02 MEU PORTO SEGURO

1603 Words
ALICIA NARRANDO Com as mãos nos ouvidos eu penso como é difícil as vezes viver, sei que para muitos o que eu vou falar pode ser algo banal, que não é para tanto, mas não é, um simples barulho em um momento errado, ou sendo um pouco mais agudo, mais fino, ou seja como for me faz as vezes sair fora de mim e isso é um tormento. Me chamo alicia e tenho vinte e um anos, sou morena dos cabelos bem cacheados e volumosos, tenho os olhos cor de mel e meus cabelos é no mesmo tom, tenho um e setenta e cinco de altura e todos dizem que sou linda, que tenho o corpo lindo, escuto pessoas falando da minha aparecia e de como sou gostosa, mas isso é o que menos me importa, o meu exterior nem de longe fala tudo sobre mim. E moro em são Paulo na favela de Paraisópolis, sim eu moro no meio da favela no caroção aonde tudo acontece e eu amo esse lugar, exceto quando coisas que tiram a minha estabilidade acontece e nessa semana já aconteceu mais vezes do que de costume e mais vezes do que eu consigo suportar, mas para entender melhor deixa que falar um pouco da minha condição. Eu sou autista, hoje estou no nível de suporte um leve, mas quando fui diagnosticada aos dois anos o meu grau era o nível de suporte dois, o que é isso e porque eu não sou mais o mesmo grau? Vamos por partes. O Autismo é um problema no desenvolvimento neurológico que prejudica a organização de pensamentos, sentimentos e emoções. É algo que pode ser tratado e com o tempo nós portadores do TEA podemos evoluir e passar a ser graus mais leves. O TEA também tem como características a dificuldade de comunicação por falta de domínio da linguagem e do uso da imaginação, o que faz a gente precisar de muitas seções de terapias e de toda uma rede de apoio e isso graças a deus eu sempre tive, porque além de tudo que já viram aí, ainda tem a dificuldade de socialização e o comportamento limitado e repetitivo o que não é nada bom é o que mais me irrita hoje em dia. Quando eu fui diagnosticada meus pais logo iniciaram todos os tratamentos que eu precisava, meu pai e minha mãe tem um mercado grande aqui dentro da comunidade, na época o dono da favela era muito amigo deles e hoje eu sou amiga do dono da favela, mas vamos por partes porque a minha mente hoje em dia é bem controlada, mas sem foco eu me enrolo toda. Como meus pais tinha condições e o amigo deles também começaram o meu tratamento, a o amigo dos meus pais o mamute, era meu padrinho, digo era porque infelizmente ele faleceu a alguns anos atras e eu sinto muita falta dele, mas votando ao foco. Comecei o tratamento e a primeira fase foi o neurologista, infelizmente o autismo não é algo que se vê em um exame de sangue, para se diagnosticar o autismo é feito uma avaliação clínica, que envolve a observação do comportamento da pessoa, entrevistas com familiares e, em alguns casos como o meu, foi aplicado escalas e instrumentos específicos para avaliar o desenvolvimento e comportamento do meu cérebro. Fiz vários exames, como tomografia, sangue, a o de sangue não era pra identificar nada da condição do TEA, mas sim porque autistas normalmente desenvolver alergias e algumas outras coisas que intensifica a nossa condição e com o exames de sangue o medico consegui avaliar, por exemplo, eu tenho alergia a corantes vermelhos, a farinha branca e banana e leite de vaca seja ele com ou sem lactose, me deixa com quadros infecciosos mais graves, tipo se eu tiver gripada e eu tomar muito leite e comer banana eu posso ficar mais dias gripada, ou ficar com uma gripe mais forte, é não foi fácil para mim, muito menos para os meus pais, até porque o grau de suporte que eu tinha também era necessário de uma moderada rede de apoio, já que eu tinha algumas dificuldades significativas na comunicação e interação social, além de comportamentos restritivos como não querer ficar perto de ninguém, as vezes eu não queria nem a minha mãe perto, a mas como eu sei? Bom muitas coisas meus pais me contaram, mas uma delas eu não esqueço e nunca vou esquecer, as vezes eu me fechava para o mundo e para as pessoas nele, mas tinha uma pessoa para qual eu nunca me fechei, não gente não era a minha mãe... tales é o eu melhor amigo, meu confidente, minha base, meu porto seguro, aonde eu sempre me senti bem e protegida, em meio a tantas crises que eu já tive quem