SABRINA NARRANDO
Eu não mereço essa vida, não sou a melhor pessoa do mundo, mas também não sou a pior. Só faço o que eu gosto e o que eu tenho que fazer para sobreviver, mas nunca passei por cima de ninguém até hoje.
Eu me chamo Sabrina, tenho vinte e três anos, sou morena, tenho um metro e setenta de altura. Meus cabelos são castanho claro, mas hoje em dia estão mais para o loiro devido às luzes que eu faço.
Bom, eu sou nascida e criada na favela de Paraisópolis. Todos os meus amigos e amigas estão aqui dentro, e não são muitos. Minha mãe morreu quando eu tinha quinze anos. Ela teve um infarto depois de uma briga muito feia com o meu pai. Odiei ele por isso e odeio até hoje, mas eu não tenho como me sustentar sozinha. Por isso vivi com ele até hoje, mas para mim não dá mais. Ou eu saio da casa dele ou eu acabo morrendo... ou acabo matando ele.
Meu pai é alcoólatra, do tipo que agride tanto física como verbalmente, fora quando ele tenta fazer gracinhas, dizendo que estou ficando gostosa, que devo fazer os homens felizes. Não n**o, dou para vários, cobro de alguns, mas nunca fui pega à força, e eu tenho medo de meu pai fazer isso. No entanto, eu chego em casa e me tranco dentro do meu quarto, não querendo sair nem para ir ao banheiro. Mas não tem como, né? Tenho que tomar banho, usar o banheiro, e por isso preciso sair. Mas, se não fosse isso, ficaria presa no meu quarto o tempo todo que estivesse em casa.
Minhas amigas aqui no morro são a Jackeline e a Tamires; as duas são as que eu mais converso. São duas piranhas, mas são minhas piranhas, kkk. De homem, não tenho amigos — são mais conhecidos mesmo e os que eu fico. Mas o melhor deles, em dúvida, é o Tales. Hoje em dia é conhecido como macabro e só podendo ser chamado assim; o filho da p**a é gostoso demais. Tem uma oponência só na postura dele, e eu me perco quando ele me chama para nós transarmos. Fora que ele é o que paga melhor. Meu sonho é ter ele todo só para mim, mas tem um ser inotável e sem atrativo algum que está no meu caminho: Alicia.
Alicia sempre foi a atenção principal do macabro, sempre ela que teve ele todo para si mesma. Todos falam que ela é especial, que tem autismo e tal, mas eu não acredito em nada. A mina trabalha com os pais muitos dias da semana, faz faculdade e os c*****o, sempre foi a melhor na escola, acabou os estudos até antes do tempo e vem com essa de ter problema? Problema tenho eu com o merda de pai que tenho. Para mim, ela só se faz para poder prender o macabro, mas eu ainda vou ter ele, mesmo que eu tenha que passar por cima dessa sem graça da Alicia.
Hoje o dia começou uma merda e eu precisava fazer mudar. Acordei com o meu pai derrubando a minha porta, e o que eu temia aconteceu: ele tentou me agarrar no quarto, tentou me abusar, e eu caí na porrada com ele, mas como ele é mais forte, eu quase saí perdendo. Só não perdi porque fui ligeira e consegui fugir, mas quase fui atropelada pelo gostoso do macabro. Mas isso serviu para ele me ver e ver como eu estava. Vi a sem-graça no carro, e isso me deixou com raiva, mas não toquei no nome dela. Só disse para o macabro que precisava de ajuda, e ele disse que ia ver a casa para mim. Mas você foi me encontrar? Porque ele mesmo não foi! Então eu subi o lado mais alto da favela para ir ao encontro dele. Tive que mentir para os vapores me deixarem chegar pelo menos no portão. Quase apanhei por isso, mas como eu disse que estava com o macabro, me deixaram chegar ao menos no portão. Mas para quê? Para o macabro acabar comigo e me mandar ralar para resolver com o marreta, que é outro gostoso. Mas o marreta me dá menos medo que o macabro, então eu só segui para a boca mesmo.
Depois que eu quase fui atropelada pelo Macabro, fiquei na rua, mas quando deu a hora de me arrumar para o pagode, tive que ir para casa. Quando cheguei, meu pai não estava. Então corri para o meu quarto, peguei minhas coisas e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido, voltei para o quarto para me arrumar, e, quando estava quase pronta, ele chegou. Dessa vez, ele me bateu. Achei que não escaparia, mas, mais uma vez, consegui fugir.
Eu sabia que, desta vez, não poderia voltar para casa, mas também não posso contar a ninguém o que ele fez. Se eu contar, não terei mais motivos para apresentar queixas para fazer ao Macabro. ai o jeito seria apenas esperar que ele me chame, mas eu não quero ter que esperar por ele.
Chego na Boca quase junto com o Marreta, e ele me olha sério. Não falo nada, só o sigo como ele manda com a cabeça. Mas não vamos na direção das salas e, sim, para o caminho da salinha, que eu sei que é feita as cobranças. Como sei? Já dei para o macabro aqui dentro; não é um lugar agradável, mas já vim algumas vezes aqui relaxar ele depois de uma cobrança. O f**a foi ele me comer com o morto no chão ainda, mas tudo está valendo para ele me ver como a mulher certa para ele, sem tempo r**m.
SABRINA - O que estamos fazendo aqui? _ pergunto e ele sorri de lado.
MARRETA - Como chegou até o portão do chefe? _ pergunta e eu estou ligada que os vapores disseram para o Marreta como cheguei lá em cima.
SABRINA - Eu precisava falar com ele, vim aqui e ele não estava, era a única forma de pedir ajuda. _ falo e ele n**a.
MARRETA - Eu estava aqui perto e acessível, Martelo e Prego também, se subiu a favela foi porque quis, porque não tem medo de cobrança e parabéns conseguiu o que queria. _ ele fala e eu penso em correr, mas sei que não adianta.
SABRINA - Qual é a cobrança? _ pergunto e ele me olha e pega a ripa de madeira molhada.
MARRETA - Vinte nas pernas. _ fala e eu engulo seco e concordo, não posso meter o louco.
SABRINA - Está bom, sei que errei. _ falo e ele me olha meio surpreso - Mas conseguiu uma casa para mim? Não posso voltar para minha de verdade. _ pergunto e falo, Marreta concorda e eu sento na cadeira sentindo o meu corpo tenso e logo sinto a primeira madeirada, seguida da segunda, terceira e assim por diante.
As madeiradas foram precisas, com força, e não sei como não quebrou uma das minhas pernas, mas fico feliz por não, já que agora preciso me virar para morar sozinha.
MARRETA – A casa é a cinco da rua vinte. _Ele fala de uma casa perto do campo onde são feitos os bailes – O aluguel é quatrocentos por mês, quinze dias para pagar o primeiro, todo dia vinte é o vencimento, se não tiver já sabe aonde vai vir parar. _ Ele fala, e eu concordo – Mete o pé, a chave está porta da casa. Só concordo e saio da boca quase sem conseguir andar, mas me esforço e sigo o caminho para a casa que agora vai ser meu recomeço, e vai ser o recomeço.
VAMOS LÁ AMORES, BATER A META DO PRIMEIRO CAPÍTULOS PARA RECEBER MAIS DOIS CAPÍTULOS.