Há dias sinto o sangue latejar nas têmporas, como se uma bomba tivesse sido instalada atrás dos meus olhos. Passo pelos corredores de vidro da Müller Holdings sorrindo para secretárias, distribuindo “bons‑dias”, mas por dentro só ouço a contagem regressiva. Tic‑tac, tic‑tac. Quando explodir, quero estar segurando o espólio que sempre foi meu. Meu avô, Aristóteles Müller, criou um império — hotéis, logística, bancos de investimento — e dois filhos: Régis, o boêmio inconsequente, e Légolas, o primogênito devoto ao trabalho. Sou, oficialmente, filhoo de Régis. Mas minha mãe jurou, no leito de morte, que Légolas era o meu pai biológico. Contei isso a ele quando tinha quinze anos. Légolas sorriu com compaixão, bagunçou meu cabelo e disse que “o sangue não muda o destino”. Tradução: nada de açõ