me acalmava era ele e eu amo muito ele por isso e por ser o amigo que ele é até hoje. Teve uma época que eu tinha muitas crises e quando isso acontecia eu fazia muitos movimentos repetitivos como ficar rodando sem parar até passar m*l, tenho trauma disso até hoje e em todos esses momentos tales estava comigo, muitas coisas limitaram a minha família como por exemplo, eu tinha muita dificuldade em iniciar ou manter conversas, ficar com muitas pessoas, interpretar expressões faciais e compreender algumas mudanças na linguagem, claro cada pessoa é diferente da outra, tinha crianças no mesmo nível que eu mas que tinha mais sensibilidade em uma coisa do que na outra, eu tinha uma junção de tudo e só não fui para o nível três de suporte, porque eu ainda falava algumas coisas e entendi aos comandos, e por ter tantas limitações eu limitava a minha família também, meus pais sempre me deram amor, atenção, carinho, nunca tiveram vergonha de mim, sempre me deram o melhor tratamento e mesmo com três, quatro anos de idade que eu não queria eles por perto só querendo o tales, eles respeitavam e me trazia aquele que coloca a minha mente no lugar. Eu já passei por muitas coisas na minha vida, uma batalha interna diária que eu vivo até hoje, não estou curada, pois autismo não tem cura, ele tem tratamento e se fizer certinho é possível evoluir e se tornar uma pessoa como qualquer outra, não que eu não fosse, mas quando mais nova dependia dos meus pais para tudo e hoje em dia não mais e consegui chegar em um nível que eu até os meus dez, onze anos nunca pensei em chegar. Meu tratamento foi intenso, terapias diárias que faço até hoje, não todos os dias porque não é mais necessário, mas faço duas vezes por semana ainda, a escola, a família, os amigos tudo ao meu redor me ajudou a superar os obstáculos e assim fui conseguindo evoluir e quando a minha mente se estabilizou eu passei a ter o hiper foco, tudo que eu gostava eu focava só naquilo e fazia como ninguém e meu foco passou a ser na escola e os estudos que era pra eu terminar com dezessete ou dezoito anos eu terminei com quinze, porque a direção da escola disse que eu estava quase ensinando os professores. O lado bom do autista é que aprendemos as coisas muito fácil quando o cérebro está em ordem, temos uma inteligência um pouco superior a das pessoas sem a nossa condição, então quando eu terminei os estudos eu foquei no que eu queria ser e hoje eu estudo para me tornar advogada criminalista, estou no ultimo ano da graduação e depois farei mais dois anos pra me especializar e eu estou muito feliz, mas também estou tendo muitas crises, estou com um trabalho para entregar, ai estou tentando focar desde o inicio da semana mas não consigo, estão fazendo uma obra cinco casas a frente da minha, mas o barulho que chega na minha mente, faz eu pensar que a construção está sendo aqui dentro de casa, cada marretada que eu estuco é como se dessem na minha cabeça e isso me desestabilizou a semana toda e hoje eu cheguei no meu limite, tanto que estou com a casa toda fechada, dentro do meu quarto com algodão no ouvido e as mãos tampando eles e ainda sim escuto o barulho e isso porque nós autistas somos mais sensíveis a sons, não são todos, mas alguns são e muito, eu não sou sempre, mas quando acontece é algo que me tira de orbita. Giro para um lado e para o outro na cama, sinto as lagrimas descendo pelo meu rosto e tento fazer a minha mente focar em outra coisa, quando essas coisas acontecem eu não consigo pensar em nada que me faça voltar ao foco e hoje estou sozinha em casa, então é mais uma batalha que eu tenho que eu vou ter que lutar sozinha. Me ajoelho no chão, deito a minha cabeça na cama e começo a bater ela no colchão de leve, a intenção é focar nos movimento e não no som, mas isso me faz chorar mais e meu coração acelera. Escuto uma música começar a tocar e logo sinto as minhas mãos sendo tiradas dos meus ouvidos e o fone tocando a música ‘um mundo ideal’, do desenho do Aladim, toma o lugar delas, olho para trás sabendo quem está aqui e sorrio em meio as lagrimas, ele me conhece como ninguém e eu o amo por isso, tales me abraça e me nina e sempre braços até eu me acalma e consegui falar com ele. AMORES ESPERO QUE ESTEJAM GOSTANDO, VOLTO LOGO COM MAIS CAPITULOS.
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