tem poder, isso ainda é um mistério, mas eu também nunca ouvi falar de um bruxo, na verdade não conhecia nenhuma bruxa, só ouvi relatos, mas voltando... Enquanto a pessoa viver o livro só pertencerá a ela, assim que partisse desse mundo o livro seguiria para sua próxima geração e assim sucessivamente. Sinu Cabello ensinou a mim e meu irmão a ler e a escrever, quase ninguém do vilarejo sabia. Tinha orgulho enorme por ter aprendido com ela. Sendo assim, mamãe me ensinou alguns feitiços daquele livro que comecei a aprender com 15 anos, quando ela me mostrou pela primeira vez. Eu nunca fiz um feitiço sozinha essa seria a primeira vez, mas estava preparada sei que conseguiria por mim e pelo meu irmão. Voltei para a cozinha e sentei-me à cadeira da mesa, meu irmão arrastou sua cadeira para sentar ao meu lado. Tirei a chave de meu pescoço e abri o livro. E assim começamos... A caligrafia dele era perfeita e elegante. Estava folheando as páginas e meu irmão ia anotando o numero daquelas que poderia nos ajudar. Passamos a manhã e a tarde inteira lendo até que encontrei um que se encaixava perfeitamente com o que queríamos. - Irmão eu acho que encontrei! Veja. – Apontei para página e continuei a falar. – Suas palavras estão relacionadas com o que precisamos. Aqui diz sobre a fome que não teremos e a saúde que precisamos. - Sim, este é o feitiço mais próximo para solucionar nosso problema. – Ele continuou. – E como todos os outros dizem ele também fala sobre o sangue que deve ser derramado, porem há algo diferente nele. - Eu percebi. Ele diz “Através dos teus sacrifícios o sangue do mais novo deve ser derramado perante a luz do sol e o sangue do mais velho deve ser derramado perante a luz do luar”. – Falei pensativa. – Esse requer dois sacrifícios. - Se ele diz que precisa de dois tu podes utilizar teu sangue como o mais novo e o meu como o mais velho. De acordo com o livro basta derramá-lo sobre a terra. - E de acordo com as informações terá que ser na lua cheia. Resumindo será amanhã. - Será que dará tempo de prepararmos tudo até lá? - Sim, só precisaremos de velas, sal e o nosso sacrifício e óbvio o livro. Ele será dividido em duas etapas. Primeiro durante o dia, melhor fazermos quando o sol alcançar o seu ponto máximo no céu e o segundo faremos o mesmo com a lua. Ficamos em silêncio por uns minutos até meu irmão quebrá-lo. -Camila. – Ele falou me encarando com intensidade e segurou firme minhas mãos. – Ninguém pode saber sobre o que faremos, se o povo do vilarejo descobrir irão nos acusar de bruxaria. Vão querer nos queimar na fogueira ou nos enforcar. Não sei se eles seriam capazes de entender o que faremos. Por mais que não faremos nada para atingi-los. – Suas palavras saíram tremidas pelo medo. Arrepiei-me com o que ele disse. - Terá que ser em segredo mesmo. Vamos para a campina aqui perto. É afastado o suficiente da vila. - Ótimo. Já estas resolvido. – Ele beijou meu rosto e se levantou. – Vou ver se consigo mais sal o que temos aqui talvez não seja o suficiente. Dito isso saiu pela porta. Voltei os olhos para o livro e uma sensação r**m passou por mim. Tentei esquecer isso, deveria ser coisa da minha cabeça e continuei a estudar para ter certeza se esse feitiço é realmente o que procuramos e não nos levará a outras implicações indesejadas. [...] ... Continua...
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